sábado, 5 de dezembro de 2009

A Drogaria




(por Alexandra Carvalho)





"Droga designava primitivamente toda a substância orgânica ou inorgânica
empregada como ingrediente de tinturaria, química ou farmácia.


De droga formou-se drogaria.


É interessante seguir ao longo do tempo

a evolução semântica de palavra drogaria.


Drogaria significava inicialmente uma colecção de drogas.

De colecção de drogas passou a designar o local onde se guardavam as drogas

e, finalmente, o comércio de drogas.


Actualmente chamamos drogaria ao estabelecimento comercial

onde se vendem medicamentos e outros produtos acabados,

como cosméticos e perfumarias, prontos para serem usados".


In "Liguagem Médica - Droga, Fármaco, Medicamento, Remédio"





Fotografia de Alexandra Carvalho (2009)


Ao passarmos pela montra do Nº 692A da Estrada de Benfica, jamais imaginaríamos que nos encontrávamos perante uma das mais antigas Drogarias da freguesia de Benfica.

Entramos e ficamos deslumbrados com a infinidade de produtos diligentemente arrumados nas paredes-montra que forram toda a loja.
Aí descobrimos o restaurador Olex, o sabonete Feno, o Ach Brito e a famosa pasta medicinal Couto - uma série de produtos de outros tempos, que hoje continuam a fazer a mística de jovens que nunca os conheceram ou utilizaram sequer (desde a abertura da loja "A Vida Portuguesa" de Catarina Portas), mas também a de "(...) clientes que repetem e só querem aqueles produtos antigos", como nos diria o proprietário desta Drogaria.

Procurámos esta loja por outros motivos (pessoais), mas não resistimos a fazer uma mini-entrevista com os seus proprietários, para aqui deixar o testemunho neste blog.



Fotografia de Alexandra Carvalho (2009)



Aí estabelecidos desde 5 de Maio de 1962, o Sr. Fernando e a Dª. Natália são os anfitriões, que nos recebem com uma simpatia inigualável.
Ela com o seu sorriso de menina, a desenhar-lhe o rosto de bondade. Ele com os seus olhos azuis marejados de lágrimas, sempre que se emociona.

O Sr. Fernando e a Dª. Natália trabalham nesta Drogaria há 47 anos, a qual tem ainda muitos clientes regulares das imediações, assim como dos Bairros das Pedralvas, Charquinho e Santa Cruz.

Clientes que se habituaram a encontrar nesta loja tudo aquilo de que necessitam, sobretudo, ao nível do factor humano, como nos explica o Sr. Fernando: "(...) o cliente aqui fala connosco, nos supermercados fala com as prateleiras. E então a pessoa sempre se abre, sempre conta o passado dela, sempre conta a vida dela, sempre desabafa connosco e, praticamente, é como uma família!"



Fotografia de Alexandra Carvalho (2009)


O aparecimento de alguns supermercados na zona e o início das obras para construção da CRIL ali mesmo, às Portas de Benfica (com a consequente demolição do Bairro das Fontaínhas e do Bairro da Azinhaga dos Besouros), "roubaram" muitos clientes ao Sr. Fernando e à Dª. Natália.

Mas não é por isso que eles não vêem com bons olhos as mudanças que têm ocorrido na freguesia. Consideram Benfica melhor e mais desenvolvida do que noutros tempos e relembram com entusiasmo o facto dos terrenos por detrás da sua loja, onde outrora existiu a Fábrica de Tintas Atlantic, terem dado origem à construção de 52 prédios.



"Fernando Figueiredo, dono de uma drogaria em Benfica
onde ainda se vende a pasta medicinal Couto que comemora o seu 75º aniversario"
Fotografia de Mário Cruz (Lusa), 07/04/07, disponível in "Fotos Lusa"



Duas ou três das restantes Drogarias que ainda existiam em Benfica, com quem era hábito trocarem os seus produtos (numa forma de comércio bastante saudável e sem quaisquer rivalidades), fecharam, por morte dos seus proprietários.

Mas a sua Drogaria ali permanece... uma das últimas e das mais antigas.

Perante o meu fascínio com a máquina registadora da Drogaria, o Sr. Fernando aproveita para contar que, há uns anos atrás, lhe apareceram ali na loja uns jornalistas, a querer filmar tudo e "(...) até me fizeram subir e descer ali as escadas várias vezes". Depois, o artigo saiu em alguns jornais, que o Sr. Fernando ainda guarda religiosamente (e dos quais aqui publicamos algumas das fotografias recolhidas nessa época).

Muitos dos seus clientes costumam dizer-lhe "Ah, não feche isto, não feche porque faz muita falta!".
Mas, quando o interrogamos sobre o futuro do seu negócio e se algum dos seus descendentes retomará o que iniciaram, o Sr. Fernando diz-nos: "(...) A minha filha tem o seu emprego, não é?! Trabalha na Carris já há uns anos, ainda era solteira. Os meus netos querem estudar e não é para depois trabalharem num balcão de drogaria. Nem eu gostava, para já! E agora para o futuro, eu já disse à minha mulher, em chegando aos 75 anos, eu tenho 73... não vou morrer aqui, não é?!"



Fotografia de Alexandra Carvalho (2009)



Nesta freguesia que, há 47 anos atrás, também escolheram para residir, a Dª. Natália relembra que o espírito da vida de bairro já não é o mesmo: "(...) Mas não é como era! Mudou. É que, realmente, é lógico que as coisas aconteçam assim. Porque dantes era, realmente, as pessoas que foram aqui muitos anos habituadas. (...) elas acabaram, realmente, coitadas, por morrer, e os filhos já não continuaram os hábitos dos pais. E então já se tornou muito diferente. Porque enquanto dantes não havia tantos carros para se deslocarem, havia mais convívio, com essas pessoas de mais idade. Agora não! Cada um tem o seu carro, vão se expandir para onde querem e lhes apetece. É muito diferente! Nesse aspecto é que é muito diferente! Já não há o convívio, nem aquela amizade que havia."

Ainda assim, Dª. Natália não trocaria esta freguesia por outro local, como nos conta: "Eu gosto muito de Benfica! A minha filha vive em Vale de Milhaços e eu quando lá vou, ela até tem uma casa grande, que um dia que uma pessoa necessite realmente pode ir para lá... mas eu digo que tirem-me tudo menos a minha casa de Benfica!"



"Fernando Figueiredo e a mulher, donos de uma drogaria em Benfica
onde ainda se vende a pasta medicinal Couto que comemora o seu 75º aniversario"

Fotografia de Mário Cruz (Lusa), 07/04/07, disponível in "Fotos Lusa"



A Drogaria do Sr. Fernando e da Dª. Natália constitui um dos últimos redutos do comércio tradicional de bairro, na freguesia de Benfica.

Um espaço muito especial a ser visitado, em particular pela atenção e simpatia com que somos recebidos!





42 comentários:

cristinarino disse...

Foi nesta drogaria que encontrei a um preço baratinho e aquelas à moda antiga, umas galochas de borracha que precisei para uma das minhas incursões em prol da bicharada.
Lá estava o casal a dar sua opinião muito válida.

Alexa disse...

Cristina: é neste tipo de lojas que encontramos sempre aqueles artigos que procuramos tempos a fio noutros locais, sem encontrar.

Gostei da tua história a propósito desta Drogaria!
Ainda por cima porque este casal também adora animais (e foi, precisamente, devido a gatos que com eles fui falar ;)

Bj gd

Anónimo disse...

Quando tenho alguma dúvida ou preciso de qualquer produto mais complicado, é lá que me dirijo.

Vai fazer falta quando um dia fechar.

Leonor Nunes

Alexa disse...

Leonor: tem toda a razão!
Como diria o Sr. Fernando, ali fala-se com as pessoas e não com as prateleiras... E um dia, quando fechar, teremos todos perdido muito.
Um abraço

Lena Pombinho disse...

Realmente só a andar a pé é que se descobrem estas maravilhas. Não me lembro nada desta drogaria mas um dia destes vou tentar passar por lá.

Alexa quero dizer-te que estás a fazer um trabalho extraordinário com este blog e acredita que já aprendi aqui muita coisa sobre Benfica que desconhecia, como essa do "Hotel Mafra" por exemplo.

Alexa disse...

Lena: a andar a pé e de olhos (muito) bem abertos... porque esta Drogaria, de tão singela, quase passa despercebida, por entre uma mercearia e um café :)
Mas vale bem uma (ou mais) visita!

Muito obrigada pelas suas palavras, Lena.
Fico contente de saber que este blog lhe tem agradado.
Mas tem também sido fruto da muita colaboração que tenho recebido de alguns leitores... no fundo, um blog comunitário sobre Benfica.

Anónimo disse...

A mercearia que está perto, do Sr. Júlio, tambem merecia uma reportagem.

Leonor Nunes

Alexa disse...

Leonor: muito obrigada pela dica!
Fica prometida para breve uma reportagem na Mercearia do Sr. Júlio. Entretanto, ainda, tenho que passar também pela Retrosaria do Sr. Zé e da irmã :)
Um abraço

Anónimo disse...

Quando eu era miúda, lembro da minha tia se deslocar a uma drogaria semelhante a esta, lá prá João Crisóstomo, para comprar petróleo para um daqueles fogões a petróleo que usava para cozinhar. O que eu mais adorava era bisbilhotar tudo. Ainda hoje recordo a cor do petróleo e do alcool que aí vendiam, bem como as barras de sabão amarelo, e a cera num cor de cenoura alaranjado. Tudo se vendia, ao litro, ao quilo, alguidares coloridos, eu sei lá. Tudo embrulhado em montes de papel pardo. E foi aí que me compraram uma boneca de plastico que, muito embora não fosse das melhores, era a minha favorita.
Fui há uns tempos atrás a uma loja Inglesa aqui em Nova Iorque que muito me fez lembrar as nossas antigas merceearias portuguesas, mas ainda não encontrei nenhuma drogaria que me lembra-se as nossas. Obrigada pela reportagem e pela alma destes nossos “jovens” droguistas.
Quando estive em Portugal há dois anos tirem umas fotos duma retrosaria bem à antiga portuguesa, cheia de linhas e novelos ancora na montra, mas da próxima vez gostava de encontrar uma loja de tecidos como antigamente havia na rua onde eu aí morava-daquelas que vendia rolos e rolos de tecidos de chita :)
Que bom é rever estes lugares...
Adorei!

Anónimo disse...

Que saudades do "cheirinho" da drogaria!
Havia 2 (que me lembre) na Cláudio Nunes(uma delas ao lado da minha porta)e havia uma também em frente á Igreja de Benfica.
Que encanto era ir aí ás "compras" com a avó ou com a mae.

J A disse...

Em poucos anos estas lojas irão virar...memórias. Na minha última visita à Rua Cláudio Nunes e, em poucos metros, tinham desaparecido a tabacaria, a farmácia e, a drogaria. Mas aquela lojinha lá mais em cima do lado direito, com artigos pendurados por tudo o que é parede...lá continua. Ali comprava eu os meus piões lá para 1960 e qualquer coisa...

João disse...

Anónimo 8 de Dezembro de 2009 10:58

"Havia 2 (que me lembre) na Cláudio Nunes (uma delas ao lado da minha porta)..."

Tanto quanto me lembro, na Cláudio Nunes só existia uma drogaria. Era a drogaria do Sr. Alberto, já falecido.


Julio Amorim 8 de Dezembro de 2009 12:20

"Mas aquela lojinha lá mais em cima do lado direito, com artigos pendurados por tudo o que é parede... lá continua. Ali comprava eu os meus piões lá para 1960 e qualquer coisa..."

Ora nem mais, era na loja do Sr. Fernando que eu também comprava os meus piões. Aliás, até é muito provável que tenhamos os dois jogado juntos ao pião pois, se tu fores o Júlio da então Travessa dos Arneiros que foi viver para a Suécia, ou seja, para o país para onde o teu irmão se tinha "pirado" alguns anos antes, então nós fomos colegas de turma da 1ª à 4ª classe, na Escola Normal, actual Escola Superior de Educação. Estarei certo ou errado ?!

J A disse...

Pois é esse mesmo que se pirou para a Suécia! Vivias lá em cima do lado direito o o teu Pai era da G.N.R.....?
Nesse caso já não nos vemos há uns 40 anos!?

João disse...

Não, o meu pai não era da GNR. Mas eu vou escrever para o teu e-mail onde poderemos falar à vontade sem estar a ocupar este espaço com temas fora do contexto do blog.

Alexa disse...

Isabel: lojas de tecidos ainda há, pelo menos uma, em Benfica... a famosa Casa Fontan.
Tenho que lá ir para uma mini-reportagem aqui para o blog :)

Alexa disse...

Anónimo 8 de Dezembro de 2009 10:58 - de facto, acho que só existia uma drogaria na Cláudio Nunes (a do Sr. Alberto, como o João referiu), onde os meus avós eram fregueses habituais.

João e Júlio: não se preocupem com a troca de comentários sobre o que referiram como "temas fora do contexto do blog"... pois o reencontro de amigos e familiares de Benfica, também, é um dos objectivos deste blog.

Anónimo disse...

Para que se tirem as dúvidas, havia uma drogaria no prédio com o N° 34.
Como se chamava o dono, nao me lembro. E havia outra drogaria um pouco mais acima da farmácia. Orem bem, 2 drogarias na Claúdio Nunes:-))!
Saudades

João disse...

Alexa (9 de Dezembro de 2009 12:48)

"de facto, acho que só existia uma drogaria na Cláudio Nunes (a do Sr. Alberto, como o João referiu), onde os meus avós eram fregueses habituais."

Anónimo (9 de Dezembro de 2009 13:45)

"Para que se tirem as dúvidas, havia uma drogaria no prédio com o N° 34. Como se chamava o dono, nao me lembro. E havia outra drogaria um pouco mais acima da farmácia."

Sou obrigado a dar o dito por não dito. Mea culpa. Os anos passam e há coisas que se esquecem... Na verdade, havia de facto uma drogaria no nº34. Não me lembro agora do nome do dono / empregado, mas era um fulano que - se não me engano - jogava ou tinha jogado à bola no FóFó. Esta drogaria era mesmo ao lado da tasca da Adelaide...

Alexa disse...

Ao lado da Tasca da Adelaide (agora da Dª Graça), e tinha dois ou três degraus por onde se subia?
Perto de umas casas baixas?
Acho que já estou a ver onde era.
Obrigada!

João disse...

Alexa (9 de Dezembro de 2009 12:48)

"Isabel: lojas de tecidos ainda há, pelo menos uma, em Benfica... a famosa Casa Fontan."

A propósito de lojas de tecidos e a propósito da rua Cláudio Nunes, lembro-me da velha retrosaria do Sr. Domingos e da sua mulher. Esta loja ficava situada um pouco antes da Farmácia Lisboa. Do meu imaginário de criança, ficou-me sempre a ideia de um velhote muito simpático, com a particularidade de ser coxo...

Alexa disse...

João: dessa retrosaria e da Farmácia Lisboa não tenho recordações (talvez, por terem existido antes do meu tempo de memórias).
Também ficavam na Cláudio Nunes?

Que belo desfiar de memórias comerciais que aqui estamos a ter :)
E fotos ou imagens dessas lojas, será que algium dos leitores ainda possui?

João disse...

A farmácia em questão só fechou há uns dois ou três anos. Os donos venderam-na e abriram uma nova farmácia em Telheiras, na zona do Parque dos Príncipes. Uma farmácia é sempre um grande negócio, mas não é tão grande assim se estiver situada numa zona envelhecida onde a reforma de muitos velhotes não dá para comer, quanto mais para comprar medicamentos...

Alexa disse...

João: já sei qual era a farmácia então... junto a uma tabacaria, que também fechou, certo?

João disse...

"Ao lado da Tasca da Adelaide (agora da Dª Graça), e tinha dois ou três degraus por onde se subia? Perto de umas casas baixas?"

"já sei qual era a farmácia então... junto a uma tabacaria, que também fechou, certo?"

Exactamente.

Cecilia disse...

João e Alexa: A retrosaria do Sr. Domingos situava-se no 63-A da Cláudio Nunes. Para o 63 fui morar com 5 anos e ainda hoje lá moram os meus pais. Foi um dos primeiros prédios a serem construídos nesta rua juntamente com o prédio ao lado: o número 61, onde habitaram durante anos o sr. Domingos e a mulher, no segundo andar.
Quando esta retrosaria fechou deu lugar a uma taberna (por muito pouco tempo.

João disse...

Alexa (9 de Dezembro de 2009 12:50)

"João e Júlio: não se preocupem com a troca de comentários sobre o que referiram como "temas fora do contexto do blog"... pois o reencontro de amigos e familiares de Benfica, também, é um dos objectivos deste blog."

Um objectivo que, naquilo que me diz respeito, está a ser cumprido... Na realidade, a existência deste blog já me deu a possibilidade de reatar o contacto com uma amiga de adolescência e um amigo de infância, os quais não vejo há umas poucas dezenas de anos.

Talvez se cumpra também aquilo que se diz sobre a Internet, ou seja, que aproxima quem está longe mas afasta quem está próximo. Embora esta última parte eu dispense... ;-)

João disse...

Cecilia (10 de Dezembro de 2009 10:09)

"Quando esta retrosaria fechou deu lugar a uma taberna (por muito pouco tempo)."

Não me lembro da (fugaz) existência dessa taberna. Agora está lá novamente uma loja de tecidos, mas a "cenografia" já não tem nada a ver com a retrosaria do Sr. Domingos...

Anónimo disse...

Comoveu-me o carinho demonstrado na reportagem que fez aos meus pais.
Eles bem merecem pelos 47 anos de dedicação ao seu negócio mas, essencialmente, pela honestidade e amizade com que têm desempenhado a sua profissão ao longo dos anos.
Muito obrigado pelo presente de Natal que lhes deu.
Ana Paula

J A disse...

Falando da Cláudio Nunes e do seu comércio, que deixa a paralela Rua dos Arneiros a léguas de distância:
Alguém se recorda da cave da Leitaria Nascimento? Foi lá que eu (e uma pequena multidão) viu os grandes jogos internacionais do Benfica na déc de 60. E era lá que se via televisão aos domingos de tarde (o filme do Domingo, depois aguentava-se as estopadas do Concerto para Jovens com Leonard Bernstein e, a seguir, a TV-Rural com Sousa Veloso...puhhh. Tinha ainda a cervejaria Cascata um pouco mais abaixo, onde também dava para abancar e ver TV....

Alexa disse...

Ana Paula:

Muito obrigada pela sua visita a este cantinho na internet!
Agradeço-lhe, também, pelas suas gentis palavras!

Fico mesmo muito contente que tenha gostado desta reportagem, mas o mérito, sem dúvida alguma, que é todo dos seus pais: quando os entrevistados emanam alma, sentimento e, em particular, bondade, as entrevistas apenas os contemplam na sua plenitude.

Moro em Benfica desde que nasci, e, na mesma rua dos seus pais há já 4 anos.
Conheci os seus pais devido a motivos não-comerciais e fiquei encantada... não podendo mesmo deixar de lhes pedir uma entrevista aqui para o blog, por tudo o que me apercebi que esta drogaria simboliza (mas também, devo confessar-lhe, porque os seus pais me parecem pessoas muito especiais).

Penso que é importante perpetuarmos, assim, as memórias das pessoas e das lojas que fazem de Benfica o bairro tão especial que é.

Um abraço amigo,
Alexandra.

Cecilia disse...

Julio Amorim: A Leitaria Nascimento não era a que se situava em frente ao n.º 63 e onde ainda hoje há um café? Se sim, penso que o actual dono ainda é familiar do Sr. Nascimento.
Nunca frequentei muito esta Leitaria, mais a Cascata onde nos reuniamos: vizinhos do meu prédio, do da Cascata e de outros próximos.
Belas recordações!

João disse...

Julio Amorim (10 de Dezembro de 2009 17:33)

"Alguém se recorda da cave da Leitaria Nascimento? Foi lá que eu (e uma pequena multidão) viu os grandes jogos internacionais do Benfica na década de 60."

Quase ninguém tinha televisão em casa mas o Glorioso compensava a pobreza em que se vivia dando-nos grandes alegrias. Hoje toda a gente tem dois ou três televisores em casa mas o Benfica nunca mais foi campeão europeu... :-(

Cecilia (10 de Dezembro de 2009 22:02)

"Nunca frequentei muito esta Leitaria, mais a Cascata onde nos reuniamos: vizinhos do meu prédio, do da Cascata e de outros próximos."

Uma pequena recordação "decorativa". No interior da Cascata, fazendo juz ao nome do estabelecimento, havia uma cascata onde corria água e que era toda ela "forrada" com cascas de lapas.

J A disse...

Se reparar bem ainda lá está o nome "Nascimento" no toldo à entrada....e aquilo não mudou muito em 40 anos.

Dulce disse...

É uma alegria vir a este cantinho e recordar tantas coisas já quase esquecidas:-))como por ex. "A Cascata" com a água a deslizar sobre as conchas, etc. etc.
Lojas de tecidos havia também ainda outra, a "Loja do sr. Coelho".
Esta situava-se (ou ainda lá está?:-()no lado esquerdo da rua(subindo), depois da papelaria do sr. Duarte(já falecido)e do lugar das frutas do sr.....?
Mas uma coisa ainda ninguém aqui mencionou. A sede do Benfica na Cláudio Nunes. Ali se faziam bailaricos, comicios etc.
É pena nao haver fotos desses sinais do tempo que existiam nas "nossas" ruas :-))

Alexa disse...

João, Júlio, Dulce e Cecília: tantas recordações e tão pouco tempo para as percorrer a todos em posts aqui no "Retalhos de Bem-Fica"!...
Vou tentando colocar muitas dessas memórias de outros tempos através das fotos que descubro no Arquivo Municipal de Fotografia de Lisboa ou que os leitores me enviam.

Como este post já data de dia 06/12/09 e, daqui a pouco, vai desaparecer para folhas mais antigas, deixo-vos aqui uma sugestão: porque não colocarem todas estas questões e memórias na "Caixa de Recados" azul, que se encontra do lado direito deste blog?
Assim permanecerão sempre na folha principal do blog e mais leitores poderão responder e trazar novas memórias, conhecimentos, etc.

Um abraço e bom fim-de-semana

João disse...

Dulce (11 de Dezembro de 2009 13:52)

"Mas uma coisa ainda ninguém aqui mencionou. A sede do Benfica na Cláudio Nunes. Ali se faziam bailaricos, comicios etc."

Dulce, não era a sede do Benfica (SLB). Essa era na Av. Gomes Pereira. Era a sede do Clube Futebol Benfica, o popular FóFó. Subiam-se umas escadas de pedra para lá entrar.

Para além dos bailaricos e das chamadas "sessões de esclarecimento", decorrentes do 25 de Abril, lembro-me de lá ter visto a exibição "artística" de um argentino que era campeão mundial de bilhar às três tabelas. Mas também existiam outras sessões, de jogo, mais ou menos ilegais, escondidas q.b. ;-) Sessões essas que, ao fim e ao cabo, eram típicas de todos os pobres clubes de bairro de Lisboa...

J A disse...

Já agora alguém se recorda do nome do Sr. de cabelos brancos e, bigode bem tratado, que era dono da Papelaria (ao lado da Farmácia)lá para 1970 ????

Alexa disse...

Caros Leitores:

A partir de amanhã e até 3ª feira este blog vai ficar sem aprovação dos vossos comentários, uma vez que, como estarei ausente numa reunião, não poderei fazer a moderação dos mesmos.

Nesse sentido, e de modo a que esta importante troca de memórias possa continuar a ter lugar, como já vos tinha sugerido, colocaquem pff. todas estas questões e memórias na "Caixa de Recados" azul, que se encontra do lado direito deste blog.
Assim permanecerão sempre na folha principal do blog e mais leitores poderão responder e trazar novas memórias, conhecimentos, etc.

Um abraço e bom fim-de-semana

Vitor Filipe disse...

Alexandra,

Imagine que a minha morada em Benfica era precisamente por cima da drogaria do Sr. Fernando.

Estrada de Benfica, 692 -1º esq.

Cumprimentos.

Vitor Filipe

Alexa disse...

Vítor: que coincidência feliz essa!
Então seguramente que conhece muito bem esta maravilha de loja que tem tudo o que o freguês procura :)

Unknown disse...

FERNANDO AMIGO DE BENFICA E DO C.F.BENFICA, MARCOU UMA GERAÇÃO EM BENFICA, E CONTINUA COM A SUA DROGARIA UMA RECORDAÇÃO DO PASSADO DE BENFICA.

Anónimo disse...

Boa noite!

Julio Amorim disse...
"Já agora alguém se recorda do nome do Sr. de cabelos brancos e, bigode bem tratado, que era dono da Papelaria (ao lado da Farmácia)lá para 1970 ????"

11 de Dezembro de 2009 18:42

Dado que só agora me deparei com este blogue sobre a localidade onde nasci e me fiz homem e porque creio que ainda ninguém respondeu à questão deixada pelo Júlio Amorim em Dezembro de 2009, venho informar que o nome do senhor da tabacaria que existia na Rua Cláudio Nunes ao pé da farmácia Lisboa, era Mário.

Mais tarde, essa tabacaria e papelaria teve um proprietário que viveu muitos anos no Brasil e que só regressou a Portugal após o 25 de Abril, de seu nome Alexandre. A loja passou então a ostentar a designação de "Novidades Alex”. O Sr. Alexandre era uma jóia de pessoa assim como a sua esposa, Dª Laura e a filha, Sara, que se formou em enfermagem. Gostava imenso de falar com ele sobre os mais variados assuntos e chegava a estar horas à conversa com ele.

Por sinal, nasci e vivi na Rua Cláudio Nunes, num challet que existiu junto às escadinhas que ligam a Cláudio Nunes à actual Rua dos Arneiros e que foi demolido em 1960. Daí para cá e até me casar em 1984 e vir morar para o concelho de Oeiras, vivi num prédio da Cláudio Nunes onde ainda hoje mora a minha Mãe pelo que continuo a ir muitas vezes lá.

Quanto à cervejaria “Cascata”, o seu proprietário na década de 60 era o Sr. Manuel Xavier (já falecido) e onde eu ia aos Domingos à tarde ver televisão com a minha Mãe e o meu irmão mais novo. Lembro-me claramente de ver o “Capitão Scarlet”, os ”Thunderbirds”, o “Passatempo Infantil” com a Maria João, o Júlio Isidro e o Dói-Dói, etc…

Relativamente à “chafarica” do Sr. Fernando, ainda hoje existe e ele, felizmente, ainda está por lá. Era - e creio que assim continua - uma loja muito pequena, dividida em duas partes pela escada do prédio, com uma parte de taberna e outra de mercearia mas onde podíamos encontrar desde a agulha ao comprimido para as dores de cabeça. Era o protótipo em miniatura daquilo que hoje em dia se designa de hipermercado, tinha de tudo!

Algumas das lojas da Cláudio Nunes que existiam ao tempo e que ainda vão sobrevivendo à modernidade são:

- a leiteiria que se situa já perto do topo da rua e que era do Sr. Francisco, mais tarde gerida pelo Alberto e que agora tem outra gerência e onde vou, às vezes, beber o café quando vou a casa da minha Mãe.

- o restaurante em frente ao talho que, quando eu era miúdo, era uma taberna enorme com carvoaria ao lado e que mais tarde passou a ser um salão de jogos.

- a loja dos abat-jours da família Meireles (ainda me lembro do filho mais velho, o Fernando Meireles correr no rali TAP de 1974 com um Datsun 1200)

- a casa das taças

- o lugar da fruta quase ao início da rua que era, e creio que ainda é do Sr. Artur.

- a papelaria “Joaninha” do Sr. Duarte, junto ao lugar do Sr. Artur.

- as “Modas Coelho”

- a cervejaria “Prego d’Ouro”

Lojas que, entretanto, fecharam:

- a drogaria do Sr. Alberto (já falecido)

- a farmácia Lisboa.

- a papelaria

- o talho grande (não era o da carne de cavalo, esse ainda hoje existe e com um leque de carnes mais alargado) ao início da Cláudio Nunes que, após encerrar, se transformou no restaurante “A Tradicional” dos Srs. Guilherme e Manuel e cuja origem foi a “casa de pasto” que existia ao lado do talho e que se chamava “A tradicional da volta” mas que era mais conhecida pela “À volta cá te espero”.

- e finalmente, a papelaria da Dª Milú (creio que já falecida e que era esposa do Sr. Gaspar do Girasol de Benfica) que, entretanto também já mudou de actividade.

A minha missiva já vai longa pelo que, para já, fico por aqui.

Cumprimentos,
VM