A fundação e construção do Bairro Grandela está ligada ao desenvolvimento industrial da cidade de Lisboa entre meados do século XIX e as primeiras décadas do século XX, e o consequente crescimento social que daí adveio.
Construído por iniciativa de Francisco de Almeida Grandela, entre 1902 e 1904, na antiga Quinta dos Loureiros (junto à Estrada de Benfica e à ribeira de Alcântara), o bairro destinava-se à habitação dos operários e empregados da Sociedade Algodoeira do Fomento e dos Armazéns e Fábricas Grandela.
Este complexo encontra-se estrategicamente colocado junto à linha férrea (facilitando a circulação de pessoas e mercadorias) e à ribeira de Alcântara, que então corria a céu aberto. Saliente-se que, nos finais do século XIX, quando Francisco Grandela adquiriu a propriedade (limitada pela Estrada de Benfica e pela linha de caminho-de-ferro), esta era ainda uma área periférica, de características rurais, marcada pela existência de hortas, quintas e casas de veraneio de famílias abastadas.
O bairro, terminado em 1910, é constituído por um conjunto de 70 habitações, dispostos em dois grandes corpos edificados que formam igual número de quarteirões.
Estes corpos dividem-se em dois pisos, nos quais a habitação superior tem acesso directo à rua através de escada com alpendre.
Numa outra zona dos quarteirões foram edificadas as moradias unifamiliares, destinadas a alojar funcionários hierarquicamente superiores (os encarregados da fábrica).
No topo de cada um destes blocos, foram construídos dois edifícios de grandes proporções, cuja fachada é precedida por escadaria, possuindo pórtico apoiado em seis colunas, com frontão decorado com a insígnia de Francisco Grandela: "Sempre Por Bom Caminho e Segue".
Estes espaços estavam destinados primitivamente à escola primária e à creche dos filhos dos operários da Fábrica Grandela.
Na viragem do século, os Armazéns Grandela, com as suas 40 secções, ofereciam ao consumidor uma larga variedade de artigos acessíveis a todas as bolsas.
Os grandes armazéns democratizaram o comércio da moda, pouco a pouco impuseram ao conjunto da população os seus modelos de vestuários, os seus gostos através de campanhas de publicidade, nomeadamente dos catálogos.
No Bairro Grandela também muitas famílias, especialmente as mulheres que durante o dia trabalhavam na fábrica, faziam serão nas suas casas, à luz do candeeiro de petróleo, costurando as peças que já traziam talhadas das oficinas.
O Bairro Grandela encontra-se abrangido na Zona Especial de Protecção (ZEP) do Património da "Quinta do Beau-Séjour / Quinta das Campainhas", sendo, também, Património Técnico-Industrial Classificado desde 1984.
O Bairro Grandela perdeu há muito tempo as suas funções iniciais; persistindo ainda, todavia, muitas formas de vida e de partilha comunitária naquele espaço.
Ver mais informação sobre os pátios e vilas operárias na cidade de Lisboa aqui.
Sobre Francisco Grandella consultar:
A.A.V.V. – Grandela e o Comércio de Lisboa: As inovações numa sociedade tradicional, in "Grandella", Maria Goretti Matias, CML, 1994
Sobre Francisco Grandella consultar:
A.A.V.V. – Grandela e o Comércio de Lisboa: As inovações numa sociedade tradicional, in "Grandella", Maria Goretti Matias, CML, 1994
4 comentários:
Obrigada Xana por esta introdução a uma das mais típicas zonas da minha actual freguesia e por sinal bem perto de mim.
Está lindo...
Cristina
Quando se entra no Bairro Grandela, a primeira casa do lado esquerdo, era habitada há cerca de 40 anos por uma colega dos teus avós.
Já lá tinham vivido os pais,entretanto falecidos,e quando a conheci tinha parte da casa alugada.
Querida Cristina: não precisa agradecer :)
O post estava em atraso... e as fotos só foram tiradas ontem, quando aí estive, num dia tão bonito e solarengo (apesar do vento).
Bj gd
Cecília: Aí se prova que Benfica é, de facto, uma pequenina aldeia, onde todos, de alguma forma, se conhecem ;)
A grande maioria das casas no Bairro Grandela encontram-se, actualmente, para venda. Os moradores foram-se "reestruturando", dando origem a uma nova massa urbana, cada vez mais jovem.
Pena que as habitações por ali sejam tão pequenas, pois deve ser bem agradável viver ali.
Bjs
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