(por José Antunes Ribeiro)
Um dia, no Verão passado, eu estava parado à entrada da porta da livraria.
Em frente vejo um homem a olhar durante longo tempo na direcção da loja. Na casa dos sessenta, preto. Esteve assim mais de trinta minutos. Depois ganhou coragem e atravessou a Avenida. Entrou, disse boa tarde, e perguntou: - "Aqui era a Ulmeiro?"- "Sim, era".
O homem estava visivelmente comovido. Pediu para dar uma volta e desceu à cave. Quando reapareceu, voltou a falar: - "A Ulmeiro foi uma bênção para os estudantes africanos... Uma bênção que nunca mais posso esquecer..."
É verdade. A Ulmeiro foi a livraria dos estudantes africanos logo desde o seu início em finais de 1969.
Deveria falar aqui de alguns amigos desses tempos. Recordo-os a todos com muita saudade.
O Manuel Faustino, a Helena Lopes da Silva, o Luis Bernardo Honwana, autor desse extraordinário livro de contos, "Nós matámos o cão tinhoso" e tantos, tantos outros... Entre os clientes terei de recordar essa grande figura de intelectual e político africano, Mário Pinto de Andrade, que uma vez me disse:- "comprei aqui um romance colonial de que só conhecia dois exemplares"... Creio que este foi o terceiro livro que escapou da destruição!!!
Fiquei contente, claro. Ainda por cima este livro ficou nas mãos de uma pessoa que muito admirava...
(JAR)
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