terça-feira, 28 de setembro de 2010

Contrastes Fotográficos

(textos e fotografias de JCDuarte)




"Ser Bonito"






Ser bonito, ou feio, não é uma característica intrínseca do que quer que seja: gestos, pessoas, objectos.
Depende, antes sim, de quem vê, dos conceitos que tem e da interpretação do que vê ou analisa.
Dirão alguns que este prédio é feio. O revestimento, se bem que prático e, em tempos, na moda dos construtores civis, não será aquilo que os estetas chamarão de belo. A uniformidade com que a parede está rasgada por aquilo a que damos o nome de janela é também algo que só o Homem produz: a natureza não quer nada com simetrias e regularidades. Também, dirão alguns, não é bonito exibir (ou ver) a roupa a secar ao sol, quantas vezes roupa que mais valeria estar escondida. Por seu lado, os simulacros de jardim ou, em o preferindo, o faz de conta de não se viver aereamente, serão bons de ver em estando perto e não a esta distância.
Mas, caramba, eu gosto de ver isto! Cada uma destas janelas, e dos vasos, e da roupa, e das persianas, até das antenas parabólicas e da ferrugem que escorre pelos azulejos e estendais, me fala de quem lá vive, dos pequenos nada que constituem cada uma das vidas de quem atrás das vidraças vive e dorme, de quem aquele vestuário usa, de quem aquelas plantas rega.
E se o Ser Humano, na forma como existe enquanto indivíduo ou grupo, não é belo, então o conceito de beleza não existe, mais não sendo que pretexto para justificar os enquadramentos sociais, regras e consumos impostos.
Este prédio é bonito, pelo que é e pelo que significa.




"Pequenas Preciosidades"






Esta imagem poderia ter sido feita numa qualquer vila ou mesmo cidadezinha deste país.
Casas de piso térreo, com o beiral do telhado decorado singelamente, a roupa a secar ao sol, sem medos ou pudores, o asfalto que não chegou ao fim do arruamento, um poste de madeira…
Mas não! Esta imagem foi feita na Rua do Açougue, ali mesmo em Benfica.
Claro que estas edificações de fachadas mais ou menos arranjadas, têm as traseiras em péssimo estado, deixando mesmo perceber em quão mau estado estão os telhados. E, com eles, a restante estrutura.
Claro, também, que estas edificações, todo este quarteirão, terá os dias contados, que o centímetro quadrado nesta zona da cidade vale fortunas nas mãos dos construtores civis.
Teremos que ser nós, cidadãos, a decidir se queremos que estes vestígios da cidade se mantenham ou que sejam engolidos por megatérios, como os que se encontram a escassas dezenas de metros das costas deste fotógrafo e nesta data.






3 comentários:

Anónimo disse...

Não se se gosto mais das fotos ou das legendas!! Parabéns ao fotógrafo-escritor.

Leonor Nunes

Anónimo disse...

Neste blogue é referida a casa de pasto junto à oficina de tornearia de metais do sr. Armando como sendo ao lado do restaurante/cervejaria "A Regional de Benfica" (no sentido da Avenida Gomes Pereira que consta do 2º capítulo destas evocações), o que não corresponde à verdade. Antes da tornearia do Sr. Armando encontrava-se a casa de pasto do "Artenova", alcunha do seu proprietário, o Sr. António de Jesus Pereira, até início de 1970. Depois da tornearia, existia o carvoeiro e só depois a mercearia na esquina com a Avenida Gomes Pereira. Muitas vezes se assistia a sessões de fados ao som da guitarra dedilhada pelo Sr. Júlio. Tempos em que o tempo passava devagar e era marcado pelo ritmo de trabalho dos operários da fábrica do Simões. Eram comensais no "Artenova". Neta do Artenova

Fausto disse...

Muito obrigado, Sr. Anónimo, pela preciosa e oportuna correcção. Cumprimentos.