sábado, 7 de março de 2009

Há um Passado que merece estar em Ruínas





(por Alexandra Carvalho)






"Palácio onde esteve instalada a escola da Pide-DGS" (1968),
Armando Serôdio, in Arquivo Municipal de Lisboa



Ao passarem hoje em dia por Sete-Rios, ali bem perto do Jardim Zoológico, poucos serão aqueles que ainda se recordarão do que funcionava, em tempos idos, neste edifício em ruínas (o apagamento da memória, também, muito contribuirá para tal!).

Lembro-me de ainda ser miúda e, quando apanhava o autocarro em Sete-Rios, acompanhada pelo meu avô materno, este me contar o que ali funcionara... a Escola Técnica da PIDE/DGS (ETP), criada em 1948 para seleccionar e formar os agentes da polícia política, na sua maioria homens de origem rural, só com a quarta classe.



"Revolução de Vinte e Cinco de Abril de 1974, frente à escola da PIDE-DGS" (25/04/74),
Fotógrafo não identificado
Fotografia adquirida no "Diário de Notícias", in Arquivo Municipal de Lisboa



Em 1972, o edifício da ETP foi alvo de um atentado com "cocktail molotov", sofrendo danos avultados. O edifício foi abandonado em 1974, entrando em ruína... Tendo, actualmente, a vegetação e um parque de estacionamento improvisado ganhado terreno.

Há alguns meses atrás, quando por ali passava ao final do dia, via ali sempre, sentado por entre as ervas, um sem-abrigo a jantar. Tive pena de não ter conseguido (por pudor) fotografá-lo.








7 comentários:

Cecilia disse...

Apesar de já terem passado muitos anos, não esqueci a enorme massa popular que se juntou no largo em frente, aquando do 25 de Abril, protestando nessa altura já em liberdade!
Ainda foram ocupados alguns andares por pessoas que aí viveram durante algum tempo... o prédio entrou em ruínas...e talvez muito poucos se lembrem, hoje, do que ali funcionou...

Alexa disse...

Cecília: muito obrigada pela partilha das tuas memórias!

Infelizmente, ainda não era nascida nesse tempo em que se lutou pela Liberdade (e é pena que, hoje em dia, esses valores tenham caído em "desuso" ou esquecimento, devido ao individualismo e egoísmos exacerbados que se vivem)... pelo que penso que essa memória devia ser preservada, para que todos os que, como eu ainda não eram nascidos, percebam o que foi esse Tempo.

Bjs

Elisabete disse...

Olá, boa tarde. Gosto muito do seu blog, mas às vezes sou muito preguiçosa para dar a minha opinião ou as minhas recordações, depois de muitas promessas hoje é que é.
Tenho 44 anos e lembro-me de nas noites de verão ir para o jardim que ainda existe em sete-rios (bastante mais pequeno), com os meus pais e via sempre gente no terraço, das poucas vezes que apontei o meu pai entrou em panico, e durante algum tempo esse passeio era proibido. Com o 25 de Abril o meu pai explicou-me o porquê do medo (infelizmente conheceu algumas pessoas que foram presas). 2 ou 3 anos depois fui num passeio escolar visitar a antiga escola da PIDE. Alguns colegas disseram-me que dentro das vitrines (tapadas com panos pretos e vermelhos) estavam unhas e cabelos, eu não tive coragem de ver como tal não posso garantir.
Durante alguns anos (cerca de 10) moraram lá algumas familias. Quando foram realojadas falou-se num museu em homenagem aos "resistentes", foi com alguma surpresa que vi as máquinas a deitarem abaixo o que restava do edificio.

Alexa disse...

Boa noite Elisabete!

Antes de mais, seja muito bem vinda aqui ao "Retalhos"!

Fico muito contente que, como diz, tenha deixado a preguiça de lado e aqui tenha comentado... Pois, as suas memórias sobre este antigo palacete ajudam a caracterizar o contexto que se vivia nessa época (desconhecida para alguns, por ainda não terem nascido; omitida por outros, talvez, por interesses).

Sinta-se à vontade para partilhar connosco, sempre que quiser, as suas memórias das freguesias de Benfica e de S. Domingos de Benfica.

Um grande abraço

Barão Sete Rios disse...

Nunca cheguei a saber quem foi que pôs a bomba na escola da pide , o sujeito desapareceu a bomba rebentou-lhe nas mãos


teresa ximenez disse...

Em 1974, tinha eu 14 anos e frequentava o Liceu D.Pedro V. No dia 25, apesar de haver várias pessoas nas janelas a dizerem "menina vá para casa, há uma revolução!", eu continuei calmamente a caminho do Liceu. Claro que aí me mandaram embora e, no regresso supostamente a casa, aproveitei para tentar averiguar o que se passava. Quando cheguei a Sete Rios não se podia passar para a Rua das Furnas (o meu caminho habitual) porque se estava a dar, naquele preciso momento, a invasão da Escola da P.I.D.E. que na época funcionava ali em Sete Rios. Assim presenciei o acontecimento, no meio de uma multidão que não era demasiada, Com emoção, consegui (nem sei como) andar o resto do dia por Lisboa e ainda ir ao Largo do Carmo onde realmente se viviam episódios ainda mais emocionantes!

Carlos Gomes disse...

Alguém sabe quem era o proprietário do edifício? Creio que pertencia a um particular, mais concretamente ao Conde de Calheiros, mas não tenho a certeza. Muito obrigado!