(por Alexandra Carvalho)

Nos tempos áureos da
fotografia analógica, ter o rosto impresso em formato A5 papel brilhante no escaparate promocional da varanda do 1º andar esquerdo do Nº 6 da Rua Cláudio Nunes, era , sem dúvida alguma, o supra sumo da vida de qualquer criança nascida na década de 70.
Nesse andar funcionava (e penso que ainda funciona, mas com menos frequência) a
"Foto - Águia de Ouro", uma verdadeira "instituição" na freguesia de Benfica, onde todas as crianças eram religiosamente levadas, em particular, pelos seus avós, para tirarem aquelas fotografias da praxe na época dos baptizados, aniversários, comunhões solenes, crismas e outros eventos que tais.
Recordo-me que, na minha família, essa tradição de perpetuar em formato papel as nossas memórias chegou ao cúmulo de, todos os anos, por altura do meu aniversário e do meu irmão, termos que visitar a
"Foto - Águia de Ouro", para irmos
"tirar o retrato".
A tradição, neste contexto específico, assumiu, assim, durante anos a fio, o travo de uma agonizante e amarga experiência, uma vez que nenhum dos dois gostava de ser fotografado... Em especial quando nos pediam, insistentemente, para que colocássemos a cabeça nesta ou naquela posição, e esboçássemos o sorriso idealmente perfeito (de acordo com os parâmetros da senhora de meia idade, cabelo alvo e sorriso extremo, que nos fazia permanecer minutos a fio estáticos em frente ao
enorme chapéu-de-chuva prateado de onde saía o flash que nos encandeava os olhos).

Depois tínhamos que aguardar uma semana inteira para que saíssem as provas das fotografias, correndo o risco de termos que repetir semelhante experiência, caso tivéssemos ficado a "fazer boquinhas", como a tal senhora costumava dizer, ou o sorriso não estivesse em condições... e a fotografia não pudesse, dessa forma, ser exposta na varanda da loja, a todos os vizinhos e transeuntes que por ali passassem.
Resta dizer que, apesar de, actualmente, considerar que esta tradição familiar foi bastante interessante como conceito (já que, ao fim de um certo tempo, dava para irmos verificando as nossas transformações físicas, através de todos os retratos tirados), o facto é que a ela e à "Foto - Águia de Ouro" se ficou a dever o meu completo desagrado em ser, hoje em dia, fotografada.
Apesar disso, relembro com muito carinho a atenção e interesse que já nessa altura sentia por toda a parafernália de equipamento técnico que a arte da Fotografia envolvia: de entre os quais destaco os infindáveis fundos matizados, que se escondiam por detrás de um exímio sistema de estore articulado, que a senhora manejava sempre com enorme perícia, perante o nosso olhar incrédulo.
Esta tarde, quando passei em frente à varanda do 1º andar da
"Foto - Águia de Ouro", ao ver aquelas 8 fotografias de crianças, desvanecidas pelo sol, senti uma réstia de saudade por esses outros tempos, pela sensação de ansiedade com que ficávamos a aguardar, durante quase uma semana, pela visualização de uma simples fotografia.