Por Domingos Estanislau
(Presidente do Clube Futebol Benfica - 'Fófó').
"Sou um adoptado.
Nasci em Ferragudo, Concelho de Lagoa, Distrito de Faro. Sou portanto um algarvio e não renego a satisfação de ser algarvio.
Vim para Lisboa muito cedo, fixei-me em Benfica por força das circunstâncias, razões familiares, por isso, ao longo de mais de cinquenta anos que vivo em Benfica, posso dizer que este é o meu bairro.
Esta é portanto a minha terra por adopção. A terra que conheci e em que todos, quando aqui cheguei, nos conhecíamos.
A vida era diferente, Benfica era uma terra de operários.
Nas Pedralvas havia uma Metalúrgica e a Fábrica de Tintas Atlantic; nas traseiras do campo do Futebol Benfica, onde se situa hoje a urbanização conhecida pelos Jardins de Benfica, existia mais outra metalúrgica, esta conhecida por Metalúrgica de Benfica.
Habitualmente a população orientava-se, em termos de horários, pelos toques das sirenes das fábricas aqui existentes.
Era uma comunidade saudável a de Benfica. Todos nos conhecíamos e a amizade proliferava como as papoilas, quando era tempo delas, nos campos verdejantes que, por essa altura, ainda existiam em Benfica.
Ainda hoje tenho nos ouvidos o tinlintar dos trolers dos eléctricos quando circulavam pela Estrada de Benfica e davam a volta entre a Garagem 'Benficauto' e a Escola 124 que hoje, a título precário, pertence ao Clube Futebol Benfica.
Benfica tinha características muito especiais, dizia-se muitas vezes, quando por este ou aquele motivo nos ausentávamos por uns dias, que ao regressarmos sentíamos uma alegria enorme ao ver os sinos da igreja.
Os sinos eram uma referência para o regresso, significava que estávamos de volta ao local pelo qual nutríamos uma paixão enorme.
Este era um sentimento comum à população deste Bairro que foi perdendo esta paixão à medida que o cimento foi substituindo as hortas e as indústrias que por aqui existiam.
A década de 60 foi determinante, muitas pessoas que aqui moravam partiram para a Amadora e Queluz, que se desenvolviam a olhos vistos, cujas rendas das casas só porque eram mais baratas 50 escudos determinavam esse êxodo.
Benfica, por essa altura, começou a perder determinadas características mas, para mim, continuou a ter um encanto especial e mítico e ainda hoje gosto de viver em Benfica, por isso sendo algarvio de nascença, situação que não renego, como já disse, sinto-me naturalmente um cidadão de Benfica."
Gostaria de aqui deixar um agradecimento muito especial ao Sr. Domingos Estanislau, que se tornou, recentemente, leitor do nosso blog e nos deu a honra de colaborar no mesmo com este seu testemunho (e muitas outras surpresas que por aí se avizinham).
Muito obrigada, também, pela divulgação que fez no seu blog pessoal do "Retalhos de Bem-Fica"!
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