terça-feira, 24 de março de 2009

O Hotel Mafra









"Quase em frente à antiga Travessa do Espírito Santo, existia no século passado a bela quinta e casa que foi de D. Maria Joana Baldaia (...).

Em 1890 foi no palacete instalado o Hotel Mafra, que punha ao dispôr dos seus hóspedes as suas velhas e boas instalações, dando-lhes ao mesmo tempo a faculdade de utilizar a quinta e apresentando um serviço de restaurante com duas categorias, consoante a sala e andar em que fosse servido. Nesse mesmo ano, (...) nele viviam José Francisco Mafra, de 71 anos, com a sua mulher Ana Maria Mafra, de 62, dois filhos e 5 criados.

Aos herdeiros de Colares Pereira comprou o Estado toda a parte rústica e urbana para aí instalar o Laboratório de Patologia Veterinária, actualmente
Laboratório Nacional de Investigação Veterinária."



Padre Álvaro Proença, in "Benfica através dos Tempos", Lisboa: União Gráfica, 1964.






domingo, 22 de março de 2009

O retomar da vida de uma casa








A Vila Ventura voltou a estar habitada durante este fim-de-semana.

Ontem de manhã, ao passar do outro lado da rua, antevi o vulto de uma senhora de idade, a espreitar pela janela cimeira, onde permanecem dois vasos.
Também as portadas de madeira das janelas do andar de baixo se encontravam abertas, como se a vida tivesse reganhado novamente aquela casa.

Infelizmente, parece ter sido por um breve laivo que ali regressou... e hoje, a Vila Ventura retomou a sua penumbra.







sábado, 21 de março de 2009

Dizem que há males que vêm por bem...










... E o desaparecimento da "minha" Luana, encontrada mais tarde na vivenda do Eng.º Raposo, trouxe-me às mãos (emprestado), uma das primeiras edições do livro (que procurava há largos meses) "Benfica através dos Tempos", publicado em 1964 pela União Gráfica.

Segundo parece, também, a esposa do Eng.º gostava muito de escrever sobre a freguesia de Benfica, e tinha este livro como uma Bíblia, junto à sua cabeceira.






sábado, 14 de março de 2009

Bairro Grandela






Fotografia disponível in IPPAR




A fundação e construção do Bairro Grandela está ligada ao desenvolvimento industrial da cidade de Lisboa entre meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX, e o consequente crescimento social que daí adveio.










Construído por iniciativa de Francisco de Almeida Grandela, entre 1902 e 1904, na antiga Quinta dos Loureiros (junto à Estrada de Benfica e à ribeira de Alcântara), o bairro destinava-se à habitação dos operários e empregados da Sociedade Algodoeira do Fomento e dos Armazéns e Fábricas Grandela.

Este complexo encontra-se estrategicamente colocado junto à linha férrea (facilitando a circulação de pessoas e mercadorias) e à ribeira de Alcântara, que então corria a céu aberto. Saliente-se que, nos finais do século XIX, quando Francisco Grandela adquiriu a propriedade (limitada pela Estrada de Benfica e pela linha de caminho-de-ferro), esta era ainda uma área periférica, de características rurais, marcada pela existência de hortas, quintas e casas de veraneio de famílias abastadas.







O bairro, terminado em 1910, é constituído por um conjunto de 70 habitações, dispostos em dois grandes corpos edificados que formam igual número de quarteirões.

Estes corpos dividem-se em dois pisos, nos quais a habitação superior tem acesso directo à rua através de escada com alpendre.








Numa outra zona dos quarteirões foram edificadas as moradias unifamiliares, destinadas a alojar funcionários hierarquicamente superiores (os encarregados da fábrica).

No topo de cada um destes blocos, foram construídos dois edifícios de grandes proporções, cuja fachada é precedida por escadaria, possuindo pórtico apoiado em seis colunas, com frontão decorado com a insígnia de Francisco Grandela: "Sempre Por Bom Caminho e Segue".
Estes espaços estavam destinados primitivamente à escola primária e à creche dos filhos dos operários da Fábrica Grandela.







Na viragem do século, os Armazéns Grandela, com as suas 40 secções, ofereciam ao consumidor uma larga variedade de artigos acessíveis a todas as bolsas.
Os grandes armazéns democratizaram o comércio da moda, pouco a pouco impuseram ao conjunto da população os seus modelos de vestuários, os seus gostos através de campanhas de publicidade, nomeadamente dos catálogos.

No Bairro Grandela também muitas famílias, especialmente as mulheres que durante o dia trabalhavam na fábrica, faziam serão nas suas casas, à luz do candeeiro de petróleo, costurando as peças que já traziam talhadas das oficinas.








O Bairro Grandela encontra-se abrangido na Zona Especial de Protecção (ZEP) do Património da "Quinta do Beau-Séjour / Quinta das Campainhas", sendo, também, Património Técnico-Industrial Classificado desde 1984.








O Bairro Grandela perdeu há muito tempo as suas funções iniciais; persistindo ainda, todavia, muitas formas de vida e de partilha comunitária naquele espaço.







Ver mais informação sobre os pátios e vilas operárias na cidade de Lisboa aqui.

Sobre Francisco Grandella consultar:
A.A.V.V. – Grandela e o Comércio de Lisboa: As inovações numa sociedade tradicional, in "Grandella", Maria Goretti Matias, CML, 1994









segunda-feira, 9 de março de 2009

Quintais e Logradouros




Logradouro é o pátio, quintal, terreiro e mais terrenos
que estejam na dependência e ao serviço de um prédio urbano
(seja este habitacional ou afecto a outra finalidade).








Durante esta ausência, justificada por motivos de força maior, fiquei a conhecer bem mais de perto os quintais e logradouros das traseiras da minha rua, incluindo o da "vivenda dos advogados", o da vivenda contígua e tantos (mas mesmo tantos) outros...

E todos esses quintais e logradouros são verdadeiros mundos desconhecidos, onde se pode encontrar de tudo um pouco (bem diferente da esfera mais pública das fachadas exteriores dos edifícios).

Fiquei, também, a conhecer um pouco melhor o espírito de entreajuda que a vida de bairro em Benfica ainda possui.

E, por isso mesmo, aqui quero deixar o meu agradecimento público ao senhor da loja de roupa de homem do nº 747A da Estrada de Benfica, ao Sr. José Sebastião (da retrosaria do nº 747B da Estrada de Benfica) e ao Sr. Mário, bem como aos meus vizinho de rua (a Susana e o jovem vizinho do lado, a Dª. Ana e o marido, a senhora do 3º andar Dto. do Nº 30, as duas senhoras Dª. Laurinda - a do meu prédio e a do lado), que me abriram as portas das suas casas e lojas, durante este fim-de-semana e permitiram que me imiscuísse nos seus quintais e logradouros numa incessante busca.

A todos eles, o meu sincero agradecimento!







*** Os posts anteriores em atraso serão actualizados a seu devido tempo.







sábado, 7 de março de 2009

Há um Passado que merece estar em Ruínas





(por Alexandra Carvalho)






"Palácio onde esteve instalada a escola da Pide-DGS" (1968),
Armando Serôdio, in Arquivo Municipal de Lisboa



Ao passarem hoje em dia por Sete-Rios, ali bem perto do Jardim Zoológico, poucos serão aqueles que ainda se recordarão do que funcionava, em tempos idos, neste edifício em ruínas (o apagamento da memória, também, muito contribuirá para tal!).

Lembro-me de ainda ser miúda e, quando apanhava o autocarro em Sete-Rios, acompanhada pelo meu avô materno, este me contar o que ali funcionara... a Escola Técnica da PIDE/DGS (ETP), criada em 1948 para seleccionar e formar os agentes da polícia política, na sua maioria homens de origem rural, só com a quarta classe.



"Revolução de Vinte e Cinco de Abril de 1974, frente à escola da PIDE-DGS" (25/04/74),
Fotógrafo não identificado
Fotografia adquirida no "Diário de Notícias", in Arquivo Municipal de Lisboa



Em 1972, o edifício da ETP foi alvo de um atentado com "cocktail molotov", sofrendo danos avultados. O edifício foi abandonado em 1974, entrando em ruína... Tendo, actualmente, a vegetação e um parque de estacionamento improvisado ganhado terreno.

Há alguns meses atrás, quando por ali passava ao final do dia, via ali sempre, sentado por entre as ervas, um sem-abrigo a jantar. Tive pena de não ter conseguido (por pudor) fotografá-lo.








quinta-feira, 5 de março de 2009

O Jardim Zoológico




(por Alexandra Carvalho)



"Jardim Zoológico e d'acclimação" - [Material Cartográfico], (1884)
In "Europeana" - Biblioteca Multimédia Online da Europa.


Fotografia de Alan Soric (2005)




O Jardim Zoológico de Lisboa foi, originalmente, inaugurado em 1884 no Parque de São Sebastião da Pedreira, tendo sido o primeiro parque com fauna e flora da Península Ibérica.
Foram vários os seus fundadores, como os Drs. Pedro van der Laan e José Thomaz Sousa Martins e o Baraão de Kessler, que contaram com o apoio de várias personalidades, como o Rei D. Fernando II e pelo conhecido zoólogo e poeta José Vicente Barboza du Bocage.




"Jardim Zoológico, portão de entrada" (1961)
Fotografia de Artur Inácio Bastos, in Arquivo Municipal de Lisboa



"Jardim Zoológico" (1905)
Fotografia de Paulo Guedes, in Arquivo Municipal de Lisboa



Só em 1905 foram inauguradas as novas e definitivas instalações na Quinta das Laranjeiras, tendo beneficiado do talento do arquitecto Raul Lino que desenhou vários espaços para alguns animais.




"Palácio dos Condes de Farrobo, fachada poente sobre o jardim" (?)
Fotografia de Horácio Novais, in Arquivo Municipal de Lisboa


Fotografia de Alan Soric (2005)



Os jardins do Palácio dos Condes de Farrobo, reconstruídos em 1942-1943 ao gosto francês, encontram-se, hoje em dia, separados do Jardim Zoológico (antiga Quinta das Laranjeiras), por uma decorativa teia de balaustrada.

O palácio foi edificado pelo primeiro barão de Quintela. O segundo barão de Quintela e conde de Farrobo fez na propriedade importantes melhoramentos, construindo em 1820 um grandioso teatro para 560 espectadores, com salão de baile revestido de espelhos e, desde 1830, iluminado a gás, o que era uma grande novidade para a época.

Em 1905 o Jardim Zoológico passou a ocupar grande parte dos terrenos, continuando o palácio e a sua zona ajardinada privativa, na posse da família Burnay.
Em 1940 o Estado adquiriu aos herdeiros da condessa de Burnay toda a propriedade rústica e urbana.





"Jardim Zoológico, escadaria, cascata e parque dos veados" (1959)
Fotografia de Arnaldo Madureira, in Arquivo Municipal de Lisboa


Fotografia de Alan Soric (2005)


As inúmeras remessas de animais vindos de África e do Brasil contribuíram para que, ao longo dos anos, o Jardim Zoológico tivesse uma das colecções de animais mais vasta e diversificada. Destacaram-se, na realidade, alguns governadores das ex-províncias ultramarinas no contributo para o enriquecimento da colecção zoológica com exemplares de espécies exóticas, pouco conhecidas e atractivas.

Em 1952, a Câmara Municipal de Lisboa galardoou esta Instituição com a Medalha de Ouro da Cidade.



"Jardim Zoológico de Lisboa, aldeia dos macacos" (?)
Fotografia de Luís Filipe de Aboim Pereira, in Arquivo Municipal de Lisboa


Fotografia de Alan Soric (2005)



A queda do Estado Novo em 1974 e a consequente independência das antigas colónias em África, significou a quebra do forte apoio prestado ao Jardim Zoológico pelas autoridades na diversificação e renovação da colecção animal.

Por esta altura, o número de visitantes também diminuiu de forma substancial e ocorreram cortes radicais dos subsídios estatais. Assim, foi necessário desenvolver e implementar uma nova estratégia de gestão para o Jardim Zoológico, adequando-o aos valores e necessidades da época.



"Jardim Zoológico de Lisboa, lago do roseiral" (1959)
Fotografia de Arnaldo Madureira, in Arquivo Municipal de Lisboa






Em 1990 a nova política de gestão adoptada tinha por objectivos a modernização do espaço do Jardim, assim como dos serviços.

Deste modo, foram criadas áreas de trabalho específicas com objectivos próprios, para melhorar a colecção e o bem-estar animal, a sua alimentação e os cuidados médico-veterinários.
Em paralelo, foram criados serviços comerciais, de marketing, relações públicas e imprensa, de modo a dinamizar o Parque como parceiro privilegiado das empresas.

Promover, junto do público em geral, a educação para a preservação das espécies animais e do seu habitat natural era, também, uma das principais preocupações, que rapidamente mereceu a criação de um serviço próprio, o Centro Pedagógico.




"Jardim Zoológico, dromedário" (1905)
Fotografia de Paulo Guedes, in Arquivo Municipal de Lisboa


Fotografia de Alan Soric (2005)



Hoje em dia, o Jardim Zoológico de Lisboa é um dos mais conceituados parques temáticos do mundo com uma das maiores colecções zoológicas: 2000 animais distribuídos por 364 espécies (54 das quais são EEP's - "Endangered Species Program").

Constituindo um importante espaço onde aliada à conservação e à educação está uma forte componente de entretenimento e diversão.



"Cemitério dos cães no Jardim Zoológico de Lisboa" (1961)
Fotografia de Arnaldo Madureira, in Arquivo Municipal de Lisboa


Fotografia de Francisco Santos









Material consultado para a elaboração deste post:

- Website do Jardim Zoológico de Lisboa
- Foto-biografia sobre o Palácio do Conde de Farrobo











quarta-feira, 4 de março de 2009

Palacete Rústico






Fotografia disponível in IPPAR




Fotografia disponível in IPPAR




No Nº 384 da Estrada de Benfica, na freguesia de São Domingos de Benfica, fica localizado um dos mais belos e misteriosos palacetes da ancestral Benfica.

Desconhecem-se quem foram os primeiros proprietários deste palacete rústico, datado de meados do século XIX, um dos último vestígios de
um momento na História em que algumas importantes famílias da capital procuraram estabelecer a sua residência em zonas da periferia, onde desfrutavam da calma e qualidade do campo.







Há alguns anos atrás, este palacete votado ao abandono serviu de residência a um desses grupos de adolescentes "ocupas" (os quais têm ainda muito que aprender com os movimentos semelhantes no estrangeiro, que chegam até a restaurar e a reabilitar os edifícios em que se instalam).

Para os retirar daquele espaço, apareceu a PSP e, mais tarde, foi instalado um letreiro gigantesco, anunciando que naquele espaço seria instalada brevemente uma qualquer delegação do Ministério da Cultura.






Os anos foram passando, e o palacete por ali continuava, votado ao abandono, sem que qualquer delegação ou sub-delegação cultural ali se instalasse.

Supostamente, este edifício encontrava-se, em 1994, em vias de classificação enquanto Património arquitectónico, abrangido na Zona Especial de Protecção (ZEP) do "Bairro Grandela; Quinta do Beau-Séjour / Quinta das Campainhas".






E por ali continuava em vias de degradação o palacete rústico do século XIX.
Até que, em meados do ano passado, surgiu numa das suas altaneiras janelas um anúncio de venda. Com a crise económico-social, até os proprietários de património arquitectónico, são obrigados a vendê-lo (quando nunca fizeram nada por ele)!...








terça-feira, 3 de março de 2009

A Respigadora







06/08/06



Domingo à tarde. Ar quente e irrespirável e um sol tórrido que lhe queimava a pele.

Descia a Rua Cláudio Nunes a custo, auxiliada pela sua bengala, quando se deparou com dois grandes sacos de entulho. "Lixo" de outros, que renovavam uma qualquer parte de sua casa.

De repente, dei por ela toda entretida a vasculhar um dos sacos.

Pegou num azulejo amarelado pelo tempo, onde ainda se vislumbravam encantadores desenhos traçados a azulão. Virou, revirou e disse com uma voz demasiado comovida, que lhe parecia sair das profundezas do coração: - "Ai, a minha casa vai ficar tão linda!".





Sobre este assunto, ver/ler também:


"As Respigadoras", de Jean-François Millet (1857)

"Les Glaneurs et la Glaneuse", de Agnès Varda (2000)








segunda-feira, 2 de março de 2009

Janelas de Benfica - I








Tenho um fraquinho por janelas, devo confessar!...

E esta, no nº 576 da Estrada de Benfica, chama-me sempre a atenção, quando por ali passo.

As flores artificiais de plástico conferem-lhe um ar kitsch quanto baste, apesar de tudo, acabam por a transformar numa janela alegre, para a qual até nos dá um certo gosto olhar.

Por detrás da janela, no interior, de cada um dos seus lados, dois pequenos bancos ordenadamente colocados, fazem com que os meus pensamentos devaneiem sempre sobre os rostos de quem nelas se sentará, nas tardes soalheiras.

Gosto de janelas que nos deixam vislumbrar pequenos momentos de uma vida alheia, como se se tratasse de uma tela onde o nosso lirismo tudo pode inscrever.








domingo, 1 de março de 2009

Gente de Benfica - II








Tinha o rosto duro e queimado pelo sol, deformado por feridas antigas encrostadas.
Do braço e perna do lado direito do seu corpo apenas possuía a metade superior, e andava para todo o lado numa cadeira de rodas.

Ao fim da tarde, costumava estar junto à igreja a pedir esmola e conversava com quem vinha da missa, com quem levava os netos à catequese e com os lojistas, interessando-se pelas suas vidas e gracejando com respeito quando a situação se proporcionava a tal.

A forma como o Sr. M falava, o cuidado que colocava nas palavras e os termos que utilizava, denotavam uma pessoa inteligente e com alguma instrução. Pelo que, alguns vizinhos começaram a oferecer-lhe livros e revistas, para que ele lesse e se distraísse um pouco no antigo colégio degradado em que dormia.

Inúmeras vezes, era, também, possível encontrá-lo perto do terreno abandonado de um prédio embargado, onde se sabia que todos os toxicodependentes daquela zona deambulavam.

Na rudeza do seu aspecto ressaltava o facto de andar sempre acompanhado por uma cadela, uma jovem rafeira, arraçada de podengo, de focinho meigo, olhos doces e tristes, que seguia a sua cadeira de rodas diligentemente para todo o lado.
Por vezes, a altas horas da noite, lá ia ele, pelo meio da Estrada de Benfica, na sua cadeira de rodas, transportando-a ao colo, abraçada a ele.

Os dois passavam as manhãs a pedir esmola, à porta do Café "Monalisa", na Estrada-a-Damaia, servindo de atracção para as caridosas senhoras de idade daquele bairro (as quais acabariam por auxiliá-lo para que a cadelinha Meg fosse esterilizada no veterinário local).

No dia 10/02/06, a Meg desapareceu... supostamente, como constava na zona, roubada por ciganos que vendiam no Mercado de Benfica.

Naquele bairro, gerou-se, então, uma onda de solidariedade como tal nunca fora visto. E diversas pessoas se disponibilizaram a procurar a cadelinha, durante semanas a fio.

No dia 04/03/06, a Meg foi resgatada (ou melhor, adquirida em troca de dinheiro) de um ferro-velho num bairro social perto da Alta de Lisboa, regressando para junto do seu dono.

A estória de vida do Sr. M era bem conhecida de alguns autóctones, que se interessaram por saber como ficara naquele estado físico.

Uma história, porém, tem sempre 2 lados!
E o melhor desses lados nem sempre é aquele como a história termina. Ambos podem ser ambivalentes, dúbios e pouco transparentes, induzindo-nos em erro sobre a escolha de qual das melhores probabilidades de uma história acabar.

Em Abril de 2006, o Sr. M foi internado no Hospital Amadora-Sintra com sintomas de hepatite.
Certa noite, em Junho de 2006, regressou a casa dos seus pais num estado muito crítico; vindo a falecer a 06/06/06, minado pelas inúmeras doenças que tinha e com um tumor no fígado como causa de morte.

O Sr. M tinha 38 anos…
A sua estória nunca foi bonita... fruto de tanto engano, para poder sobreviver no mundo em que viveu.
Todavia, prefiro continuar a recordá-lo apenas por aqueles momentos que, em determinada altura, nos pareceram belos e simples, como na fotografia tirada no dia em que a cadelinha Meg lhe foi devolvida.