(por Alexandra Carvalho)
Fotografias de Alexandra Carvalho (2014)
Saiba, antes de mais, que a sua gata durou, ainda, 3 meses!...
Três tristes e muito sofridos meses, desde que violentamente a abandonou, num dia de muita chuva e frio, com a sua caminha e um saco de ração, na referida colónia de gatos de rua.
Nos primeiros tempos, a sua gata viveu empoleirada em cima de uma figueira (o que fez com que o cinzento do seu pêlo ganhasse tons de castanho, queimado pelo sol), com muito medo do novo espaço aberto ao qual se viu votada, depois de ter conhecido o carinho de um lar. Infelizmente, tal era o seu pânico que nem demos por ela, nos primeiros tempos, apesar de termos visto o que ali lhe deixou (foi pena que, de facto, não tivesse deixado, também, uma nota escrita, explicando qual o problema de saúde que o seu animal tinha… pois, muito tarde, demos por ele e teria sido bem mais simples se tivéssemos sabido de antecedência! Mas os cobardes fazem as coisas pela calada, e está mais visto que sempre se esteve borrifando para a sua gata!).
Depois, com o passar do tempo, a sua gatinha começou a aproximar-se de nós, todas as manhãs e tardes, roçando-se nas nossas pernas a pedir comida, como bom animal doméstico que era. Foi alimentada e acarinhada, apesar daquele não ser o seu local (e, já agora, o saco de ração que lhe deixou, nem para um mês chegou!).
Nas últimas duas semanas de Maio, começou a ter muita dificuldade de locomoção nas patas traseiras e dava dó vê-la, na sua magreza cadavérica, a andar tão devagar e com tanta dificuldade, tentando sobreviver a cada dia que passava, com as parcas forças que ainda tinha.
Tarde demais descobrimos que ela tinha um tumor mamário enorme, que infectara (o que a impedia de se movimentar correctamente) e que estava completamente infectada pela doença, apesar de sempre ter comido muito bem, ter um olhar esperto e até rosnar aos outros gatos da colónia.
Muito possivelmente, tudo isto nem sequer lhe interessa, pois, quem abandona um animal, normalmente, não tem sequer consciência, para que lhe pese, noites a fio, o acto desumano que praticou… e é, também, capaz de abandonar um qualquer familiar seu!
Quero que saiba que qualquer que tenha sido o motivo pelo qual abandonou a sua gata, não há desculpas possíveis para o acto perverso que praticou. E, muito sinceramente, se quer que lhe diga, só espero que a vida se encarregue de lhe dar a devida compensação pelo que fez a este animal e que, muito em breve, também, você sofra na pele o abandono dos seus filhos ou netos, num qualquer lar sem condições!
Lamento o tom com que me dirijo a si sem o/a conhecer, mas não deploro, de modo algum, o facto de estar a ser tão fria e vingativa nesta mensagem que agora lhe deixo, uma vez que depois de ter passado três dias doente de preocupação, ter perdido a minha 6ª feira à noite e o fim-de-semana à procura da sua gata, tentando apanhá-la para lhe dar um fim de vida digno (fosse ele a eutanásia ou o tratamento, caso este ainda fosse possível), e depois de tudo aquilo a que assisti hoje, é muito natural que, mesmo sendo contra a violência, se o/a senhor/a me aparecesse à frente, neste exacto momento, tivesse a devida resposta pelo que fez a este animal!...
Sabe, é que as 3 pessoas que protegem esta colónia de gatos de rua, em Benfica, não pertencem a nenhuma associação zoófila, não têm recursos ilimitados, nem são super-heróis, tendo tantos ou mais problemas financeiros e familiares do que você tem!...
São pessoas comuns que se preocupam e respeitam os restantes seres vivos, tentando, naquilo que está ao seu alcance, fazer o melhor possível para os ajudar!
Só para que saiba (não que isso lhe diga respeito, mas depois do que fez, merece ouvi-lo!), uma dessas pessoas, com mais de 70 anos, levanta-se todos os dias às 5h da manhã, há mais de 30 anos, vindo a pé do Bairro da Boavista, para alimentar gatos de rua; a segunda pessoa, tem uma Mãe com Alzheimer a quem tem que socorrer diariamente e horários complicadíssimos; e a terceira pessoa, apesar de ser considerada por muitos como “a maluquinha dos gatos” (por ainda pensar, ingenuamente, que consegue salvar todos os fracos e oprimidos deste mundo), trabalha das 9h30 às 18h, e, desde Dezembro, tem que dar um maior acompanhamento à sua família (faltando-lhe tempo para o que quer que seja de extraordinário). Para além disso todas estas pessoas têm os seus próprios animais domésticos e ainda encontram disponibilidade para os animais de rua ou de pessoas sem-abrigo, tendo, por isso mesmo, diversas contas pendentes de pagamento faseado em clínicas veterinárias.
Portanto, não me parece de todo correcto o que você fez (não só para a sua gata, como, também, para estas três pessoas comuns, que não pertencem a uma qualquer associação zoófila – que, também elas, associações, enfrentam, actualmente, os efeitos nefastos desta crise sócio-económica e, sobretudo, de valores, que nos afecta a todos... mas, pelos vistos, em termos de valores mais a uns dos que a outros!).
Se precisava de ajuda financeira para o tratamento do animal - e por isso abandonou a sua gata (o que, também, não é desculpa!), tivesse contactado a Casa dos Animais de Lisboa (Canil/Gatil Municipal de Lisboa) – Tel. 21. 817 23 00, ou a Junta de Freguesia de Benfica (Programa Cheque Veterinário), ou a Associação ANIMALIFE que apoia famílias carenciadas com animais domésticos a seu cargo...
Mas não tivesse “chutado o problema” para outras pessoas que, diariamente, passam tanto ou mais do que você!!!
Só para que saiba, depois de ter sido vista a última vez na passada 6ª feira à noite, e ter andado desaparecida desde então, a sua gata terminou os seus dias assim (como mostram as fotos abaixo), desfalecida debaixo de um carro estacionado, perto da colónia onde você a abandonou!... Tendo sido encontrada hoje, por volta da hora de almoço (depois de, durante dois dias, termos percorrido tudo, de lés a lés, à sua procura).
Estou certa que estas imagens não o/a afectarão, pois só alguém que não tem consciência abandona de uma forma tão fria outro ser vivo, como você fez (mas peço, desde já, desculpas aos demais leitores, que se possam sentir melindrados pelo teor das fotografias)...
Muito honestamente, se quer que lhe diga, apenas lamento por ela (pela sua gatinha) – e a ela devo as minhas desculpas, sem culpa alguma! -, por não ter, desta vez, conseguido chegar mais cedo… Não ter conseguido ter tempo, desde Fevereiro (porque me faleceu um familiar muito próximo), para a tentar capturar com a brevidade de que necessitava e lhe ter dado um final de vida digno, qualquer que ele fosse!
Quanto a si, e na esperança que venha a ler estas linhas, desejo-lhe um futuro tão repleto de dor quanto o que a sua gata viveu durante três meses!
E espero, sinceramente, que nunca mais adopte nenhum animal... porque, para isso, são necessárias responsabilidades e, sobretudo, saber respeitar outro ser vivo (e se não as tem ou sabe ter, mais vale não adoptar nenhum animal... e, já agora, nenhum ser vivo que seja)!!!
4 comentários:
Não é necessários mais comentários, Alexandra...
Tem muita razao no que diz mas, desejar a alguém, novo ou velho, o abandono por parte dos familiares, deixou-me farta de dúvidas, sobre o seu carácter!
Qual é mesmo a sua profissao, sociologa????
Também a minha mae, 82 anos, se levanta cedinho e vai dar de comer aos gatos que aparecem nos quintais das vizinhas e ninguém sabe de quem sao mas, nao deseja o abandono a ninguém. Pense bem no que escreveu!
Dona Maria:
Muito obrigada pelo seu conselho, mas mantenho tudo aquilo que aqui escrevi.
É porque, caso não saiba, quem faz isto a um animal, também o é capaz de fazer a uma pessoa. E, perante gente assim, desculpe lá a minha fraqueza humana, mas não consigo ter nenhuma compaixão (apenas podendo desejar que a vida ou a lei do Karma se encarreguem de lhe dar a devida retribuição por tal acto!).
Tenho pena que não tenha lido o meu texto na íntegra, ou que não tenha compreendido o seu conteúdo (já que foi mesmo a única pessoa a emitir um comentário deste género).
E, sinceramente, também me parece haver por aí uma qualquer confusãozita... Pois não compreendo de todo o que é que o meu carácter possa ter a ver com a minha formação profissional!...
Muitos parabéns à sua Mãezinha pela excelente atitude que tem!
Cuidar de indivíduos indefesos que são da nossa espécie (crianças, idosos, doentes) é instintivo e faz parte da moral social. O mesmo já não acontece quando esses indivíduos não pertencem à nossa espécie (mamíferos, aves, etc). Por isso, podemos dizer que o carácter das pessoas se revela na forma como tratam os animais, quando nada há a receber em troca e a própria sociedade pouca importância dá ao assunto. Pessoalmente sinto profundo desprezo por quem possa maltratar um animal.
Quanto ao seu texto, jamais será lido por quem seja capaz de abandonar um animal. É demasiado longo e por isso limitar-se-à a ler o título e a encolher os ombros. A sua mensagem deveria ser muito curta e incisiva.
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