sábado, 11 de abril de 2009

O Oratório passa de casa em casa









Em criança, ficava sempre extasiada quando aquela caixinha de madeira chegava a casa dos meus avós.

Vinha fechada e era entregue pelas mãos de alguma vizinha, normalmente, à noite.
Na minha imaginação infantil, aquela pequena casa de madeira, tratava-se de um misterioso estojo, que guardava segredos aos quais apenas alguns tinham acesso.
Daí o zelo com que acompanhava sempre a cerimónia de abertura daquela caixa, realizada em simultâneo com o rito de alumiar uma candeia de azeite, que se colocava à frente dela.

E a pequena caixa de madeira, com as figuras da Sagrada Família no seu interior, ali permanecia em casa dos meus avós até à noite seguinte, quando, consultando a listagem nas costas da mesma, a iam entregar à vizinha seguinte.

O culto da Sagrada Família não é apanágio da freguesia de Benfica, uma vez que se desenvolve em inúmeras outras paróquias de Lisboa e de outras cidades.

No entanto, para mim que tive uma educação católica (apesar de não ser "praticante" e acreditar em Tudo um pouco à minha maneira especial), muito mais do que um culto, a passagem do Oratório da Sagrada Família de casa em casa, afigura-se-me muito mais como uma forma de perpetuar certos ritos de solidariedade entre a vizinhança... o que, na freguesia de Benfica, onde cada rua parece ter a sua vivência muito peculiar, transforma, de facto, esta pequena caixa de madeira numa misteriosa caixa de segredos e partilhas, como o que eu, em criança, acreditava ser o seu significado.








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