Comércio Tradicional - Espaços & Memórias (2)

(por Alexandra Carvalho com Fausto Castelhano, Mário Pires e Pedro Cabral)

O comércio tradicional é parte integrante da identidade de cada local, contribuindo para a dinamização do seu meio envolvente e constituindo património material. do mesmo. É um elo essencial da relação afectiva do território com os seus habitantes.
O comércio tradicional, para além de caracterizar social, económica e patrimonialmente uma comunidade, ajuda também a construir a memória colectiva do local em que se insere.

Pelo que urge que o comércio tradicional seja bem divulgado, não só como forma de dinamização e incremento financeiro das suas vendas, mas, também, e sobretudo, para dar a conhecer a todos os seus possíveis clientes os seus Espaços & Memórias.

Neste âmbito, em prol do importante trabalho que temos vindo a desenvolver sobre a freguesia de Benfica, o "Retalhos de Bem-Fica" iniciou no mês passado esta rubrica, onde procuramos inventariar o comércio tradicional existente na freguesia - numa vertente que interligará, também, o trabalho apresentado online neste blogue, com uma apresentação física em cada loja (a qual procurará realçar e valorizar ao público o trabalho desenvolvido por cada uma das lojas, assim como os seus espaços e as memórias a elas associadas).

[clicar no logótipo, para aceder a todas as lojas]

******

Apresentação da Capelista do Sr. Capelo e da Dª. Nazaré

Desenho: Pedro Cabral
Fotografias e Vídeo: Mário Pires

Todos os direitos reservados "Retalhos de Bem-Fica" (2011)

No Nº 689 da Estrada de Benfica, funciona, desde 1952, a papelaria “A Popular”.

Não foram os dois escaparates que ladeiam a sua entrada, repletos de revistas de crochet e bordados, e por ela quase passaríamos desapercebidos, no fundo daquele degrau, no mesmo prédio antigo de portadas vermelhas e brancas, onde no 1º andar funciona a sede do Partido Comunista Português em Benfica.

A papelaria "A Popular", foi aberta, há quase 60 anos, naquele espaço alugado pelo Sr. Capelo, a quem, anos mais tarde, se juntaria a esposa, Dª. Nazaré.

Mais conhecida como "Capelista", ou pequena loja de quinquilharias, aí abundam os mais diversos artefactos, desde aqueles que seria de esperar numa papelaria, até aos berlindes, meias de vidro, baldes para a praia, fivelas para relógios e o antiquíssimo almanaque "Borda d'Água".

Aberta unicamente de 2ª a 6ª feira, a papelaria "A Popular" é uma das lojas mais antigas da Estrada de Benfica.
Como nos refere a Dª. Nazaré: - "(...) conta-se pelos dedos as pessoas antigas que ali estão. as lojas fecham muito. Nós estamos assim por causa das grandes superfícies."

Os clientes mais antigos também já "partiram", no entanto, a pequena Capelista do Sr. Capelo e da Dª. Nazaré continua a receber a visita de algumas pessoas novas que se interessam por coisas antigas e gostam de vir admirar a sua loja e os seus armários (tendo, até, uma senhora tentado, recentemente, comprar-lhes a loja).

Actualmente, grande parte do seu negócio é feito devido aos jogos da SCML e às guloseimas e gomas para os miúdos.
O que faz com que o Sr. Capelo nos diga com alguma amargura na voz: - "(...) com esta casinha eu arranjei um bom património. (...) agora eu quero é sopas e descanso. Sabe onde é que eu estou bem? No campo!".

Mas lá vai fazendo a vontade à sua esposa, Dª. Nazaré, que gosta muito do ambiente de Benfica (recordando, mesmo, com emoção, a freguesia que conheceu noutros tempos, quando ali chegou apenas com 22 anos).

E, quando um dia, decidirem abalar de vez para o campo, perder-se-á para todo o sempre o negócio da última Capelista de Benfica!...

Excerto da Entrevista realizada com o Sr. Capelo e a Dª. Nazaré.

Contacto prévio, Apoio à Entrevista e ao Texto: Fausto Castelhano
Desenho de Fundo: Pedro Cabral
Entrevista: Alexandra Carvalho
Filmagem e Vídeo: Mário Pires

Todos os direitos reservados "Retalhos de Bem-Fica" (2011)

Ver aqui mais fotografias (autoria: Mário Pires) da loja do Sr. Capelo e da Dª. Nazaré.