Todos os direitos reservados @ Fausto Castelhano, "Retalhos de Bem-Fica" (2010)
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(ou quando o Movimento das Forças Armadas se esqueceu de “conquistar” o Centro Emissor de Monsanto…)
por Fausto Castelhano
Militares do MFA nas ruas de Lisboa (ainda desertas) na manhã do dia 25 de Abril de 1974
(Foto in Wikipédia)
Militares do MFA tomam posição nas ruas de Lisboa na manhã do dia 25 de Abril de 1974
(Foto in Wikipédia)
(Foto in Wikipédia)
Militares do MFA tomam posição nas ruas de Lisboa na manhã do dia 25 de Abril de 1974
(Foto in Wikipédia)
Capítulo 3
Cronologia do dia 25 de Abril de 1974 no Centro Emissor de Monsanto (Prisioneiros no local de Trabalho)
Surgiram de armas aperradas e confundidos pelo lusco-fusco do novo dia que se adivinhava pelos ténues alvores a oriente e para lá do casario da cidade grande. Franquearam o portão e apontaram-me o foco da lanterna. Cumprimentei-os, naturalmente: “Olá, bom dia”! Corresponderam à minha saudação mas, mui correctamente, pediram a identificação e indagaram ao que vinha…”Hoje, estou de serviço”! Então, ordenaram-me em tom seco, imperativo: “Pode entrar, arrume aí o carro na parada e venha daí connosco! Vamos acompanhá-lo lá acima” (ao 1º andar do edifício). Sem piar, acatei a ordem…
TOP, o cão-maravilha. Um belo e fiel companheiro, guardião-mor do Centro Emissor de Monsanto.
(1970 - Foto de Fausto Castelhano)
(1970 - Foto de Fausto Castelhano)
Afaguei o focinho ao TOP (8), um devotado amigalhaço e supremo guardião do Centro Emissor de Monsanto, e subi a escadaria principal tendo, à ilharga, um dos elementos da GNR… De chofre, surgiu-me um pressentimento safado e reflecti: “Mais uma vez meteste a cabeça na boca do lobo! Nunca mais ganhas tino nessa cachimónia… Volta e meia, andas metido em caldinhos de cabeça a rabo”…
No espaçoso hall de entrada e sob escassa iluminação, encontravam-se mais dois elementos da força militarizada da GNR e, através das vidraças das amplas janelas que funcionavam como divisória da Sala dos Emissores, notei uma certa movimentação no seu interior. Quando lá fui introduzido (escoltado pelo elemento da GNR), dou de caras com o meu colega de trabalho e velho amigo desde as OGMA - Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, em Alverca (9), CUSTÓDIO MECHA DE FIGUEIREDO e, ainda, o vigilante/contínuo JOAQUIM DE ALMEIDA MOREIRA, o Capitão EDUARDO ALARCÃO e o Coronel AUGUSTO BAGORRA (10). Os dois últimos personagens, eram elementos preponderantes do Departamento de Segurança da RTP.
Encarei-os “de carunfas” e saudei-os sem vacilar: ”Olá, muito bom dia a todos”! O capitão ALARCÃO não foi “de modas”… Despachou-me de rajada e, com “duas pedras na mão”, bolçou: “Meus senhores, a partir d’agora considerem-se detidos e às minhas ordens…Vão ficar muito sossegadinhos, não levantam ondas e estão proibidos de tocar no telefone! Conversa… pouca ou nenhuma”! Foi assim, tal e qual! Estávamos prisioneiros no próprio local de trabalho! Muito bonito, gratificante!
Bem, já que é assim, embora um pouco apardalados com o quadro que nos era apresentado de chofre, ficámos devidamente elucidados e, logicamente, ficámos na “retranca”. Veio-me uma obscenidade à boca e, de seguida, matutei em surdina: “Porra! Agora é que estamos muito bem entalados”!
Se calhar, o Movimento das Forças Armadas e, segundo o teor do próprio comunicado, estava carregadinho de lógica e bom senso, além de suficientemente explícito… ”A população deve recolher às suas casas e manter-se nas maiores calmarias”! Pois é… mas a irresistível e eterna mania de se enfronhar em sarilhos, falou mais alto…
O CUSTÓDIO DE FIGUEIREDO (11), alardeando uma certa astúcia em momento tão delicado, piscou-me o olho “de través”, ao qual correspondi com o mesmíssimo “sinal de liques”… Sintonia perfeita e, claro está, na mesma frequência de entendimento…
Um pormenor, aparentemente sem relevância de maior, chamou-me a atenção: a porta do bastidor do andar final do Emissor de Imagem, permanecia entreaberta. Não era normal que tal acontecesse e, com a pulga atrás da orelha, achei um bocado estranho e fiquei de sobreaviso... No final das emissões, os técnicos de serviço à emissão sempre respeitaram as normas estabelecidas no sector, isto é, o especial cuidado em desligar os diversos equipamentos, encerrar as portas dos bastidores e, no final dos trabalhos, redigir o relatório diário onde constariam o registo de avarias, interrupções de emissão, ocorrências de vária ordem, etc.
No espaçoso hall de entrada e sob escassa iluminação, encontravam-se mais dois elementos da força militarizada da GNR e, através das vidraças das amplas janelas que funcionavam como divisória da Sala dos Emissores, notei uma certa movimentação no seu interior. Quando lá fui introduzido (escoltado pelo elemento da GNR), dou de caras com o meu colega de trabalho e velho amigo desde as OGMA - Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, em Alverca (9), CUSTÓDIO MECHA DE FIGUEIREDO e, ainda, o vigilante/contínuo JOAQUIM DE ALMEIDA MOREIRA, o Capitão EDUARDO ALARCÃO e o Coronel AUGUSTO BAGORRA (10). Os dois últimos personagens, eram elementos preponderantes do Departamento de Segurança da RTP.
TOP, um dedicado amigo das crianças. Centro Emissor de Monsanto.
(Setembro de 1971 - Foto de Fausto Castelhano)
(Setembro de 1971 - Foto de Fausto Castelhano)
Encarei-os “de carunfas” e saudei-os sem vacilar: ”Olá, muito bom dia a todos”! O capitão ALARCÃO não foi “de modas”… Despachou-me de rajada e, com “duas pedras na mão”, bolçou: “Meus senhores, a partir d’agora considerem-se detidos e às minhas ordens…Vão ficar muito sossegadinhos, não levantam ondas e estão proibidos de tocar no telefone! Conversa… pouca ou nenhuma”! Foi assim, tal e qual! Estávamos prisioneiros no próprio local de trabalho! Muito bonito, gratificante!
Bem, já que é assim, embora um pouco apardalados com o quadro que nos era apresentado de chofre, ficámos devidamente elucidados e, logicamente, ficámos na “retranca”. Veio-me uma obscenidade à boca e, de seguida, matutei em surdina: “Porra! Agora é que estamos muito bem entalados”!
Se calhar, o Movimento das Forças Armadas e, segundo o teor do próprio comunicado, estava carregadinho de lógica e bom senso, além de suficientemente explícito… ”A população deve recolher às suas casas e manter-se nas maiores calmarias”! Pois é… mas a irresistível e eterna mania de se enfronhar em sarilhos, falou mais alto…
O CUSTÓDIO DE FIGUEIREDO (11), alardeando uma certa astúcia em momento tão delicado, piscou-me o olho “de través”, ao qual correspondi com o mesmíssimo “sinal de liques”… Sintonia perfeita e, claro está, na mesma frequência de entendimento…
Um pormenor, aparentemente sem relevância de maior, chamou-me a atenção: a porta do bastidor do andar final do Emissor de Imagem, permanecia entreaberta. Não era normal que tal acontecesse e, com a pulga atrás da orelha, achei um bocado estranho e fiquei de sobreaviso... No final das emissões, os técnicos de serviço à emissão sempre respeitaram as normas estabelecidas no sector, isto é, o especial cuidado em desligar os diversos equipamentos, encerrar as portas dos bastidores e, no final dos trabalhos, redigir o relatório diário onde constariam o registo de avarias, interrupções de emissão, ocorrências de vária ordem, etc.
A primitiva Mesa de Comando no interior da Sala dos Emissores do Centro Emissor de Monsanto.
(Maio de 1970 - Foto de Fausto Castelhano)
Entretanto, o dia começava a raiar aos poucos e nós continuávamos ali enfiados e com os movimentos condicionados, cirandando junto à Mesa de Comando da Sala dos Emissores e, talvez, à espera da próxima cena que surgisse de rompante e nos deixasse de bocarra aberta. Era como se estivéssemos no mato espesso sem cachorro que nos valesse…
Com o telefone sob apertada vigilância d’um guarda da GNR e ferreamente controlados, tivemos a nítida percepção de que nos encontrávamos amarrados de pés e mãos… Sim, senhor! Armaram-nos uma implacável e inaudita ratoeira e da qual, por enquanto, não vislumbrávamos qualquer opção exequível de nos safarmos em beleza!
Estávamos “feitos ao bife” e o cenário, à vista desarmada, não se afigurava de bom augúrio…
Por volta das 08:30 horas entraram no Centro Emissor mais dois colegas de trabalho e ambos do sector dos Feixes Hertzianos: LUÍS DE SOUSA PEREIRA e CARLOS ALBERTO CAMPOS que, do mesmo modo e pelo seu Horário de Trabalho, estavam de serviço nesse dia.
Tanto quanto a memória me permite a esta distância e, mesmo nos registos do Livro de Ocorrências, julgo que não penetrou mais viv’alma no Centro Emissor de Monsanto. Ou porque não compareceram de livre vontade obedecendo, cegamente e à letra, às persistentes advertências dos comunicados do MFA os quais, continuavam a ser difundidos, incessantemente, pelas estações de radiodifusão (RCP: 04:26, 04:45, 05:15, 06:45, 07:30; EN: 08:45, etc.) ou então e possivelmente, qualquer ordem fora emanada pelos dois oficiais do Departamento de Segurança da RTP (acantonados no interior do Centro Emissor de Monsanto) no sentido de apenas permitirem a permanência aos técnicos considerados indispensáveis, tanto do sector dos Feixes Hertzianos, como dos Emissores e que garantissem, posteriormente, o bom e regular funcionamento das emissões de televisão. (12)
(Maio de 1970 - Foto de Fausto Castelhano)
Entretanto, o dia começava a raiar aos poucos e nós continuávamos ali enfiados e com os movimentos condicionados, cirandando junto à Mesa de Comando da Sala dos Emissores e, talvez, à espera da próxima cena que surgisse de rompante e nos deixasse de bocarra aberta. Era como se estivéssemos no mato espesso sem cachorro que nos valesse…
Com o telefone sob apertada vigilância d’um guarda da GNR e ferreamente controlados, tivemos a nítida percepção de que nos encontrávamos amarrados de pés e mãos… Sim, senhor! Armaram-nos uma implacável e inaudita ratoeira e da qual, por enquanto, não vislumbrávamos qualquer opção exequível de nos safarmos em beleza!
Estávamos “feitos ao bife” e o cenário, à vista desarmada, não se afigurava de bom augúrio…
Por volta das 08:30 horas entraram no Centro Emissor mais dois colegas de trabalho e ambos do sector dos Feixes Hertzianos: LUÍS DE SOUSA PEREIRA e CARLOS ALBERTO CAMPOS que, do mesmo modo e pelo seu Horário de Trabalho, estavam de serviço nesse dia.
Tanto quanto a memória me permite a esta distância e, mesmo nos registos do Livro de Ocorrências, julgo que não penetrou mais viv’alma no Centro Emissor de Monsanto. Ou porque não compareceram de livre vontade obedecendo, cegamente e à letra, às persistentes advertências dos comunicados do MFA os quais, continuavam a ser difundidos, incessantemente, pelas estações de radiodifusão (RCP: 04:26, 04:45, 05:15, 06:45, 07:30; EN: 08:45, etc.) ou então e possivelmente, qualquer ordem fora emanada pelos dois oficiais do Departamento de Segurança da RTP (acantonados no interior do Centro Emissor de Monsanto) no sentido de apenas permitirem a permanência aos técnicos considerados indispensáveis, tanto do sector dos Feixes Hertzianos, como dos Emissores e que garantissem, posteriormente, o bom e regular funcionamento das emissões de televisão. (12)
A válvula electrónica de potência RS1011 do Amplificador Final de 10KW do Emissor de Imagem da RTP 1, fabricada em cobre e revestida a prata. Peso: 9,700 KG. Este foi o componente que os sabotadores retiraram do emissor e esconderam na casota do TOP, o nosso cão de estimação e guardião-mor do Centro Emissor de Monsanto.
(Junho de 2010 - Foto de Mário Alves)
A Sabotagem…
(Junho de 2010 - Foto de Mário Alves)
A partir daqui, iniciou-se a verdadeira jogatana do gato e do rato… As constantes visitas do Custódio à casa de banho tornaram-se por demais evidentes, daí a impertinente pergunta que lhe lancei: “Estás com diarreia”? Bom, a pergunta alicerçava-se na estranha atitude do colega de trabalho e, atendendo à melindrosa situação em que nos engolfaram até aos “gorgomilhos”, a “tripalhada” do ser humano revolta-se e atraiçoa sem aviso prévio… Não foi o caso e, ainda bem!... Sorriu e, pouco depois e à socapa, mostrou-me um pequeno rádio de bolso…
Não me recordo se, mais tarde e alguma vez, abordei esta questão com o meu amigo e saudoso CUSTÓDIO DE FIGUEIREDO… Não sucedeu assim e, pelo meio e prematuramente, o CUSTÓDIO “deu o berro” e entregou a alma ao Criador sem apelo nem agravo. É provável que, com alguma antecipação, tivesse conhecimento da movimentação dos militares no território nacional, uma vez que transpôs os portões do Centro Emissor de Monsanto antes das 04:20 horas da madrugada ou seja, aquando da alocução do 1º Comunicado do MFA e, pela certa, preveniu-se com um pequenino receptor transistorizado…
Não me recordo se, mais tarde e alguma vez, abordei esta questão com o meu amigo e saudoso CUSTÓDIO DE FIGUEIREDO… Não sucedeu assim e, pelo meio e prematuramente, o CUSTÓDIO “deu o berro” e entregou a alma ao Criador sem apelo nem agravo. É provável que, com alguma antecipação, tivesse conhecimento da movimentação dos militares no território nacional, uma vez que transpôs os portões do Centro Emissor de Monsanto antes das 04:20 horas da madrugada ou seja, aquando da alocução do 1º Comunicado do MFA e, pela certa, preveniu-se com um pequenino receptor transistorizado…
Desta feita, afinámos os carretos e à vez, começámos a frequentar, assiduamente, não só à casa de banho do 1º andar mas, outrossim, a que estava instalada no piso do rés-do-chão e junto à entrada de serviço do edifício…
E pronto… Foi assim, à pala do insignificante aparelhómetro, que acompanhámos os diversos episódios que, a cada instante, iam acontecendo no país e nos empolgavam sem limites… A esperança de importantes viragens na sociedade portuguesa poderia estar a desenhar-se a passos largos! Agora, havia que aguentar a pastilha… e cara alegre…
Entrementes, o Capitão EDUARDO ALARCÃO não largava o telefone das garras e, como é óbvio, ia acompanhando, a par e passo e por intermédio dos seus particulares e influentes contactos no exterior, todas as peripécias que se iam desenvolvendo para lá dos muros da incipiente vedação (de facílima transposição) do Centro Emissor de Monsanto…
E pronto… Foi assim, à pala do insignificante aparelhómetro, que acompanhámos os diversos episódios que, a cada instante, iam acontecendo no país e nos empolgavam sem limites… A esperança de importantes viragens na sociedade portuguesa poderia estar a desenhar-se a passos largos! Agora, havia que aguentar a pastilha… e cara alegre…
Entrementes, o Capitão EDUARDO ALARCÃO não largava o telefone das garras e, como é óbvio, ia acompanhando, a par e passo e por intermédio dos seus particulares e influentes contactos no exterior, todas as peripécias que se iam desenvolvendo para lá dos muros da incipiente vedação (de facílima transposição) do Centro Emissor de Monsanto…
A Sabotagem…
A meio da manhã e, “com um olho no burro e outro no cigano”, resolvemos arriscar e, cautelosamente, deitámos os “mirantes” ao bastidor que tanto me chamara a atenção desde a primeira hora… A tampa da panela encontrava-se semi-aberta e, então, rapidamente e de olhos esbugalhados (que a terra e os bichinhos hão-de comer um dia se, no tempo próprio, não for direitinho p’ró crematório), espreitei lá p’ra dentro… Ena, pá! Belíssima surpresa, tal e qual “como manda o figurino”! A válvula de potência RS1011 do Emissor de Imagem, abalara “à chucha calada” e não se encontrava encaixada no respectivo suporte… Percebemos a pérfida sacanice: Sabotagem!
Válvula electrónica de potência RS1011do andar final do Emissor de Imagem da RTP1. Observe-se as aletas de arrefecimento, a ar forçado.
(Junho de 2010 - Foto de Fausto Castelhano)
Quanto à válvula em fuga, não nos oferecia temor por aí além e nem seria motivo p’ra dar-nos “a louca” e atirar o toutiço contra as paredes. Assim e nesta inesperada encruzilhada, recorreríamos ao material de reserva e dávamos a volta por cima… Mas, e se ousaram afiar o dente e chafurdaram nas entranhas d’outras unidades essenciais ao funcionamento do emissor? Aí, sim! Os sinos tocaram a rebate e, nos nossos espíritos estalou uma inquietação sem fim…
De repente, foi o diabo! Fomos surpreendidos pelos berros furibundos do Capitão ALARCÃO o qual, e pelo indisfarçável gesto, intentou puxar pela “fusca”… Julgo que me assustei, não obstante, não guardo tal facto no meu imaginário, mas é bem possível que essa minha reacção ao expressivo movimento do elemento da Segurança da RTP tivesse acontecido.
O CUSTÓDIO apaziguou a borrasca com um jeitaço e habilidade que muito me sensibilizou, porém e mesmo assim, chamei a atenção do Capitão ALARCÃO de que o emissor, naquelas condições concretas, jamais iria “arrancar”.
Asperamente, vociferou qualquer asneirada velhaca e virou espaldas…
Cerca das 13:00 horas, os guardas da GNR distribuíram, a cada um dos presentes, uma foleiraça sandes de queijo flamengo que, entretanto, foram enviadas pelo Quartel da GNR da Ajuda e que aceitámos, embora com certa relutância… Contudo, a “larica” apertava e o estômago insistia em reclamar qualquer bucha que nos atirassem p’ró dente…
(Junho de 2010 - Foto de Fausto Castelhano)
Quanto à válvula em fuga, não nos oferecia temor por aí além e nem seria motivo p’ra dar-nos “a louca” e atirar o toutiço contra as paredes. Assim e nesta inesperada encruzilhada, recorreríamos ao material de reserva e dávamos a volta por cima… Mas, e se ousaram afiar o dente e chafurdaram nas entranhas d’outras unidades essenciais ao funcionamento do emissor? Aí, sim! Os sinos tocaram a rebate e, nos nossos espíritos estalou uma inquietação sem fim…
De repente, foi o diabo! Fomos surpreendidos pelos berros furibundos do Capitão ALARCÃO o qual, e pelo indisfarçável gesto, intentou puxar pela “fusca”… Julgo que me assustei, não obstante, não guardo tal facto no meu imaginário, mas é bem possível que essa minha reacção ao expressivo movimento do elemento da Segurança da RTP tivesse acontecido.
O CUSTÓDIO apaziguou a borrasca com um jeitaço e habilidade que muito me sensibilizou, porém e mesmo assim, chamei a atenção do Capitão ALARCÃO de que o emissor, naquelas condições concretas, jamais iria “arrancar”.
Asperamente, vociferou qualquer asneirada velhaca e virou espaldas…
Cerca das 13:00 horas, os guardas da GNR distribuíram, a cada um dos presentes, uma foleiraça sandes de queijo flamengo que, entretanto, foram enviadas pelo Quartel da GNR da Ajuda e que aceitámos, embora com certa relutância… Contudo, a “larica” apertava e o estômago insistia em reclamar qualquer bucha que nos atirassem p’ró dente…
O bastidor do Amplificador Final de 10 KW do Emissor de Imagem do 1º Programa da RTP1 onde a sabotagem teve lugar. Repare-se na “panela” onde era encaixada a válvula electrónica RS1011 e os correspondentes ajustes e sintonias que, ao serem desajustados, também foram objecto de sabotagem.
(1965 - Foto de Fausto Castelhano)
A dada altura, o CUSTÓDIO convenceu o Capitão ALARCÃO de que, seria de toda a conveniência ligar e manter em funcionamento, pelo menos, os monitores de recepção de sinais, tanto na Sala dos Emissores como na Sala dos Feixes Hertzianos… Assim se procedeu e, cerca das 14:00 horas, surgiram os primeiros sinais de vídeo e som da Telescola provenientes do Porto (Estúdios do Monte da Virgem). Então, constatámos, face a rápida observação visual e auditiva, que a totalidade da cadeia de Emissores e Feixes Hertzianos, situados a Norte de Lisboa, operavam em condições normais, emitiam em pleno e sem entraves de qualquer espécie…
A 3ª Edição do Diário Popular do dia 25 de Abril de 1974, já sem a revisão obrigatória da Comissão de Censura
(Foto in Wikipédia)
Assistimos (nos monitores de vídeo e nos amplificadores de som) à primeira aula da Telescola, a disciplina de Português (que decorreu normalmente) e ao início da aula de Francês. Depois, a emissão foi bruscamente interrompida… Outra contrariedade que registámos com desagrado. Qualquer coisa não batia certo com as nossas confiantes expectativas…
As imagens dos estúdios do Lumiar apareceram, então, através da ligação normal da cadeia de Feixes Hertzianos. E lá estavam as carantonhas dos nossos colegas dos estúdios… Gesticulavam e, pelos gestos mímicos que nos enviavam pelas câmaras, nós entendíamos o que pretendiam, urgentemente… Nós, no Centro Emissor de Monsanto, também ansiávamos que tudo se resolvesse sem demora! Mas, por enquanto, havia que aguentar!
Edição das 12:00 horas do vespertino “A Capital” no dia 25 de Abril de 1974
(Foto in Wikipédia)
O Centro Emissor de Monsanto está localizado no extremo da raqueta da Estrada da Belavista em pleno Parque Florestal de Monsanto. Próximos, O GDACI e o Comando da 1ª Região Aérea. Ao princípio da tarde do dia 25 de Abril de 1974 e ao redor deste local que, o carrossel de motos e automóveis arrancou numa inesquecível chinfrineira, começando a comemorar a vitória dos militares do MFA
(Foto in Wikipédia)
NOTAS
TOP era um belo animal e dotado de excepcional nobreza… Inigualável! Ainda cachorrinho, fora abandonado no Parque Florestal da Serra de Monsanto (infelizmente, muitos outros têm o mesmo destino) e logo o recolhemos… De resto, sempre mantivemos um especial carinho por cães e gatos os quais, nos proporcionavam uma excelente companhia. TOP, cedo se revelou um cão de excelsas qualidades, robusto e fogoso, com “pinta”… Possuía carta branca e circulava, livremente, por todo o espaço do Centro Emissor de Monsanto… Paciente com as crianças, meigo e obediente para o pessoal que ali desenvolvia a sua actividade profissional… Foi admitido em 1967 e esticou o pernil, provocada por doença e velhice, em 1982…
(1965 - Foto de Fausto Castelhano)
A dada altura, o CUSTÓDIO convenceu o Capitão ALARCÃO de que, seria de toda a conveniência ligar e manter em funcionamento, pelo menos, os monitores de recepção de sinais, tanto na Sala dos Emissores como na Sala dos Feixes Hertzianos… Assim se procedeu e, cerca das 14:00 horas, surgiram os primeiros sinais de vídeo e som da Telescola provenientes do Porto (Estúdios do Monte da Virgem). Então, constatámos, face a rápida observação visual e auditiva, que a totalidade da cadeia de Emissores e Feixes Hertzianos, situados a Norte de Lisboa, operavam em condições normais, emitiam em pleno e sem entraves de qualquer espécie…
A 3ª Edição do Diário Popular do dia 25 de Abril de 1974, já sem a revisão obrigatória da Comissão de Censura
(Foto in Wikipédia)
Assistimos (nos monitores de vídeo e nos amplificadores de som) à primeira aula da Telescola, a disciplina de Português (que decorreu normalmente) e ao início da aula de Francês. Depois, a emissão foi bruscamente interrompida… Outra contrariedade que registámos com desagrado. Qualquer coisa não batia certo com as nossas confiantes expectativas…
As imagens dos estúdios do Lumiar apareceram, então, através da ligação normal da cadeia de Feixes Hertzianos. E lá estavam as carantonhas dos nossos colegas dos estúdios… Gesticulavam e, pelos gestos mímicos que nos enviavam pelas câmaras, nós entendíamos o que pretendiam, urgentemente… Nós, no Centro Emissor de Monsanto, também ansiávamos que tudo se resolvesse sem demora! Mas, por enquanto, havia que aguentar!
Edição das 12:00 horas do vespertino “A Capital” no dia 25 de Abril de 1974
(Foto in Wikipédia)
Poucos minutos depois, ocorreu um fenómeno espantoso. Na Estrada da Belavista e contornando o Centro Emissor de Monsanto (dos janelões da Sala dos Feixes Hertzianos até à estrada distam, apenas, 10 a 15 metros), começou o barulhento e extenso desfile de motos e automóveis. Abrandavam ou paravam, buzinavam com insistência e cada vez mais, acenavam (e nós correspondíamos) e gritavam entusiasticamente… Sabíamos porquê…
O Centro Emissor de Monsanto está localizado no extremo da raqueta da Estrada da Belavista em pleno Parque Florestal de Monsanto. Próximos, O GDACI e o Comando da 1ª Região Aérea. Ao princípio da tarde do dia 25 de Abril de 1974 e ao redor deste local que, o carrossel de motos e automóveis arrancou numa inesquecível chinfrineira, começando a comemorar a vitória dos militares do MFA
(Foto in Wikipédia)
A população apercebeu-se e, sem margem para qualquer dúvida, de que o principal emissor do sistema televisivo da RTP mantinha-se inoperativo sem motivo aparente, quando já se anunciava, quer através das emissões de radiodifusão e da saída das primeiras edições dos jornais, agora sem o ferrete do lápis azul da celerada Comissão de Censura, a queda ou rendição eminentes, às mãos dos militares do MFA, da maioria dos locais estratégicos do país. O regime estava periclitante e segurava-se, apenas, por um ténue fiozinho… Caía de podre…
Inexoravelmente, aproximava-se o tempo de profundas mutações, ainda de contornos indefinidos, na sociedade portuguesa…
Inexoravelmente, aproximava-se o tempo de profundas mutações, ainda de contornos indefinidos, na sociedade portuguesa…
NOTAS
(8)
TOP, o cão-maravilha…TOP era um belo animal e dotado de excepcional nobreza… Inigualável! Ainda cachorrinho, fora abandonado no Parque Florestal da Serra de Monsanto (infelizmente, muitos outros têm o mesmo destino) e logo o recolhemos… De resto, sempre mantivemos um especial carinho por cães e gatos os quais, nos proporcionavam uma excelente companhia. TOP, cedo se revelou um cão de excelsas qualidades, robusto e fogoso, com “pinta”… Possuía carta branca e circulava, livremente, por todo o espaço do Centro Emissor de Monsanto… Paciente com as crianças, meigo e obediente para o pessoal que ali desenvolvia a sua actividade profissional… Foi admitido em 1967 e esticou o pernil, provocada por doença e velhice, em 1982…
Centro Emissor de Monsanto. TOP arreganha a temível dentuça… Quem experimentou a verdadeira “raça” deste nobre animal, jamais o esqueceu… Quando, ferozmente, cravava os dentes, era p’ra valer… Abençoado cão!
(1972 - Foto de Fausto Castelhano)
Dos muitos canídeos a quem oferecemos guarida e acarinhámos, TOP foi o único que, pelas invulgares qualidades provadas no desempenho das suas funções, obteve cartão de identidade da RTP (com foto), mercê de requerimento dos funcionários do Centro Emissor de Monsanto… Licença, vacinas em dia e subsídio de 300 escudos, de molde a custear vitaminas, produtos de higiene, etc. Eu próprio os adquiria na Farmácia Matos, na Freguesia de Carnide, sob orientação do JOSUÉ, um dos filhos do padrinho do meu irmão Carlos.
Centro Emissor de Monsanto. O TOP com as crianças era, simplesmente, fantástico!
(Setembro de 1979 - Foto de Fausto Castelhano)
Todavia, TOP não brincava em serviço… Farejava, a boa distância, quem não lhe agradava e, julgamos, parece que escolhia o “material” a preceito… E então, não se fazia rogado! Era sempre a aviar e atacava com notável ferocidade… GOUVEIA (Chefe do Departamento de Pessoal), FIALHO GOUVEIA (numa esporádica visita, à noite, com CARLOS CRUZ), Monsenhor LOPES DA CRUZ (Administrador da RTP), Eng. BORDALO MACHADO (Chefe do Departamento de Engenharia) etc., experimentaram a formidável gana, a raça soberba do valente animal. E quanto ao Carteiro dos CTT que, regularmente, distribuía a correspondência foi, apenas, um pequeno acerto de contas… O nosso amigo galgou o muro da vedação e, em voo rasante, catrafilou-o do outro lado da estrada… Derrubado da motorizada, TOP esfarrapou-o de alto a baixo, afora as múltiplas lesões)
(1972 - Foto de Fausto Castelhano)
Dos muitos canídeos a quem oferecemos guarida e acarinhámos, TOP foi o único que, pelas invulgares qualidades provadas no desempenho das suas funções, obteve cartão de identidade da RTP (com foto), mercê de requerimento dos funcionários do Centro Emissor de Monsanto… Licença, vacinas em dia e subsídio de 300 escudos, de molde a custear vitaminas, produtos de higiene, etc. Eu próprio os adquiria na Farmácia Matos, na Freguesia de Carnide, sob orientação do JOSUÉ, um dos filhos do padrinho do meu irmão Carlos.
Centro Emissor de Monsanto. O TOP com as crianças era, simplesmente, fantástico!
(Setembro de 1979 - Foto de Fausto Castelhano)
Todavia, TOP não brincava em serviço… Farejava, a boa distância, quem não lhe agradava e, julgamos, parece que escolhia o “material” a preceito… E então, não se fazia rogado! Era sempre a aviar e atacava com notável ferocidade… GOUVEIA (Chefe do Departamento de Pessoal), FIALHO GOUVEIA (numa esporádica visita, à noite, com CARLOS CRUZ), Monsenhor LOPES DA CRUZ (Administrador da RTP), Eng. BORDALO MACHADO (Chefe do Departamento de Engenharia) etc., experimentaram a formidável gana, a raça soberba do valente animal. E quanto ao Carteiro dos CTT que, regularmente, distribuía a correspondência foi, apenas, um pequeno acerto de contas… O nosso amigo galgou o muro da vedação e, em voo rasante, catrafilou-o do outro lado da estrada… Derrubado da motorizada, TOP esfarrapou-o de alto a baixo, afora as múltiplas lesões)
Os CTT exigiram gorda indemnização, a verba pedida exigida foi satisfeita e o assunto… morreu por ali!
TOP e as crianças… Estão à sombra do pinheiro manso onde TOP foi sepultado em 1982 e onde, na década de 90 do século XX, foi edificada a torre de betão da PT-Portugal Telecom. Ao fundo, o muro da vedação (bastante baixo) que a separava da Estrada da Belavista.
(Parada do Centro Emissor de Monsanto. Maio de 1979 - Foto de Fausto Castelhano)
Ao longo do tempo e enquanto o brioso animal mostrou força e agilidade nas suas acções, houve várias queixas ou participações e as correspondentes sentenças, também... Isto é, acorrentar o TOP junto à casota… Não obstante, ninguém ousou executar tão descabidos e injustos castigos… Alguns de nós, fomos acusados de incitar o TOP a ferrar o dente, à lista… Um exagero inqualificável! Pessoalmente, não confirmo nem desminto… De resto, nada se provou e o TOP, “compincha”, não “estrilhou” e nem sequer deu com a língua nos dentes…
Prestadas as honrarias da praxe, foi carinhosamente sepultado junto ao pinheiro onde, actualmente, está edificada a nova torre de betão da PT - Portugal Telecom. Uma imensa saudade…
OLIVEIROS LOPES GERVÁSIO, CUSTÓDIO MECHA DE FIGUEIREDO e FAUSTO CASTELHANO já eram velhos conhecidos das OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico), em Alverca do Ribatejo onde pontificava e geria, com mão de ferro, o Coronel e engenheiro aeronáutico FERNANDO DE OLIVEIRA, individualidade de alto gabarito resultante das estupendas qualidades técnicas de que era possuidor…
(Parada do Centro Emissor de Monsanto. Maio de 1979 - Foto de Fausto Castelhano)
Ao longo do tempo e enquanto o brioso animal mostrou força e agilidade nas suas acções, houve várias queixas ou participações e as correspondentes sentenças, também... Isto é, acorrentar o TOP junto à casota… Não obstante, ninguém ousou executar tão descabidos e injustos castigos… Alguns de nós, fomos acusados de incitar o TOP a ferrar o dente, à lista… Um exagero inqualificável! Pessoalmente, não confirmo nem desminto… De resto, nada se provou e o TOP, “compincha”, não “estrilhou” e nem sequer deu com a língua nos dentes…
Prestadas as honrarias da praxe, foi carinhosamente sepultado junto ao pinheiro onde, actualmente, está edificada a nova torre de betão da PT - Portugal Telecom. Uma imensa saudade…
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Os técnicos dos Emissores oriundos das OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico)OLIVEIROS LOPES GERVÁSIO, CUSTÓDIO MECHA DE FIGUEIREDO e FAUSTO CASTELHANO já eram velhos conhecidos das OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico), em Alverca do Ribatejo onde pontificava e geria, com mão de ferro, o Coronel e engenheiro aeronáutico FERNANDO DE OLIVEIRA, individualidade de alto gabarito resultante das estupendas qualidades técnicas de que era possuidor…
OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico, em Alverca) - Fausto, Cruz, Príamo e Óscar junto de um F84F, um dos primeiros aviões a jacto que surgiram em Portugal.
(Dezembro de 1957 - Foto de Fausto Castelhano)
(Dezembro de 1957 - Foto de Fausto Castelhano)
Os técnicos da Secção de Acessórios das OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico) em Alverca junto aos “Bancos de Ensaio”. O segundo, a contar da direita, é Armando Mineiro, Presidente do Clube de Futebol de Alverca e Chefe do Departamento dos Acessórios. Quase todos praticavam futebol nos Campeonatos Nacionais.
(Dezembro de 1957 – Foto de Fausto Castelhano)
"FAUSTO CASTELHANO, estagiou nas OGMA após completar o Curso Industrial. Terminado o período de estágio e efectuado o exame de Aptidão Profissional na Escola Industrial de Machado de Castro, continuou a laborar nas OGMA e tinha pela frente uma promissora carreira profissional após várias promoções…até à sua expulsão na sequência da greve de 1958." (in “Vila Franca de Xira”- Um Concelho no País, pág. 254 - António Dias Lourenço – Edição da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira).
Os dois graduados pertenciam ao Departamento de Segurança da RTP e já os topávamos de ginjeira…
O Coronel AUGUSTO BAGORRA, homem de esmerada educação aparecia, de quando em vez, no Centro Emissor, contudo jamais incomodou alguém… Um pacholas! Mas, atenção! Cuidado com tal bicharoco afinal, um passarão de primeira ordem! Reparem neste mimo:
“Pelos seus serviços, a PIDE/DGS recebia da RTP, no final dos anos 60, 15 mil escudos e, posteriormente, 22 contos. Correspondendo a uma sugestão da DGS (Direcção Geral de Segurança), o administrador-geral da RTP, RAMIRO VALADÃO encarregou, em 1969, o engenheiro MATOS CORREIA de montar um serviço de segurança na empresa, com o apoio de todas as forças policiais. Em Maio de 1971, RAMIRO VALADÃO nomeou, para os assuntos de segurança na RTP, o Coronel AUGUSTO BAGORRA”. (in “Não apaguem a memória - Movimento Cívico - Colóquio sobre o “Dever da Memória”). Topam? Meus amigos, a máquina estava bem oleada…
(Dezembro de 1957 – Foto de Fausto Castelhano)
"FAUSTO CASTELHANO, estagiou nas OGMA após completar o Curso Industrial. Terminado o período de estágio e efectuado o exame de Aptidão Profissional na Escola Industrial de Machado de Castro, continuou a laborar nas OGMA e tinha pela frente uma promissora carreira profissional após várias promoções…até à sua expulsão na sequência da greve de 1958." (in “Vila Franca de Xira”- Um Concelho no País, pág. 254 - António Dias Lourenço – Edição da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira).
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Os oficiais do Serviço de Segurança da RTPOs dois graduados pertenciam ao Departamento de Segurança da RTP e já os topávamos de ginjeira…
O Coronel AUGUSTO BAGORRA, homem de esmerada educação aparecia, de quando em vez, no Centro Emissor, contudo jamais incomodou alguém… Um pacholas! Mas, atenção! Cuidado com tal bicharoco afinal, um passarão de primeira ordem! Reparem neste mimo:
“Pelos seus serviços, a PIDE/DGS recebia da RTP, no final dos anos 60, 15 mil escudos e, posteriormente, 22 contos. Correspondendo a uma sugestão da DGS (Direcção Geral de Segurança), o administrador-geral da RTP, RAMIRO VALADÃO encarregou, em 1969, o engenheiro MATOS CORREIA de montar um serviço de segurança na empresa, com o apoio de todas as forças policiais. Em Maio de 1971, RAMIRO VALADÃO nomeou, para os assuntos de segurança na RTP, o Coronel AUGUSTO BAGORRA”. (in “Não apaguem a memória - Movimento Cívico - Colóquio sobre o “Dever da Memória”). Topam? Meus amigos, a máquina estava bem oleada…
Pintura de EDUARDO ALARCÃO. (10 de Janeiro de 1930/Fevereiro de 2003), foi um pintor português. A temática da sua obra, conta com mais de quinhentos trabalhos, e baseia-se nas ruas dos pópulos ou nos locais mais típicos de cidades, constituindo um retrato das tradições portuguesas numa vertente modernista. Recorria muitas vezes à distorção ou alongamento das formas, resultado de imensos estudos sobre diversos movimentos artísticos.
(Foto e texto in Wikipedia)
O Capitão EDUARDO ALARCÃO, combatente da guerra colonial e deficiente das Forças Armadas (segundo se constava) vivia obcecado com os técnicos do Emissor de Monsanto… Volta e meia, aparecia por lá e não perdia o ensejo de elaborar interrogatórios despropositados, para não utilizar um termo mais adequado: quais os nossos amigos e relacionamentos, os locais onde abancávamos e outras coisas do género… À babugem, apalpava o terreno e lançava o anzol com isco e tudo, mas nunca “pescou” qualquer coisinha que servisse os seus maléficos intentos… Perguntava em alhos e respondia-se em bugalhos!
Não suportávamos o “fulanaço”… Um tipo “berucha” como a potassa! O pessoal encarava as investidas com extrema naturalidade e um gozo desmesurado… Bom, depois irritava-se, entrava em parafuso e acusava-nos de não colaborarmos…
(Foto e texto in Wikipedia)
O Capitão EDUARDO ALARCÃO, combatente da guerra colonial e deficiente das Forças Armadas (segundo se constava) vivia obcecado com os técnicos do Emissor de Monsanto… Volta e meia, aparecia por lá e não perdia o ensejo de elaborar interrogatórios despropositados, para não utilizar um termo mais adequado: quais os nossos amigos e relacionamentos, os locais onde abancávamos e outras coisas do género… À babugem, apalpava o terreno e lançava o anzol com isco e tudo, mas nunca “pescou” qualquer coisinha que servisse os seus maléficos intentos… Perguntava em alhos e respondia-se em bugalhos!
Não suportávamos o “fulanaço”… Um tipo “berucha” como a potassa! O pessoal encarava as investidas com extrema naturalidade e um gozo desmesurado… Bom, depois irritava-se, entrava em parafuso e acusava-nos de não colaborarmos…
Pintura de Eduardo Alarcão
(Foto in Wikipédia)
Os governantes do regime receavam uma possível sabotagem dos emissores e, técnicos de electrónica habilitados a manejar equipamentos de enorme complexidade, não seria fácil encontrá-los ao virar da esquina… Numa eventual emergência, surgida por adversas circunstâncias, poderia configurar-se uma embrulhada com todos os “quindins”…
“Capitão ALARCÃO impede o normal funcionamento do emissor de Monsanto da RTP, recorrendo a manobras dilatórias de obstrução deliberada, situação que somente foi normalizada cerca das 18h30". (in “Abril de novo”-25 de Abril de 1974).
EDUARDO ALARCÃO dedicou-se, mais tarde, à pintura onde obteve um assinalável sucesso. Faleceu em 2003. Paz à sua alma!
(11)
CUSTÓDIO MECHA DE FIGUEIREDO morava na Freguesia em Benfica, Rua General Morais Sarmento. Faleceu por electrocussão na tarde de um domingo no Verão de 1976. Encontrava-se de folga na sua casa de fim-de-semana no Vau (Estrada de Dagorda/Peniche) quando foi solicitada a sua presença na resolução de uma avaria complicada no emissor da Serra de Montejunto. Resolvido o contratempo, saiu e resolveu voltar atrás no intuito de verificar se o equipamento continuava “nos conformes”. Roçou com o joelho num componente (5.000 volts) da Fonte de Alimentação do Emissor. A morte do desditoso companheiro e amigo foi imediata. Teve honras na abertura do Telejornal desse fatídico dia...
CARLOS CAMPOS foi assassinado em Julho de 1993 na sua casa de fim-de-semana na Aroeira… Foi alvejado a tiro por um vizinho tresloucado e devido a uma querela fútil… O assassino nunca foi condenado…
LUÌS DE SOUSA PEREIRA reformou-se no final da década de 90 e continua em boa forma. Está ali, “p’ra lavar e durar”… Encontramo-nos com alguma frequência…
(12)
Quando da implementação da Televisão em Portugal, a primeira administração da RTP, certamente bem aconselhada, preencheu os quadros técnicos (por concurso) dos Emissores de Monsanto, Monte da Virgem, Lousã, Montejunto, Fóia e, mais tarde, Mendro (na Serra do Mendro entre Portel e Vidigueira) e Muro (na Serra Amarela) através dos Especialistas de Electrónica (com raras excepções) oriundos, precisamente, da Força Aérea Portuguesa… Rapaziada com o sangue na guelra, formados na Escola Militar de Electromecânica e óptima preparação técnica nas suas especialidades.
Adquiriram uma estupenda experiência enquanto técnicos de aparelhagem electrónica das aeronaves da Força Aérea Portuguesa e doutras nacionalidades (nas diversas Bases Aéreas onde exerceram as suas funções), dos emissores de ondas curtas utilizados na transmissão para as antigas Colónias Ultramarinas (instalados no AB1 - Aeródromo Base nº1, na Portela), equipamentos de micro-ondas, radares, etc. (Montejunto, GDACI-Monsanto, etc.).
(Foto in Wikipédia)
Os governantes do regime receavam uma possível sabotagem dos emissores e, técnicos de electrónica habilitados a manejar equipamentos de enorme complexidade, não seria fácil encontrá-los ao virar da esquina… Numa eventual emergência, surgida por adversas circunstâncias, poderia configurar-se uma embrulhada com todos os “quindins”…
“Capitão ALARCÃO impede o normal funcionamento do emissor de Monsanto da RTP, recorrendo a manobras dilatórias de obstrução deliberada, situação que somente foi normalizada cerca das 18h30". (in “Abril de novo”-25 de Abril de 1974).
EDUARDO ALARCÃO dedicou-se, mais tarde, à pintura onde obteve um assinalável sucesso. Faleceu em 2003. Paz à sua alma!
(11)
Os companheiros no dia 25 de Abril de 1974 no Centro Emissor de Monsanto…
CUSTÓDIO MECHA DE FIGUEIREDO morava na Freguesia em Benfica, Rua General Morais Sarmento. Faleceu por electrocussão na tarde de um domingo no Verão de 1976. Encontrava-se de folga na sua casa de fim-de-semana no Vau (Estrada de Dagorda/Peniche) quando foi solicitada a sua presença na resolução de uma avaria complicada no emissor da Serra de Montejunto. Resolvido o contratempo, saiu e resolveu voltar atrás no intuito de verificar se o equipamento continuava “nos conformes”. Roçou com o joelho num componente (5.000 volts) da Fonte de Alimentação do Emissor. A morte do desditoso companheiro e amigo foi imediata. Teve honras na abertura do Telejornal desse fatídico dia...
CARLOS CAMPOS foi assassinado em Julho de 1993 na sua casa de fim-de-semana na Aroeira… Foi alvejado a tiro por um vizinho tresloucado e devido a uma querela fútil… O assassino nunca foi condenado…
LUÌS DE SOUSA PEREIRA reformou-se no final da década de 90 e continua em boa forma. Está ali, “p’ra lavar e durar”… Encontramo-nos com alguma frequência…
(12)
Os técnicos dos Emissores e Feixes Hertzianos
Quando da implementação da Televisão em Portugal, a primeira administração da RTP, certamente bem aconselhada, preencheu os quadros técnicos (por concurso) dos Emissores de Monsanto, Monte da Virgem, Lousã, Montejunto, Fóia e, mais tarde, Mendro (na Serra do Mendro entre Portel e Vidigueira) e Muro (na Serra Amarela) através dos Especialistas de Electrónica (com raras excepções) oriundos, precisamente, da Força Aérea Portuguesa… Rapaziada com o sangue na guelra, formados na Escola Militar de Electromecânica e óptima preparação técnica nas suas especialidades.
Adquiriram uma estupenda experiência enquanto técnicos de aparelhagem electrónica das aeronaves da Força Aérea Portuguesa e doutras nacionalidades (nas diversas Bases Aéreas onde exerceram as suas funções), dos emissores de ondas curtas utilizados na transmissão para as antigas Colónias Ultramarinas (instalados no AB1 - Aeródromo Base nº1, na Portela), equipamentos de micro-ondas, radares, etc. (Montejunto, GDACI-Monsanto, etc.).
Nos primórdios da RTP, os quadros técnicos dos Emissores foram preenchidos (na esmagadora maioria) com Especialistas de Electrónica oriundos da Força Aérea Portuguesa. (Figo Maduro. Junto a um Douglas C-47 no Aeródromo Base Nº1.
(1963 - Foto de Fausto Castelhano)
(1963 - Foto de Fausto Castelhano)
A RTP criou um Departamento de Formação muito competente e, aos técnicos dos diversos Emissores, ministrou-lhes adequada formação especificamente orientada para o sector de emissores de televisão e feixes hertzianos. Enviou técnicos na direcção que se afigurava mais correcta. Isto é, as fábricas fornecedoras dos diversos equipamentos: (Siemens (Alemanha), Itelco (Itália), Philips (Holanda), Mier (Espanha), NEC (Japão), Thomson-LGT (França), Nera (Noruega), Intelsis (Espanha) etc. onde se especializaram, concretamente, nas aparelhagens onde, seguidamente, iriam operar e assim, torná-los aptos no adequado desempenho das suas atribuições… Amiúde, especialistas dessas empresas deslocavam-se a Portugal e ministravam cursos de aperfeiçoamento técnico.
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Continua…
Continua…
6 comentários:
Amigo Fausto: muitíssimo obrigada por mais este capítulo com que nos brindou! :)
Achei excelente a forma como aqui descreveu os eventos desse dia, os seus colegas de trabalho, o Top... de uma fineza tal, um verdadeiro Antropólogo :)
Ao lermos o seu texto, parece que nos sentimos mesmo envolvidos na trama.
Muito obrigada por nos dar o privilégio da partilha desta História!
Abraço
P.S. - Por falar em animais, e como diria o amigo Lila, faltou foi falar nos coelhos ;)
Bom dia amiga Alexa
Um sincero obrigado pelo seu comentário e os meus agradecimentos pelo acolhimento que me tem proporcionado àcerca desta questão que nunca foi abordada, sabe-se lá porquê.
Talvez não tivesse sido esquecimento por parte do MFA, tal como é referido na gravação dos tais CDs que foram editados. Chegou-me aos ouvidos, depois de publicado o 1º Capítulo que, eventualmente, houve mais qualquer coisa estranha mas, por enquanto não possuo elementos concretos.
Quanto aos nossos coelhos, o assunto vai ser devidamente abordado no 4º e último capítulo. Certo, é que continuo a pensar neles e já lá vão tantos anos. Basta que me aproxime do Parque florestal de Monsanto e, ao meu pensamento, até os vejo a saltitar á minha frente.
Um abraço amigo
Fausto Castelhano
"Quanto aos nossos coelhos, o assunto vai ser devidamente abordado no 4º e último capítulo."
Vamos lá a ver quais os actos de crueldade que foram perpetrados contra os pobres orelhudos. A "Protectora dos Animais" vai estar atenta ao relato. Just in case... ;-)
João: não se preocupe, porque já tenho conhecimento da história dos coelhos e não houve quaisquer actos de crueldade cometidos... o que, desde logo, seria de esperar (sobretudo de pessoas que protegeram tantos cães abandonados ali no Centro Emissor do Monsanto :)
Caro Fausto Castelhano
Peço-lhe autorização para usar as duas fotos que incluiu sobre as OGMA, no meu blogue www.ex-ogma.blogspot.com, onde procuro juntar coisas sobre a história das OGMA. Se por acaso tiver mais alguma que queira partilhar conosco, fico-lhe muito grato.
Parabéns pelo blogue sobre Benfica.
José Santos
www.ex-ogma.blogspot.com
Caro José Santos
Obrigado pelo seu comentário e quanto às fotos das OGMA, pode utilizá-las, claro. Possuo outras que talvez lhe interesse. Envie o seu endereço electrónica que lhas enviarei. O meu endereço: lydia.fausto@sapo.pt
Abraço
Fausto Castelhano
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