terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A "Mãe-Coragem"








Quando por ali passei esta manhã, vislumbrei-a no seu jardim, atarefada, limpando as folhas que teimavam em tombar com o vento cortante que fazia.
Alheada nos meus pensamentos hesitei e prossegui em frente. Depois parei, voltei para trás e dei comigo a dizer-lhe: - "Bom dia! A senhora mora aqui?"

Nessa altura, começou a chover e ela convidou-me para entrar. Ficámos ali, na soleira da porta, no hall que dá acesso a todos os andares. Chão em mosaico antigo desenhado a cor bordeaux e branca, escadas de madeira envelhecida e tectos ricamente trabalhados.

Falámos, durante mais de duas horas, sobre Benfica, a Vila Ana e da Vila Ventura, os animais e sobre a vida em geral.
A dada altura, quis mostrar-me o seu quintal, nas traseiras.

Enquanto colhia algumas ervas aromáticas nas traseiras, convidou-me a voltar num outro dia, para me mostrar o interior da sua casa, com mais tempo e tranquilidade.

E, no final, à despedida, não se conteve e disse-me: - "Foi bom encontrá-la, assim, no Natal... ficarmos amigas e podermos falar!"







A "Mãe-Coragem" é uma das habitantes da Vila Ventura, situada no nº 674 da Estrada de Benfica.

A Vila Ana e a Vila Ventura são património de interesse municipal, por serem 'Casas do Brasileiro', representativas de uma época e de um tipo de construção muito característico... mas continuam há largos anos votadas à degradação pelos seus proprietários.

Em 2010, a Vila Ventura fará 100 anos. Idade que a Vila Ana (onde viveu Spínola em criança) já alcançou, como nos dizia, esta manhã, a "Mãe-Coragem".

Depois da nossa "luta" por descobrir o que, realmente, se passava com estas casas, junto das instâncias competentes, conseguimos que fosse efectuada uma vistoria a ambas, a qual manifestou a intenção de ir intimar os seus proprietários à conservação das mesmas.

Desde então, a situação permanece idêntica, se não (bem) pior!...
Até quando?







Como os interesses económicos (e imobiliários) eram outros, ali bem ao lado, nas traseiras da Vila Ana e da Vila Ventura, foi, há algum tempo atrás, construído um bloco de prédios modernos, à frente do qual se ergueu rapidamente um bonito jardim (apenas visível para os habitantes dos citados prédios).






Enquanto isso, o interior da Vila Ana, de janelas bem abertas a quem por ali passe, encontra-se neste estado avançado de putrefacção.

Porque não deixarmos, por breves momentos, de lado os interesses (económicos) que, verdadeiramente, movem este mundo e pensarmos em soluções concretas e mais humanistas, no que diz respeito à recuperação dos imóveis de interesse histórico para a nossa cidade (ainda que com proprietários particulares)?!





1 comentário:

Gastão de Brito e Silva disse...

Tenho pena que a lei das Sesmarias tenha sido esquecida...não haveria ruínas neste País...