AS MUITAS VIDAS DOS LIVROS
Poderiam ser sete como se diz que são as dos gatos. De gatos e livros falarei noutra ocasião.
Os livros nascem na cabeça de quem os escreve. Se quem escreve não é um leitor a sério esqueça os livros que acha que tem na cabeça. Depois passam, na maior parte dos casos, por mais do que um leitor ainda antes das máquinas tipográficas começarem o seu sagrado matraquear. Só depois se colocam nas mesas e prateleiras dos espaços onde aguardam leitores no circuito tradicional do mercado livreiro. Neste caso andam de andas para bolandas. Distribuidores. Livrarias. Quiosques. Papelarias. Tabacarias. Destas a única que merece ser visitada é a do Pessoa...
Alguns encontram as amorosas mãos que os acariciam. Outros regressam aos distribuidores e aos editores. É o regresso à fonte. O chamado direito de devolução. Não sei se é caso único no comércio. Imagino outros negócios: - "Olhe, caro amigo, não se vendeu, aí tem de volta a mercadoria". Mas é assim. E esta é, em minha modesta opinião, a morte do mercado tradicional do livro.
E, deste modo, entram em acção novas formas de recuperar os livros como se se tratasse da última oportunidade comercial. São os livros que voltam ao mercado com um novo conceito. Preços muito mais baratos e maior proximidade dos leitores. São feiras que nascem nas estações do metro e dos comboios. São tendas que se colocam em zonas de praia. Locais de maior passagem de pessoas. Universidades. Romarias e mercados. Se não estão em todos estes sítios, deveriam estar.
Entre todos os que se dedicam a esta tarefa de colocar os livros ao alcance do maior número de leitores, destaco o Sistema J, do meu amigo José Cardoso, que vai continuar pujante de vida e novas iniciativas, com o seu filho David Cardoso, tenho a certeza!
Este projecto, sem custar um cêntimo ao erário público, sem qualquer apoio, provavelmente, fez mais pela difusão do livro e da leitura em Portugal do que os organismos oficiais que tutelam o sector. Com eles idealizámos uma "Volta a Portugal dos Livros", que merecia continuar. E, no entanto, há autores que não gostam de ver os seus livros acessíveis ao maior número possível de leitores. Coitados deles que julgam que o Sol gira à roda do seu contentinho umbigo. O que é importante é encontrar novos leitores. E, se pelo preço de um livro novo, muitas vezes de duvidosa qualidade, for possível escolher dez livros sobre os quais já passou o crivo do tempo, muito melhor para os leitores.
Voltando às várias vidas dos livros não podemos esquecer todos aqueles que os alfarrabistas recuperam para uma nova vida e ficam assim ao alcance de novos leitores. Bibliófilos. Coleccionadores. Livros autografados. Primeiras edições. Cimélios. Códices. Excelentes encadernações. Ex-libris. Nada contra. É gratificante tentar saber do seu percurso. Aqueles que os leram. O peso de um passado glorioso. São muitos e variados os livros e os leitores e muitas as suas vidas. Esses silenciosos companheiros são capazes de nos interpelar, quando mais precisamos: - "Olha lá, haja o que houver e custe o que custar, amanhã desponta um novo dia!...".
(JAR)
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