"Ainda moro em Benfica mas tenho memórias fantásticas de quando era criança.
Às vezes depois de almoço arranjava um saco com pão duro e ia com o meu avô à Mata de Benfica deitar migalhas aos patos. Apanhávamos folhas de amoreira na Av. Grão Vasco para dar aos bichinhos da seda.
Quando o meu avô recebia a reforma levava-me a comer mousse de chocolate (no tempo em que eu ainda gostava de mousse de chocolate) e eu fazia questão de lhe pedir o lenço de pano que ele trazia sempre no bolso para limpar a boca.
Hoje acho que os lenços de pano do meu avô tinham um significado afectivo, é claro que o café tinha guardanapos de papel, mas limpar a boca a um guardanapo de papel depois de um gelado ou de uma mousse de chocolate não sabia ao mesmo.
A primeira vez em que fui ao cinema, acho que ainda nem andava na escola, foi no Turim, para ver a Branca de Neve.
Adorava estar na varanda da sala, montada num cavalo de madeira que na altura todos os miúdos tinham, a ver as pessoas a passar.
O 24, o autocarro, passava (e ainda passa) aqui à porta, e eu achava que tinha o nº 24 porque funcionava até às 24 horas. Apanhei uma grande desilusão quando me explicaram que não era nada por isso.
"Na paragem do autocarro - 2"
Fotografia de JCDuarte
Fotografia de JCDuarte
Lembro-me da primeira mochila que tive, quando entrei na escola, e de onde a comprei. Foi numa papelaria velhinha que ainda existe ao pé da Igreja de Benfica. Só não me lembro exactamente se a mochila era azul ou amarela.
Uma vez a minha avó comprou-me um conjunto em branco e preto com um padrão de laços. Pedi-lhe para ir logo com a roupa nova vestida e toda a gente olhava para mim na rua.
Hoje, acredito sinceramente que estava muito pirosa e por isso é que as pessoas olhavam, mas na altura senti-me uma princesa."
Testemunho de Ana Fernandes, in "As Vossas Memórias de Benfica", na nossa página no Facebook.
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