Todos os direitos reservados @ Fausto Castelhano, "Retalhos de Bem-Fica" (2013)
(por Fausto Castelhano)
(por Fausto Castelhano)
O fascínio pela esbelta e tão singular casa encantada da Quinta dos Lilases permaneceu incólume no nosso imaginário transcorridas que foram tantas e tantas décadas, quando em criança e pela primeira vez, vislumbrámos o encantador edifício que logo nos impressionou sobremaneira e, a partir desse tempo já bastante recuado, exerceu sempre uma irresistível atracção que jamais se desvaneceu com o rolar dos anos…
O singular edifício de arquitectura romântica dos finais do século XIX e princípio do século XX da Quinta dos Lilases.
(Foto de “Um olhar sobre o Património” dos alunos da Escola Secundária Seomara da Costa Primo)
Chalé de arquitectura romântica edificado na transição dos séculos XIX e XX, a esplêndida silhueta pontiaguda da sedutora mansão destacava-se por entre as ramagens de árvores ornamentais ou de fruto, arbustos e flores da Quinta dos Lilases.
A Quinta dos Lilases desenvolvia-se em vários patamares a partir da Estrada Militar ou Estrada da Circunvalação (situada a um nível bastante superior) e a Estrada dos Salgados.
Foto de Fausto Castelhano (2012)
Qual seria a agradável sensação de usufruir de uma tal moradia que logo nos desvanecia quando a mirávamos ao longe e dando-nos a imediata percepção de emergir d’um verdadeiro conto de fadas?
Estrada Militar (Estrada da Circunvalação) sobranceira à Quinta dos Lilases e bastante próximo do cruzamento da Calçada do Tojal / Estrada dos Salgados.
Foto de Fausto Castelhano (1996)
Herdade bastante antiga de média dimensão, a Quinta dos Lilases desenvolvia-se em patamares entre a Estrada dos Salgados e os taludes de protecção da Estrada Militar (Estrada da Circunvalação), cujo trajecto acompanhava os altos e robustos muros do Cemitério de Benfica) situada a um nível bastante superior em relação à área da propriedade…
Mós de azenha da Quinta dos Lilases adaptados em degraus de escadarias ou mesas de habitação anexa na propriedade.
(in “Um olhar sobre o Património” dos alunos da Escola Secundária Seomara da Costa Primo)
Supõe-se que, em tempos bastante remotos, a Quinta dos Lilases teria acolhido na sua superfície uma azenha movida, provavelmente pela correnteza duma linha d’água que atravessava o espaço da herdade ou moinho de vento tão tradicional na região saloia, uma vez que foram descobertas ruínas de estrutura edificada e várias mós em pedra que, mais tarde, foram adaptadas a degraus de escadarias e mesas de habitação anexa.
Extracto da Carta Militar de 1.949 do Instituto Geográfico do Exército. Quinta dos Lilases (amarelo/tracejado). Cruzamento do Caliça (1); Estrada dos Salgados (2); Estrada Militar/Estrada da Circunvalação (3); Calçada do Tojal (4); Rua Cláudio Nunes (5); Rua dos Arneiros, antiga Travessa dos Arneiros (6); Estrada dos Arneiros (7).
O portão de entrada da herdade localizava-se no começo da Estrada dos Salgados (lado direito) ou seja, no prolongamento do termo da Calçada do Tojal e após o cruzamento com a Estrada Militar ou Estrada da Circunvalação, local conhecido por “Sítio do Caliça” ou “Cruzamento do Caliça” (1), o qual, ainda na década de 40 do século XX, continuava sob vigilância militar, embora já bastante atenuado, exercido por elementos do Regimento de Engenharia 1 aquartelados na Pontinha, mormente sobre o trânsito rodoviário.
Oliveiras da antiga Quinta dos Lilases.
Foto de Fausto Castelhano (2012)
Próximo, precisamente no lado esquerdo da Estrada dos Salgados (2) existiu o famoso Retiro do Caliça, um dos locais históricos onde o Fado se assumia como atractivo incontornável (além de saborosos petiscos e vinhos das melhores procedências e sobretudo, animação a rodos e saudável convívio), a par dos Retiros das “Pedralvas”, o conceituado “Ferro de Engomar” (Cruz da Pedra) e “O Bacalhau” (à entrada da Venda Nova) e, acima de todos e a muito larga distância, o chiquérrimo “Charquinho”.
Terrenos e algumas oliveiras da antiga Quinta dos Lilases. Em segundo plano, os prédios de Alfornelos, Urbanização da Colina do Sol.
Foto de Fausto Castelhano (2012)
A abundância de água de nascente e poços abertos nos férteis solos da propriedade, encaminhada através de um sistema bem elaborado e eficaz de regueiras, canais e tanque de retenção de água em pedra trabalhada, proporcionava a irrigação de exuberante horta onde se cultivavam variadas espécies de leguminosas, além de árvores de fruta, olival e uma modesta área de milho de regadio. A população das redondezas beneficiava grandemente dos produtos produzidos na Quinta dos Lilases e abastecia-se directamente no próprio local.
A via rápida CRIL/IC17 esventrou totalmente o espaço onde estava implantada a Quinta dos Lilases.
Foto de Fausto Castelhano (2012)
A plantação de flores de esmerada qualidade e sempre com clientela segura, tirando partido da proximidade do Cemitério de Benfica quando, regularmente, amigos e familiares visitavam os entes queridos ali sepultados resultava, também, numa óptima fonte de rendimento.
Actualmente irreconhecível, local onde existiu a encruzilhada da Estrada Militar com a Estrada dos Salgados, o “Sítio do Caliça".
Foto de Fausto Castelhano (2012)
Os proventos da herdade completavam-se, ainda, tanto na venda de leite proveniente de vacas leiteiras, como de ovos, criação de bico (patos e galinhas) e coelhos, fruta, etc. A engorda de suínos para uso exclusivo ou ainda destinada a abate para consumo geral, assegurava um certo desafogo aos detentores ou arrendatários da propriedade.
Renque de oliveiras da antiga Quinta dos Lilases.
Foto de Fausto Castelhano (2012)
Varridas da paisagem rural da Alfornelos nos primórdios do século XXI, freguesia na qual estava integrada, a Quinta dos Lilases e a bela casa encantada deixaram de existir: demolidas, trituradas e engolidas pela brutal e avassaladora invasão da CRIL/IC17, o soberbo panorama que dali se avistava e que tanto nos extasiava o olhar, esfumou-se num ápice e encontra-se irreconhecível.
Panorâmica de Alfornelos e arredores obtida d’um local que desapareceu com a construção da CRIL/IC17.
Foto de Fausto Castelhano (2007)
E nem o marco geodésico que encimava uma das colinas de Alfornelos (e onde o João Tomás se empoleirou) logrou escapar ao avanço da CRIL/IC17.
Foto de Fausto Castelhano (2007)
Uma das últimas imagens da paisagem rural de Alfornelos antes da construção da CRIL/IC17.
Foto de Fausto Castelhano (2000)
Foto de Fausto Castelhano (2000)
Alertado in extremis presenciei, absolutamente impotente e coração despedaçado na companhia de alguns bons amigos, a mais um dramático acontecimento que não deixou ninguém indiferente.
O encantador chalé da Quinta dos Lilases, recentemente destruído na sequência da construção da CRIL/IC17.
Foto do Blogue AlunosSeomara
Actualmente restam, apenas, alguns espaços dispersos da antiga Quinta dos Lilases e meia dúzia de oliveiras… Não obstante, e agora num cenário profundamente alterado, basta cerrar os olhos por alguns momentos e um pouco de concentração mental, que logo se projectam, geradas num qualquer ponto da massa cerebral, os contornos nítidos do mítico local que a vertigem do tempo apagou do horizonte…
O núcleo populacional da Freguesia de Alfornelos (Colina do Sol) transformado numa ilha cercada de vias rápidas por todos os lados: a célebre Montanha Russa de Alfornelos.
Foto Wikipédia
Assim, acautelados por manhosos estudos de impactos ambientais e projectos de rodovias absolutamente absurdos e alterados a belo talante pelas entidades (in) competentes e quejandos, a Freguesia de Alfornelos acordou subitamente conspurcada e convertida numa autêntica ilha cercada por um emaranhado de vias rápidas por todos os lados…Viadutos e desvios, escadas e escadinhas, túneis ou valas a céu aberto, curvas e contracurvas, rotundas perigosas em que o trânsito rodoviário, em determinadas horas de ponta, se tornou caótico na barafunda do sobe-e-desce num circuito arrepiante onde os múltiplos acidentes diários são uma constante assustadora: a já célebre Montanha Russa de Alfornelos…
Os registos da presença humana no lugar de Alfornelos (Alfornel) perdem-se no tempo, nomeadamente desde a conquista da cidade de Lisboa no ano de 1147 aos mouros e quando os “moçárabes” (e os “mouros forros”, através de “foral” de 1170) puderam continuar a viver nas terras do Termo.
É muito provável que o nome de Alfornelos (Alfornel) tenha a sua origem no espaço essencialmente rural onde está inserido (e onde o cultivo de cereais predominava), o qual provém da expressão moçárabe Al-Forner, que significa forneiro, aquele que coze pão.
Existe documentação, pelo menos desde 1220, e que refere o lugar de Alfornel (Alfornelos) como fazendo parte da Freguesia de Benfica, tal como sucede n’algumas anotações relativas aos séculos XIV, XV e XVI.
O cura João Lima em 1680 também menciona a localidade e, no ano de 1712, o padre António Carvalho da Costa descrevia os vários lugares que compunham a Paróquia de Benfica nestes termos: “…Bom Nome, Correia, onde estão duas casas que lhe chamam da Costa, Alfornel, Penedo que é um casal que fica no alto do mesmo lugar”… E um pouco mais à frente, o padre António Carvalho da Costa continua: “E da banda esquerda, vindo da Porcalhota para a igreja, fica a Venda Nova, e da mesma parte outra quinta que chamam o Salgado, e junto a ela estão umas casas que chamam Montinel; e caminhando-se para a igreja, antes de chegar a ela, estão duas casas, que chamam de Vale de Tereza, e defronte outras duas que chamam o Tojal”.
Em 1758, também o cura João da Matta faz especial referência ao lugar de Alfornel (Informação paroquial arquivada no Dicionário Geográfico, Vol.VI, a fls. 661). Segundo os registos do Livro das Almas da Paróquia de Benfica, o número de fogos existentes em Alfornel evoluíram do seguinte modo: 1703 (12); 1790 (17); 1834 (11); 1856 (9); 1884 (9).
Com a Reforma Administrativa de 1855 e os novos limites da Cidade de Lisboa, as povoações situadas além da Estrada Militar (Estrada da Circunvalação (extra/muros), serão absorvidos por concelhos vizinhos. Assim aconteceu com o lugar de Alfornelos: será integrado nos concelhos de Oeiras (1885), Sintra (1895) e em 1898, novamente, Oeiras até ao dia 11 de Setembro de 1979, aquando do nascimento do Concelho da Amadora, onde ficará incluído na área da Freguesia da Brandoa composta pelos seguintes aglomerados populacionais: Brandoa, Azinhaga dos Besouros, Casal de Alfornelos, Rua de Alfornelos, Urbanização de Alfornelos (Colina do Sol), Quinta da Lage e Bairro 11 de Março.
Alfornel, Alfornelos
Os registos da presença humana no lugar de Alfornelos (Alfornel) perdem-se no tempo, nomeadamente desde a conquista da cidade de Lisboa no ano de 1147 aos mouros e quando os “moçárabes” (e os “mouros forros”, através de “foral” de 1170) puderam continuar a viver nas terras do Termo.
É muito provável que o nome de Alfornelos (Alfornel) tenha a sua origem no espaço essencialmente rural onde está inserido (e onde o cultivo de cereais predominava), o qual provém da expressão moçárabe Al-Forner, que significa forneiro, aquele que coze pão.
Existe documentação, pelo menos desde 1220, e que refere o lugar de Alfornel (Alfornelos) como fazendo parte da Freguesia de Benfica, tal como sucede n’algumas anotações relativas aos séculos XIV, XV e XVI.
O cura João Lima em 1680 também menciona a localidade e, no ano de 1712, o padre António Carvalho da Costa descrevia os vários lugares que compunham a Paróquia de Benfica nestes termos: “…Bom Nome, Correia, onde estão duas casas que lhe chamam da Costa, Alfornel, Penedo que é um casal que fica no alto do mesmo lugar”… E um pouco mais à frente, o padre António Carvalho da Costa continua: “E da banda esquerda, vindo da Porcalhota para a igreja, fica a Venda Nova, e da mesma parte outra quinta que chamam o Salgado, e junto a ela estão umas casas que chamam Montinel; e caminhando-se para a igreja, antes de chegar a ela, estão duas casas, que chamam de Vale de Tereza, e defronte outras duas que chamam o Tojal”.
Em 1758, também o cura João da Matta faz especial referência ao lugar de Alfornel (Informação paroquial arquivada no Dicionário Geográfico, Vol.VI, a fls. 661). Segundo os registos do Livro das Almas da Paróquia de Benfica, o número de fogos existentes em Alfornel evoluíram do seguinte modo: 1703 (12); 1790 (17); 1834 (11); 1856 (9); 1884 (9).
Com a Reforma Administrativa de 1855 e os novos limites da Cidade de Lisboa, as povoações situadas além da Estrada Militar (Estrada da Circunvalação (extra/muros), serão absorvidos por concelhos vizinhos. Assim aconteceu com o lugar de Alfornelos: será integrado nos concelhos de Oeiras (1885), Sintra (1895) e em 1898, novamente, Oeiras até ao dia 11 de Setembro de 1979, aquando do nascimento do Concelho da Amadora, onde ficará incluído na área da Freguesia da Brandoa composta pelos seguintes aglomerados populacionais: Brandoa, Azinhaga dos Besouros, Casal de Alfornelos, Rua de Alfornelos, Urbanização de Alfornelos (Colina do Sol), Quinta da Lage e Bairro 11 de Março.
Brasão de Armas da Junta de Freguesia de Alfornelos.
(in site da Junta de Freguesia de Alfornelos)
Em 1911, o lugar de Alfornel (Casal de Alfornel) já se encontrava ocupado por 32 habitantes, facto que poderá ser considerado o primitivo núcleo urbano do local. Pouco a pouco, o espaço rural (áreas de cultivo de cereais e quintas), vai sendo substituído por diversas habitações. Assim, nas últimas quatro décadas assiste-se a um incremento massivo na construção de prédios de habitação onde residem, actualmente, um número superior a 10.000 habitantes.
O lugar de Alfornelos adquire autonomia administrativa apenas em 1997, com a criação da Freguesia de Alfornelos e resultou da cisão de parte do território da Freguesia da Brandoa.
No plano geográfico, Alfornelos encontra-se situado nos limites do Concelho da Amadora e encontra-se confinado com os concelhos de Lisboa e Odivelas.
Alfornelos, cujo principal aglomerado populacional é conhecido por Colina do Sol (designação dada pelo construtor da urbanização), alberga no seu espaço territorial várias instituições e equipamentos dignos de menção, além de zonas verdes, tais como jardins, praças ou pracetas:
O Centro Social e Paroquial e a respectiva Igreja; o Centro de Saúde que permite o atendimento, mais próximo da comunidade; Escolas; Equipamentos Colectivos Desportivos e Culturais onde se destaca o Auditório de Alfornelos (Teatro Passagem de Nível); Esquadra de Polícia de Segurança Pública e edifício da Junta de Freguesia com os respectivos serviços de apoio aos cidadãos.
Aberta ao público em 15 de Maio de 2.004, a Freguesia de Alfornelos é servida pela Linha Azul do Metropolitano de Lisboa com estação própria localizada entre as estações da Pontinha e Amadora-Este (Falagueira).
Várias carreiras de Transportes Públicos da LT interligam Alfornelos a outras localidades ou Estações do Metropolitano de Lisboa.
A antiquíssima e tradicional Festa das Ervas da região saloia vem de tempos muito antigos e ocorria no terceiro Domingo do mês de Maio. Arrastava verdadeiras multidões que animavam os campos do lugar de Alfornel numa autêntica romaria do mundo campestre.
A “Festa das Ervas” de Alfornel
A antiquíssima e tradicional Festa das Ervas da região saloia vem de tempos muito antigos e ocorria no terceiro Domingo do mês de Maio. Arrastava verdadeiras multidões que animavam os campos do lugar de Alfornel numa autêntica romaria do mundo campestre.
A Festa das Ervas de 19 de Junho 1898 mencionada no livro de Gabriel Pereira “Pelos subúrbios e vizinhanças de Lisboa”.
Foto extraída do livro “Pelos subúrbios e vizinhanças de Lisboa”
Os forasteiros apetrechavam-se com os seus farnéis devidamente aviados, comiam, bebiam, cantavam e dançavam e, em esfusiante clima festivo e de confraternização, espalhavam-se pelos campos de Alfornel na colheita de plantas medicinais com que preparavam os remédios e as mezinhas caseiras, tomando por base as receitas e os “saberes” de povos ancestrais e transmitidas ao longo de gerações.
Aos poucos, a Festa das Ervas e Plantas Medicinais de Alfornel foi perdendo influência e, tal como é referida nas pág. 97 e 98 do livro de Gabriel Pereira “Pelos Subúrbios e vizinhanças de Lisboa”, a decadência foi de tal modo que no ano de 1.898, a popular festa já se encontrava-se em pleno e irreversível declínio e pressentia-se, a curtíssimo prazo, a sua completa extinção…
Notas:
1 - Encruzilhada do Caliça
O cruzamento da Estrada Militar (Estrada da Circunvalação) com a Estrada dos Salgados/Calçada do Tojal encontrava-se controlado, permanentemente, até finais dos “anos 40” do século anterior, principalmente ao trânsito rodoviário (sujeito a multa), por Forças do Exército do Quartel do Regimento de Engenharia 1 da Pontinha.
Estrada da Pontinha, Estrada Militar, autocarro da Carris e Quartel do Regimento de Engenharia 1.
Foto de Artur Goulart, 1960 - in Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa
2 - A Estrada doa Salgados
Permitia a ligação directa e fácil entre a Amadora (antiga Porcalhota) e a parte alta da Freguesia de Benfica (Tojal, Arneiros), além de outros locais como Poço do Chão, Carnide, Pontinha, etc.
A Estrada da Brandoa que partia da Estrada dos Salgados. Em segundo plano, o cabeço e algumas habitações da Brandoa.
Foto de Gil Carlos, anos 60 do século XX
A Estrada dos Salgados entroncava, ainda, com as vias de ligação aos lugares de Alfornelos e Brandoa.
*** O autor não respeita as normas do Novo Acordo Ortográfico
Que bom trabalho se vai deixando neste este blogue. Realmente a história de Benfica tem sempre este toque sublime que é a fronteira entre o campo e a cidade. Era essa a sensação que sempre tinha quando nos meados de 60, pela mão da minha Mãe, nos íamos abastecer de legumes e fruta, numa Quinta perto do Cemitério (que provavelmente era esta aqui mencionada)....:-)
ResponderEliminarEra, certamente, esta quinta, a Quinta dos Lilases.(Fausto Castelhano)
ResponderEliminarAtravessava todos os dias da Venda Nova para a Cc do Tojal para ir, a pé, para a Esc. Pedro de Santarém. Recordo com saudade quando atravessava esse baldio, passar junto da casa onde estava instalado o SLB! Estavamos no pré Abril/74.
ResponderEliminarA antiga estrada militar que vinha desde as portas de benfica....fiz muitas vezes esse caminho a pé para irmos á feira da luz
ResponderEliminarBons tempos .
ResponderEliminarAdorei ler este artigo! Vim de Moçambique em 1977, com 10 anos de idade, e fui viver para a Quinta dos Lilazes com os meus pais e irmã. Nunca mais esqueci esse tempo, e as lembranças que tenho da Quinta estão sempre comigo. Havia um lindo caramanchão cheio de lilases, uma piscina, um moinho de vento, um jardim com mesas para merendas, a "casa encantada"... Que saudades! Era um lugar lindo, e foi com muita tristeza que soube da sua demolição. Sempre que vou ao cemitério de Benfica visitar os meus pais que lá estão enterrados, sinto uma emoção enorme perante a falta da Quinta. É como se faltasse um pedaço ao mundo. Mas pronto... é o progresso. Que se pode fazer?
ResponderEliminarDe qualquer forma, muito obrigada por este artigo! Há muito tempo que não lia, nem ouvia falar nada sobre a Quinta dos Lilases. Bem haja!
Não me diga que morava ao lado do Jaime e da Fernanda também fui nascido e criado na quinta dos lilases um bem haja
EliminarObrigada por este resgate de memória. Também eu faço parte dos que guardam uma feliz memória da Quinta dos Lilases. Frequentava a Quinta regularmente depois da escola entre 1978 e 1981. Lembro-me da dona Maria, uma senhora muito afável que vivia numa pequena casa à entrada no lado direito. Do lado esquerdo da entrada havia um velho moinho de bombagem. Creio recordar que também do lado esquerdo, um pouco mais abaixo, havia um salão de festas. Passada a entrada, uma ladeira conduzia ao centro da Quinta, do lado esquerdo da ladeira havia algumas casas (ou talvez só uma), onde viviam crianças com as quais brincava – lembro-me que eram um pouco mais velhas do que eu, que tinha na altura entre 6 a 9 anos. Do lado direito encontrava-se um enorme jardim – pelo menos para os meus olhos de criança – com canteiros dispostos de maneira regular e com um caramanchão no meio. Lembro-me de estar em cima de um muro, que deveria separar esse jardim das zonas de produção, e sentir o cheiro dos lilases, que davam nome à Quinta. Se bem me lembro, sempre nos diziam não ir a essa zona que imagino hoje de produção agrícola, mas lembro-me de um tanque que aí havia (devo de ter transgredido a proibição) onde se produzia cal e creio, mas não tenho certeza, um curral – ou algo semelhante – abandonado.
ResponderEliminarAo fundo do jardim estava a Casa Encantada, como lhe chamou Glória nos comentários. Recordo também que assim a chamávamos e dávamos largas à imaginação, criando histórias de espíritos deambulando pela casa. Acho que entrei alguma vez, porque aí viviam duas irmãs gémeas, com as quais brincávamos, mas não me recordo do aspeto da casa. Do lado que daria hoje à CRIL, através de umas pequenas entradas podia passar-se do jardim para o pomar, onde passávamos muitas tardes a comer laranjas. Também aí um grupo de amigas fundámos um clube, daqueles com senha secreta e assinaturas a sangue – influência das primeiras incursões literárias da mão dos Cinco… Não durou muito o clube. Havia também animais. O que mais me marcou era um bode, que de vez em quando subia a ladeira, semeando pânico geral. À entrada da Quinta havia uma pequena mercearia, onde se provavelmente vendiam os produtos da Quinta.
Nascida em Lisboa e sem casa na “terra”, esta Quinta oferecia-me um contacto privilegiado com a natureza. Aqui aprendi o nome e o cheiro dos lilases e a reconhecer os frutos das árvores. Sofri o mesmo choque que todos quando quis mostrar este oásis aos meus filhos há uns anos atrás e deparei com a autoestrada. Agora, para além das memórias de infância, ficam algumas perguntas. De quem seria a Quinta? Porque estava abandonada? Não havia “senhores” na Quinta, mas sim pessoas simples que – imagino – tenham encontrado nas suas casas abandonadas uma habitação acessível em tempos precários. Teria sido a Quinta expropriada nos anos de “reforma agrária” ou teriam os proprietários abandonado o país na época de nacionalizações? Fausto, conseguiu encontrar alguma informação sobre a história?