terça-feira, 31 de julho de 2012

A Quinta da Feiteira (Capítulo IV)




Todos os direitos reservados @ Fausto Castelhano, "Retalhos de Bem-Fica" (2012)







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A Quinta da Feiteira (IV)
Local mítico da Freguesia de Benfica

Do Regicídio à instauração da República Portuguesa.
A extinção do Campo da Feiteira


(por Fausto Castelhano)



O panorama político/social que se observava em todo o território português no início do ano de 1908 era marcado por uma catadupa de acontecimentos verdadeiramente perturbadores e que assumiam um carácter de rebeldia generalizada, não só contra o governo de João Franco mas, inclusivamente, colocando em causa a existência da própria Monarquia.



Artur Augusto Duarte Luz de Almeida, Grão-Mestre da Carbonária. Foi preso após a tentativa abortada do derrube da Monarquia em 28 de Janeiro de 1908 (Foto Wikipédia).


A persistente conflitualidade iria prolongar-se, não só até à queda do velho e caduco regime monárquico e da instauração da Primeira República Portuguesa mas, prosseguirá muito para além do início da nova ordem política imposta à sociedade portuguesa.

Vejamos em breves traços, uma amostragem dos principais factos ocorridos desde o período mencionado anteriormente, não só até à Revolução de 5 de Outubro de 1910 mas, um pouco mais além, isto é, à data da promulgação da Constituição da República Portuguesa de 1911.



O Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908 - O Rei D.Carlos I e o príncipe herdeiro Luís Filipe seriam abatidos em pleno Terreiro do Paço (Foto - Wikipédia).


Assim, a 26 de Janeiro de 1908, é publicado o célebre Manifesto do Directório Republicano onde se sublinhava: “o que é necessário é suprimir as opressões e não os homens do regime”; a 28 de Janeiro e na sequência das prisões dos ilustres dirigentes republicanos França Borges (director do jornal “O Mundo”), João Chagas, António José de Almeida e Luz de Almeida (Grão-Mestre da Carbonária), foi desencadeado um golpe revolucionário onde confluiram dissidentes progressistas e republicanos e cujo objectivo principal consistia em derrubar, de imediato, a Monarquia. Decapitada a rebelião, a polícia desencadeou a caça aos revoltosos (acusados de conspiração) e captura o republicano de alto gabarito Afonso Costa. O mesmo irá acontecer ao Visconde da Ribeira Brava, Dr.Egas Moniz e Álvaro Poppe. José de Alpoim e os Viscondes de Pedralva e Ameal escaparam às buscas e refugiaram-se em Espanha, contra os quais seriam emitidos mandatos de captura. Serão presos, ainda, cerca de 120 pessoas implicadas no movimento golpista. É num contexto de enorme contestação ao regime monárquico que, no dia 30 de Janeiro de 1908, o ministro Teixeira de Abreu embarca a caminho do Palácio de Vila Viçosa e vai submeter, à “referenda régia”, um decreto que previa a expulsão do País ou à deportação para as colónias de África e Timor de todos os alegados envolvidos em conspirações ou delitos contra a “segurança do Estado”.
Os carbonários Manuel Buíça e Alfredo Costa, dois dos principais protagonistas do regicídio e autores dos disparos mortais sobre o Rei D. Carlos I e o Príncipe herdeiro D.Luís Filipe (Foto Wikipédia).


O Decreto de 31 de Janeiro tem a concordância do rei D. CarlosI, será impresso no mesmo momento e vai entrará, imediatamente, em vigor…Na posse do sinistro decreto, o contestado governo de João Franco obtém um essencial instrumento de brutal repressão administrativa sobre os seus opositores directos.



D. Manuel II (“O Patriota”), o último Rei de Portugal e que sucedeu a D.Carlos I, assassinado a 1 de Fevereiro de 1908 (Foto Wikipédia).


O desenrolar de tão relevantes acontecimentos iria culminar no dramático regicídio de 1 de Fevereiro de 1908 e provocará uma vaga de profundas repercussões, mormente nos países da Europa. A Família Real Portuguesa será duramente atingida no regresso do palácio de Vila Viçosa quando, à chegada a Lisboa, o Rei D. Carlos I e o Príncipe herdeiro D. Luís Filipe são abatidos a tiro em plena Praça do Terreiro do Paço. Então e no mesmo momento, dois vultos emergem do anonimato e vão elevar-se a estrelas de primeiríssima grandeza: os carbonários Manuel Buíça e Alfredo Costa, os autores dos disparos certeiros.
Segue-se um conjunto de factos importantes e que, aos poucos, vão transformando e decisivamente, a conjuntura do próprio país: a 2 de Fevereiro de 1908 e sucedendo a seu pai, o Rei D. Carlos I, tem lugar a proclamação de D. Manuel II, o novo rei de Portugal. No mesmo dia, o Conselho de Estado reúne e resolve despedir, sem apelo nem agravo, o governo de João Franco; a 4 de Fevereiro, é formado o Ministério de Ferreira do Amaral e, logo no dia seguinte, serão anuladas algumas medidas repressivas do anterior governo de João Franco, tais como, a Lei de Imprensa e o Decreto de 31 de Janeiro de 1908. A 5 de Fevereiro, João Franco vai abandonar o país e partir para o exílio e, no dia 6 de Fevereiro de 1908, os presos políticos serão libertados das prisões.
Os funerais do rei D. Carlos I e do Príncipe D. Luís Filipe ocorrem a 6 de Fevereiro e no dia 12 será decretada a amnistia geral que vai abranger os marinheiros implicados nas revoltas de 8 e 13 de Abril de 1906.
Anselmo Braamcamp Freire (“O Fidalgo da República”) é eleito o primeiro Presidente da Câmara Municipal de Lisboa nas Eleições Municipais de 1 de Novembro de 1908 (Foto Wikipédia).


Os conflitos, incidentes e as cenas embaraçosas de toda a ordem sucedem-se a cada passo sem momentos de pausa: a 5 de Abril têm lugar as Eleições Legislativas e no dia 26 de Abril, as Cortes abrem as portas, novamente… No Parlamento, a aclamação solene do Rei D. Manuel II, o novo rei de Portugal, ocorre no dia 6 de Maio; a 1 de Novembro e pela primeira vez, os Republicanos vencem a Câmara Municipal de Lisboa na sequência das Eleições Municipais convocadas pelo governo de Ferreira do Amaral e conseguem eleger todos os seus candidatos.



Ruínas da Igreja Matriz de Benavente após o tremor de terra de 23 de Abril de 1909 (Foto Wikipédia).



Entra-se no novo ano e, seguindo à letra a praxe parlamentar, o monarca D. Manuel II profere o discurso da Coroa na abertura das Cortes.
A 30 de Março de 1909, a equipa governativa de Campos Henriques sai de cena após veementes protestos da oposição republicana, surgidos no dia em 24 de Março, e que acusavam o ministro Manuel Espregueira de estar envolvido até ao pescoço em vários escândalos económicos/financeiros.
Ainda durante o mês de Março e inserida na crise aguda do sector vitivinícola, ocorrem gravíssimos motins da região do Douro e tendo como resultado, assaltos populares às Repartições da Fazenda.
A 11 de Abril, Sebastião Teles consegue formar novo governo...
A 23 de Abril de 1909, um fortíssimo terramoto com a magnitude de 6,7 na escala de Richter atingiu as regiões de Benavente, Salvaterra de Magos e Samora Correia provocando a destruição de numerosas habitações e a morte de 38 pessoas. A falta de socorros atempados foi alvo de acesas críticas na imprensa da época.
O governo de Sebastião Teles não se aguenta e será derrubado a 25 de Abril porém, a 14 de Maio avança um novo elenco governativo chefiado por Wenceslau de Lima. No dia 1 de Maio de 1909 é instituída a jornada de 8 horas diárias de trabalho mas, só os funcionários da Câmara Municipal de Lisboa serão abrangidos por tal medida.


Francisco António da Veiga Beirão liderou o governo de Portugal de 22 de Novembro de 1909 até 26 de Junho de 1910 (Foto Wikipédia).


Em Julho, o Partido Republicano organiza uma Comissão Militar tendo, por finalidade última, preparar a “revolução republicana”.
A manifestação anticlerical de 2 de Agosto de 1909 realizada na cidade de Lisboa consegue reunir uma impressionante multidão calculada em cerca de 100.000 cidadãos.
A 22 de Novembro, é constituído mais um governo, agora liderado por Veiga Beirão e que vai permanecer até 26 de Junho de 1910.
Em 29 de Novembro, os republicanos consolidam a sua influência política e vencem as eleições em 122 paróquias.



Dr. Miguel Bombarda, médico, cientista, professor e político republicano português. Assassinado a tiros de revólver no dia 3 de Outubro, vésperas da Revolução do 5 de Outubro de 1910 (Foto Wikipédia).


Com o aparato habitual, as Cortes abrem a 2 de Janeiro de 1910; a 1 de Fevereiro, comovente romagem no Cemitério do Alto de S. João. Muitas flores nas respectivas campas e discursos patrióticos e inflamados na homenagem aos regicidas Alfredo Costa e Manuel Buíça considerados heróis nacionais pelos Republicanos e outras organizações políticas.
O 11º Congresso do Partido Republicano reúne no Porto nos dias 29 e 30 de Abril e, a 14 de Maio, o rei D. Manuel II preside à sessão inaugural do Congresso Nacional havida na Sociedade de Geografia de Lisboa.
Mais uma tentativa de insurreição republicana a 14 de Junho e que coincide com o aniversário da Tomada da Bastilha mas, devido à hesitação do Regimento de Caçadores 2, a iniciativa revolucionária é adiada para um momento considerado mais oportuno.
As Cortes serão dissolvidas a 27 de Junho e a 22 de Julho, o Partido Republicano toma a iniciativa de enviar, a Paris e Londres, José Relvas, Magalhães Lima e Alves da Veiga a fim de estabelecerem contactos diplomáticos com os governos de França e Inglaterra.



Machado Santos foi um militar (Comissário Naval de 3ªclasse) e político português, considerado o fundador da República Portuguesa pelo denodo com que se bateu na Revolução de 5 de Outubro de 1910 e depois na defesa do regime contra a intentona monárquica de 22 a 24 de Janeiro de 1919 em Monsanto (Foto Wikipédia).



Temendo um movimento revolucionário das oposições republicanas, o governo decide colocar as tropas de prevenção a 19 de Agosto de 1910. As eleições têm lugar a 28 de Agosto, o Parlamento abre a 23 de Setembro mas, no dia seguinte, as Cortes serão transferidas para data a definir.
As greves maciças dos corticeiros, tanoeiros e garrafeiros ocorrem a 29 de Setembro em todo o território nacional. Após as reuniões decisivas de 29 de Setembro e de 2 de Outubro de 1910 onde participaram os principais dirigentes políticos e militares republicanos, além da Maçonaria e da Carbonária, será marcada a data definitiva da insurreição republicana: 1 hora da manhã do dia 4 de Outubro.



5 de Outubro de 1910 - Civis e militares revolucionários protegem-se nas barricadas da Rotunda
(Foto Wikipédia).



Inexoravelmente, o fim da Monarquia aproximava-se… Num ápice, os acontecimentos precipitaram-se a grande velocidade…
A 3 de Outubro, Miguel Bombarda é assassinado por um seu antigo doente, oficial do Exército e que sofria de perturbações mentais.
Logo que a funesta notícia estourou, têm lugar várias manifestações espontâneas.
Às 00.45 horas do dia 4 de Outubro, um grupo de civis armados sob o comando do oficial da Marinha de Guerra, Machado Santos, saem do Centro Republicano de Santa Isabel, em Campo de Ourique, e apoderam-se do Quartel de Infantaria 16 e o mesmo acontece a outras unidades militares. Finalmente, a revolução estava na rua…
Pelas 03.00 horas da manhã de 4 de Outubro, cidadãos armados (quase todos partidários da Carbonária) e militares republicanos comandados por Alberto Meireles convergem para a Rotunda e levantam barricadas improvisadas. Posteriormente, Machado Santos assumirá o comando do contingente insurrecto.
O almirante Cândido dos Reis, principal responsável militar do movimento revolucionário suicida-se na madrugada do dia 4 de Outubro uma vez que, tendo conhecimento de informações bastante contraditórias, acreditou que a revolução em marcha estaria perdida. Por volta das 11 horas, os cruzadores "Adamastor" e "S. Rafael", já controlados pelas forças republicanas, tomam posição de tiro frente a Alcântara e disparam fogo cerrado e certeiro sobre o Palácio Real das Necessidades.



O cruzador Adamastor desempenhou um papel importante no golpe de 5 de Outubro de 1910, que levou à implantação da República Portuguesa, sendo responsável pelo bombardeamento do Palácio Real das Necessidades (Foto Wikipédia).


Aterrado pela metralha das granadas disparadas dos navios da Marinha e temendo pela sua própria segurança, o Rei D. Manuel I inicia uma fuga desesperada em automóvel (cerca das 14.00 horas, após instruções recebidas dos seus conselheiros de confiança) e encaminha-se para o Palácio de Mafra onde se vai refugiar.
Contactadas, a Rainha-mãe (D.Amélia de Orleans) e a avó (D. Maria Pia), que se encontravam no Palácio de Sintra partem em direcção a Mafra (na companhia de dedicados cortesãos) onde se vão juntar ao monarca.



Alegoria da implantação da República Português em 5 de Outubro de 1910 (Foto Wikipédia) .



Ao princípio da tarde do dia 4 de Outubro, a bandeira republicana é hasteada nos Paços do Concelho de Loures onde a República será proclamada pela voz de Augusto Moreira Feio. O mesmo acontece em Almada, Setúbal, Moita, Montijo, etc.
Cerca das 16.00 horas do dia 4 de Outubro, os navios fundeados no Tejo deslocam-se para a frente do Terreiro do Paço e começam a bombardear o Rossio onde se encontravam tropas fiéis à Monarquia.
Pelas 22.00 horas, o cruzador "D. Carlos", que permanecia sob comando monárquico resolve aderir às aos republicanos com toda a sua guarnição.
Ao romper do dia 5 de Outubro, tropas ainda fiéis à Monarquia e comandadas por Paiva Couceiro continuam a resistir estoicamente e, em desespero, abrem fogo nutrido sobre a Rotunda onde se mantêm entricheiradas forças republicanas.
Pouco depois, todos os navios de guerras fundeados no rio Tejo e afectos à Monarquia colocaram-se a favor das forças revoltosas.
Os marinheiros ameaçam desembarcar e retaliar sobre os militares monárquicos que ainda não se renderam. Perante a prova de força evidenciada pelo movimento revolucionário, as forças monárquicas silenciam as armas e iniciam a debandada geral.




Proclamação da República no dia 5 de Outubro de 1910 na varanda dos Paços do Concelho de Lisboa (Foto Wikipédia).


Às 11 da manhã do dia 5 de Outubro é proclamada a República à varanda dos Paços do Concelho da cidade de Lisboa. É constituído, imediatamente, um Governo Provisório.
O Príncipe real D. Afonso embarca em Cascais no iate Amélia, "por ordem do governo provisório”, e toma o rumo da Ericeira onde vai recolher a Família Real e o seu séquito (Marquês do Faial, Conde de Sabugosa, etc.).



Praia da Ericeira, 5 de Outubro de 1910. A Família Real Portuguesa prepara-se para partir para o exílio a bordo iate Amélia (Foto Wikipédia).



Emocionada, a população da vila piscatória da Ericeira, debruçada nas arribas sobre a praia, acena o derradeiro adeus aos símbolos da derrubada Monarquia Constitucional e que agora, apressadamente, se preparam para tomar o caminho do exílio donde jamais voltarão.
Depois, o povo toma de assalto as ruas e festeja, ruidosamente, a implantação da República Portuguesa. Será melhor? Só o tempo dirá se algo vai mudar para melhor…
O Governo Provisório publica a Constituição da República em 1911 porém, a saga prosseguirá por muitos e longos anos…
O derrube de governos continuará em bom ritmo a par de desordens, prisões e perseguições arbitrárias, golpes e contra-golpes, greves e assassinatos, etc. A Ditadura Militar (Ditadura Nacional) surge na passada da golpaça implacável do 28 de Maio de 1926 e o chamado “Estado Novo” já estava preparado e entra em cena em 1933 no intuito declarado de arrumar casa (regime político autoritário e corporativista). No início avança de pantufas e, depois, entra à bruta. Só muitos anos depois, o 25 de Abril aplicará estrondoso safanão na sociedade portuguesa. A festarola do povo miúdo, porém, aguentou-se pouquinho… apenas até ao 25 de Novembro de 1975.
Pelo meio, e desde a data longínqua do desabar da Monarquia, duas mortíferas Guerras Mundiais (1914/18 e 1939/45), a dramática Guerra Civil de Espanha (1936/39), as infindáveis Guerras Coloniais (Guiné, Angola e Moçambique), as Prisões Políticas (Caxias, Peniche, Aljube, Angra do Heroísmo), os Campos de Concentração (S. Nicolau e Tarrafal) e crimes, muitos e hediondos crimes. Povo sofredor e que, certamente mereceria melhor sorte…
Bom, mas regressemos ao nosso tema e recuar um pouco no tempo, isto é, aos primórdios do Século XX e à esfera do Desporto…

Emblema do Sport Lisboa e Benfica após a fusão do Sport Lisboa e do Grupo Sport Benfica em 13 de Setembro de 1908 (Foto Wikipédia).


Aparentemente imperturbável face ao desenrolar das consequências originadas, quer pelo recente e dramático regicídio do Rei D. Carlos I (e do Príncipe herdeiro D. Luís Filipe) e à posterior implantação da República Portuguesa, quer devido às inúmeras crises que, a todos os níveis e sectores minavam a conturbada sociedade portuguesa, o desporto não seria afectado por tais acontecimentos e desenvolvia as suas actividades sem qualquer sobressalto envolvendo clubes, associações e a extrema carolice de dirigentes desportivos, adeptos e atletas.


Campo da Feiteira, 25 de Outubro de 1908 - A primeira equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica da época de 1908/1909 quando efectuou o primeiro jogo oficial para o Campeonato Regional de Lisboa. Vitória por 2-0 sobre o Sporting Clube de Portugal (Foto Wikipédia) .



Abundavam obstáculos e hesitações de ordem vária, seja em termos de organização ou recursos financeiros e que se perfilavam como óbices de monta, impedindo um desenvolvimento mais dinâmico e harmonioso como se desejava, à semelhança do que acontecia com as congéneres de outros países mais avançados na área desportiva.
O Futebol prosseguia na disputa dos Campeonatos Regionais e de esporádicos encontros de índole particular onde intervinham, não só equipas portuguesas mas, também, estrangeiras.
Mas, voltemos ao ano de 1908 quando, algo se movimentou na pitoresca Freguesia de Benfica e estremeceu a pacatez do burgo, chamando as atenções gerais das hostes desportivas, mormente na capital alfacinha.
Assim, no início da Primavera de 1908, têm início os primeiros contactos (que se irão prolongar até aos finais do Verão do mesmo ano) entre dirigentes do Sport Lisboa e do Grupo Sport Benfica (clube vocacionado, essencialmente, para a prática do Atletismo e Ciclismo) e cujo objectivo final seria a eventual aliança entre as duas agremiações desportivas, ideia genial que bailava com vigor e inusitada persistência na mente dos dirigentes do Sport Lisboa, propósito que fora amplamente discutido e escalpelizado em plena Assembleia Geral do clube que, por fim, se mostrou favorável ao aliciante projecto…



Pormenor do primeiro jogo de futebol disputado no Campo de Feiteira em 25 de Outubro de 1908 entre o Sport Lisboa e Benfica e o Sporting Clube de Portugal. Em segundo plano, observam-se a Igreja de Benfica e entre algumas moradias da Estrada de Benfica, avista-se a Vila Ana (Foto Wikipédia).


Às amistosas conversações apresentaram-se figuras distintíssimas de ambos os clubes, como sejam Cosme Damião e Felix Bermudes (Sport Lisboa) e Luis Carlos Faria Leal e António Sobral (Grupo Sport Benfica) que, por fim, acabariam por chegar à meta almejada.
Assim, a 13 de Setembro de 1908 e após o afortunado enlace entre o Sport Lisboa e o Grupo Sport Benfica, nascia uma novíssima colectividade a qual, ficaria registada sob o nome de Sport Lisboa e Benfica. O cidadão João José Pires seria eleito o primeiro presidente do clube.
Por influência directa do local da cidade de Lisboa para onde se transferira com armas e bagagens, ao nome original do Sport Lisboa seria acrescentado Benfica e, a partir daí, o novo clube iria perfilhar a designação definitiva de Sport Lisboa e Benfica.




Equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica na época de 1909/1910 (Foto Wikipédia).


Após breve, pacífico e enleante namoro, o casamento entre as duas colectividades desportivas estava, por fim, consumado, a contento de ambas as partes e, a partir do histórico dia 13 de Setembro de 1908, o Sport Lisboa e Benfica começou, efectivamente, a utilizar o parque desportivo da Quinta da Feiteira como campo desportivo próprio.
Casamento um tanto ou quanto desigual como se poderá constatar e onde, o noivo proveniente da Freguesia de Belém transportou no magro bornal, apenas meia dúzia de exímios e dedicados atletas, mas o outro nubente apresentou-se, dignamente, carregando um riquíssimo enxoval no regaço, um formidável espólio que nunca será demais mencionar e, sem qualquer hesitação, abriu o seu coração e entregou-se de corpo e alma para todo o sempre…
A fusão resultante das duas colectividades implicou a absorção, pelo novel clube lisboeta, de toda a estrutura do Grupo Sport Benfica, ou seja, dirigentes e associados, a sede e as instalações desportivas incluindo, claro está, o rectângulo de jogos da Quinta da Feiteira…
A sede do clube foi transferida para uma moradia no antigo Beco Visconde Sanches Baena, a conhecida Travessa do Rio e seria recrutado, também, um competente corpo de dirigentes: Direcção, Conselho Fiscal e Mesa da Assembleia Geral. A adesão de adeptos ao novo clube é entusiástica e o número de associados inscritos elevou-se, rapidamente, e atingirá a notável fasquia de 276 sócios…



Campo da Feiteira em 23 de Janeiro de 1910 - Equipa do Sport Lisboa e Benfica no jogo contra o Carcavelos. Cosme Damião foi o capitão de equipa. O jogo foi arbitrado por Eduardo Pinto Basto (Foto de Joshua Benoliel - Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa).


Especialmente vocacionado para a modalidade do Futebol, o Sport Lisboa e Benfica absorve a estrutura futebolística do Sport Lisboa, manteve o excelente lote de futebolistas oriundos da formação de Belém e perservou a camisa vermelha e o calção branco como o seu equipamento principal. O emblema adopta, por base, a águia e a divisa "E Pluribus Unum" e introduz a roda de bicicleta, um dos símbolos que identificavam o Grupo Sport Benfica, tal como ainda hoje se poderá observar na actual insígnia do Sport Lisboa e Benfica.



Equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica na época de 1910-1911 (Foto Wikipédia).


Embora irrompesse à luz do dia em 13 de Setembro de 1908, após a fusão com o Grupo Sport Benfica (fundado em 1906), o Sport Lisboa e Benfica assume-se como legítimo herdeiro do ex-Sport Lisboa e continua a preservar a data de 1904 como registo oficial do seu nascimento… Na nossa modesta opinião, trata-se de uma flagrante adulteração histórica que urge corrigir…
O primeiro jogo disputado no Campo da Feiteira, e já assumindo o nome de Sport Lisboa e Benfica, realizou-se em 25 de Outubro de 1908 e contava para o Campeonato Regional de Lisboa. O Sport Lisboa e Benfica confrontou-se com o Sporting Clube de Portugal e venceu a partida pelo resultado final de 2-0.
O Sport Lisboa e Benfica vai expandir-se, rapidamente, por todo território nacional, quer em número de adeptos e associados, quer em resultados desportivos alcançados. Tendo em vista as condições altamente favoráveis do clube, a direcção do Sport Lisboa e Benfica reuniu-se em Assembleia Geral (4-11-1908) e deliberou o seguinte: contactar o proprietário da Quinta da Feiteira, o Comendador César de Figueiredo e sondá-lo no sentido de obter expressa autorização para efectuar obras urgentes consideradas indispensáveis visando melhorar, de modo bastante significativo, as condições do espaço que utilizavam, isto é, a Várzea da Quinta da Feiteira.



Campo da Feiteira em Benfica em Outubro de 1910 - Equipa suplementar do Sport Lisboa e Benfica. Em segundo plano, observam-se as Vilas Ana e Ventura (Foto de Joshua Benoliel - Arquivo Fotográfico da Municipal de Lisboa).


Garantido o financiamento necessário pelo presidente da Direcção do clube, João José Pires, pretendia-se dotar o recinto desportivo com bancadas destinadas aos espectadores, balneários reservados aos atletas e, ainda, proceder à construção de uma sede própria.
Presumia-se que as obras de beneficiação seriam bastante onerosas e, assim, sem mais demoras, solicitava-se ao proprietário da Quinta da Feiteira, o urgente arrendamento do recinto de jogos da Várzea por um prazo nunca inferior a 10 anos…




Campo da Feiteira no dia 20 de Maio de 1911 - Equipa de futebol do CIF-Clube Internacional de Futebol - Em segundo plano observa-se a Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica e os edifícios das Vilas Ana e Ventura (Foto de Joshua Benoliel - Arquivo Municipal de Lisboa).


O resultado final das negociações saldou-se por um autêntico fiasco causando bastantes apreensões aos principais dirigentes do clube.
O próprio Presidente da Direcção reuniu os restantes membros dos corpos sociais da jovem agremiação e fez questão em relatar com minúcia, as diligências empreendidas e, também, transmitir o total fracasso das suas pretensões, face às imposições exageradas do proprietário da Quinta da Feiteira e que se reflectiam na inesperada exigência apresentada aos dirigentes do Sport Lisboa e Benfica… Ou seja, uma vez que a Câmara Municipal de Lisboa pretendia criar um Parque Urbano numa parcela da Quinta da Feiteira e destinado ao usufruto da população local, tornava inviável acolher as legítimas pretensões do Sport Lisboa e Benfica.
Não obstante, se a curto prazo a Câmara Municipal de Lisboa não viabilizasse o seu próprio projecto, César Augusto de Figueiredo venderia o terreno (avaliado em cerca de 60 contos de réis) e que, em princípio, já estaria consagrado à construção de um conjunto de moradias de habitação. Ou seja, se o acordo não se confirmasse, o proprietário da Quinta da Feiteira daria preferência ao Sport Lisboa e Benfica e concluiria, então e a longo prazo, um contrato de arrendamento, apenas na área correspondente ao espaço do recinto desportivo e cuja avaliação rondaria os 20 contos (20 milhões de réis). Desta forma, a renda estabelecida seria calculada na base de 4 por cento ao ano sobre a referida verba, isto é, 800 mil réis
(800$00).



1911 - Campo da Feiteira em Benfica - Jogo entre o Sport Lisboa e Benfica e o Império. Triunfo por 2-0 (Foto Wikipédia).


Tal informação provocou profunda preocupação e mal-estar entre dirigentes, associados e atletas. Na realidade, o elevado valor da renda proposta tornava-se insustentável face aos limitados recursos financeiros da colectividade.
A solução para o magno contratempo seria procurar, rapidamente, um terreno no território da Freguesia de Benfica e que oferecesse condições ideais para a construção de um campo de jogos digno de um clube já com extraordinária projecção no movimento desportivo nacional.



Campo da Feiteira em Benfica em 21 de Maio de 1911 - Equipa da Associação de Futebol de Lisboa que jogou com os estudantes de Bordéus e venceu por 5-1 Em segundo plano, observa-se o casario da zona histórica da Freguesia de Benfica destacando-se, as Vilas Ana e Ventura e, também, a Igreja Paroquial de Benfica (Foto de Joshua Benoliel - Arquivo Municipal de Lisboa).


Ao longo do ano de 1909, os dirigentes do Sport Lisboa e Benfica envidaram incessantes esforços na procura de locais apropriados tendo por alvo instalar um campo desportivo próprio e adequado às prementes necessidades do clube porém, tais iniciativas, embora denodadas, forneceram escassos resultados e não foram coroadas de qualquer êxito palpável. Tal desiderato só viria a acontecer anos mais tarde e depois do clube renunciar ao Campo da Feiteira.
Afinal, a esperança da obtenção de um campo desportivo próprio na Freguesia de Benfica desvanecera-se como fumo…
É provável que o titular da Quinta da Feiteira, o comendador César de Figueiredo acalentasse projectos ambiciosos que englobavam os seus valiosos terrenos, tendo como alvo prioritário, rentabilizar ao máximo a sua propriedade situada em local bastante privilegiado da Freguesia de Benfica.
Sabe-se de fonte segura que o vereador da Câmara Municipal de Lisboa, António Alberto Gomes, personalidade de enorme prestígio na Freguesia de Benfica e amigo pessoal César de Figueiredo, logo que a República Portuguesa se consumou nos finais de 1910, propôs ao titular da Quinta da Feiteira que cedesse, à edilidade alfacinha, o espaço arborizado da sua bela propriedade. O objectivo seria, após convenientes alterações a realizar no espaço pretendido, implantar um Parque Público destinado ao usufruto dos habitantes de Benfica e, em contrapartida, a edilidade lisboeta autorizaria que a restante área da Quinta da Feiteira ficasse livre permitindo a construção de moradias em futura urbanização.




Campo da Feiteira em 22 de Maio de 1911 – A equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica no jogo de estreia internacional contra o Stade Bordelais Université Club. A equipa do Benfica era treinada e capitaneada por Cosme Damião (Foto Wikipédia).


Proposta absolutamente irrecusável e, claro está, aceite de imediato. Em perspectiva, um formidável negócio abarcando um naco de terreno bastante valioso sob todos os aspectos na zona nobre da Freguesia de Benfica…
Obras de conservação no Campo da Feiteira ainda se concretizaram no ano de 1910 mas, o desfecho para o magno problema só viria a surgir em 1912, graças ao arrendamento do campo de Sete Rios.


Campo da Feiteira em 22 de Maio de 1911 - Equipa de futebol do Stade Bordelais Université Club que se defrontou com o Sport Lisboa e Benfica. Resultado: derrota do Benfica por 2-4. Ao centro e em segundo plano, a Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica (Foto Wikipédia).


Sem qualquer alternativa e tendo como horizonte a mudança de ares, o Sport Lisboa e Benfica aprontou-se para dizer o adeus definitivo ao mítico local onde adquiriu especial projecção, arrastou multidões de adeptos e difundiu a sua crescente popularidade por todos os recantos do país…
O dia 22 de Maio de 2011 foi uma data marcante para o Sport Lisboa e Benfica. Precisamente nesse dia, o Benfica defrontou, em desafio a amigável, a equipa francesa do Stade Bordelais Université Club (o Benfica sairia derrotado por 2-4). Seria o primeiro desafio a nível internacional da sua história e, também, o derradeiro encontro de futebol disputado no Campo da Feiteira.
A maior assistência de público no Campo da Feiteira aconteceu em 23 de Janeiro de 1910 no jogo disputado entre as equipas do Sport Lisboa e Benfica e o Carcavelos Clube tendo, a “equipa da casa” derrotado o adversário pelo “score” de 1-0. O desafio contava para o Campeonato Regional de Lisboa e, à entusiástica peleja assistiram 8.000 espectadores.



O excelente futebolista Artur José Pereira conduz a bola num ataque do Sport Lisboa e Benfica no primeiro jogo a nível internacional contra a equipa do Stade Bordelais Université Club e que se disputou no Campo da Feiteira, em Benfica, a 22 de Maio de 1911. Resultado final: derrota do Benfica por 2-4. Em segundo plano e à direita, a Vila Ana e agora, também, a Vila Ventura (Foto Wikipédia).


O Campo da Feiteira manteve-se na posse do Grupo Sport Benfica desde o dia 26 de Maio de 1906 e, após a fusão com o Sport Lisboa em 13 de Setembro de 1908, o recinto desportivo permaneceu como campo de jogos principal, agora do Sport Lisboa e Benfica, até 31 de Dezembro de 1911.
E pronto, o Benfica vai botar a trouxa ao ombro e encetar uma longa e atribulada odisseia, saltitando por vários locais da cidade de Lisboa, seja em campos desportivos alugados ou cedidos por outros clubes amigos da capital lisboeta (Palhavâ, 1911/1912; Laranjeiras, 1912/1913; Sete-Rios, 1913/1917; Quinta do Marrocos - Campo de Benfica, 1917/1923; Campo Grande e Palhavâ, 1923/1925), seja em espaço desportivo próprio (Estádio das Amoreiras, 1925/1940).



A Catedral, o Estádio do Sport Lisboa e Benfica. Foto obtida de nascente para poente. Ao longe, observam-se as quintas da Granja, Charquinho e Sarmento ou Bom-Nome, a parte mais elevada do Cemitério de Benfica e respectiva capela, as duas manchas de arvoredo da Mata de Benfica ou Parque Silva Porto e da Quinta das Palmeiras ou Mata do Galla (Foto Wikipédia).


De raspão, apenas uma referência à permanência do “clube da águia” no seu regresso à Freguesia de Benfica em 1917 quando absorveu a agremiação Desportos de Benfica (fundada em 1911) e a totalidade do seu património, isto é, o edifício da sede, ringue de patinagem e outros espaços desportivos inseridos na Quinta do Marrocos. A seu tempo, dedicaremos a maior atenção a este importante tema.
Finalmente, e depois de utilizar as instalações do Estádio do Campo Grande (1941/1954), o Sport Lisboa e Benfica encontra um lugar à medida da sua extraordinária dimensão e onde assentará arraiais em definitivo, curiosamente, pertinho do berço onde nascera no ano de 1908 e ensaiara os primeiros passinhos.
Exactamente, na confluência das freguesias de Benfica e Carnide, perante o entusiasmo de apaniguados do popular clube e à custa do labor ciclópico de abnegados operários e maquinaria pesada nunca vista será erguida, no ano de 1954, a famosa Catedral.
O monstruoso empreendimento acarretou a posterior demolição total de uma das mais carismáticas quintas existentes nas redondezas: a Quinta de Montalegre, outrora conhecida por Quinta de Dona Leonor ou Quinta de Carlos Anjos.
A morte da mítica Quinta da Feiteira ocorreu no fatídico dia 23 de Julho de 1911 quando batalhões de trabalhadores à jorna, munidos picaretas e enxadas, marretas e outras ferramentas e artefactos de destruição massiva, avançaram de papo feito e derrubaram o muro fronteiriço entre a Quinta do Caldas e a Quinta da Feiteira. Sob o aplauso da população local…
O espaço da histórica quinta será esquartejado sem dó nem piedade e, em seu lugar, surgirá uma moderna urbanização de moradias, vivendas e “chalets” e serão rasgadas duas artérias perpendiculares entre si: a Avenida Grão Vasco (Rua da Mata ou Rua da Praça) e a Rua Emília das Neves (Rua do Expedidor ou Rua da Xana). O desmantelamento do formidável espaço onde existiu a Quinta da Feiteira deixou incólumes, apenas o palácio as casas térreas que lhes estavam adossadas e, claro está, o luxuriante bosque que seria alindado para usufruto da população em geral: o Parque Silva Porto.


Continua…

Por razões de higiene mental, o autor não respeita as normas do Novo Acordo Ortográfico.







terça-feira, 17 de julho de 2012

Memorial Francisco Lázaro





(Por Fausto Castelhano - fotografias,
com Alexandra Carvalho - texto)


Fotografias de Fausto Castelhano (2012)



No passado Domingo (15/07/12), realizou-se a "Memorial Francisco Lázaro", corrida que pretendeu homenagear esse maratonista de Benfica, no centésimo aniversário da sua trágica morte, em plena maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo.
Organizada pela Associação de Atletismo de Lisboa, em colaboração com a Xistarca, esta corrida contou com a participação de cerca de meio milhar de pessoas

A partida foi dada pelas 10h na Rua Olivério Serpa (junto ao Clube Futebol Benfica), tendo marcado presença, no percurso de 10Km, 371 atletas.
Fábio Oliveira da Odimarq Aluminios foi o primeiro a chegar ao Campo do Clube Futebol Benfica com 33m 32s, vencendo ao sprint Pedro Arsénio do ADRC Mata Benfica que, foi creditado com mais 1s.

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Fotografias de Fausto Castelhano (2012)


Em seguida, efectuou-se uma romagem até ao Cemitério de Benfica, onde, junto do mausoléu de Francisco Lázaro (recuperado pelo Comité Olímpico Português) se realizou uma pequena cerimónia de homenagem.

Esta cerimónia contou com a presença de familiares do maratonista, assim como de membros do Comité Olímpico Português, do Presidente do Instituto do Desporto e do Presidente do Clube Futebol Benfica.





sábado, 14 de julho de 2012

Paredes que Falam (6)





(por Alexandra Carvalho)






Surgiram recentemente, inscritas nas portas de serviço do Centro Comercial Fonte Nova...








Fotografias de Alexandra Carvalho (2012)





Numa altura em que a invasão de privacidade; os avanços tecnológicos que propiciam a vigilância total; a destruição ou manipulação da memória histórica dos povos; e as guerras encetadas para assegurar a paz já fazem parte do nosso mundo... Não é nada de estranhar que alguém se tenha lembrado que parecemos já estar a viver em pleno "1984" de George Orwell!...

De facto, estas três inscrições referem os lemas do Estado totalitário existente no livro de Orwell, estando subjacentes ao "duplipensar" (doutrina do Estado), que consiste, basicamente, em se ter duas ideias contrárias, opostas, e aceitar ambas como verdade.