domingo, 28 de novembro de 2010

Tabernas, Tascas e Casas de Pasto na Freguesia de Benfica (3)




Todos os direitos reservados @ Fausto Castelhano, "Retalhos de Bem-Fica" (2010)




Ler aqui o Capítulo 1 e aqui o Capítulo 2.




(Capítulo 3)

Por Fausto Castelhano



Vai um copo? Branco ou tinto?
(Foto Wikipédia)



Basta de descanso… Seguimos em frente: a “Foto Águia d’Ouro”; a “Farmácia União” do saudoso e grande amigo Manoel de Almeida e Sousa (alentejano de Elvas e atleta de alta competição na modalidade olímpica de Luta Greco-romana) e da esposa D. Belmira, cordiais e sempre atenciosos no avio aos clientes; o relojoeiro na esquina da Travessa da Cruz da Era e, no gaveto do outro lado desta estreita ruela, a bem fornecida “Mercearia Fontan” e as apreciadas “Modas Fontan”, do Sr. Florêncio Fontan. Um dos empregados das “Modas Fontan”, o Sr. Joaquim abriu, por conta própria e alguns anos depois de inaugurada a novel Rua da República da Bolívia (antiga Estrada do Poço do Chão), uma loja de utilidades domésticas e da qual me tornei cliente: o “Quimbeta”.



O úbere intumescido e as quatro tetas granjolas da vaquinha leiteira.
(Foto Wikipédia)




A seguir às “Lojas Fontan” e com o nº 622, as “Ferragens de Benfica” que, em conformidade com a tradição oral, foi afamada leitaria e onde, o leite morninho e genuíno esguichava, directamente, das tetas da vaquinha alojada no interior do estabelecimento… Mungir vaca, uma verdadeira e superior arte ancestral que se perde na noite dos tempos e, para a qual, é requerida predicados especiais: jeitaço a rodos, pulsos flexíveis, mãos macias, gadachos ágeis e ginasticados que saibam acariciar o intumescido úbere do pacífico ruminante no intuito de o acalmar… E pronto, terminados os preliminares, um mamilo graúdo em cada mão e… é só premir com mestria… O suco lácteo produzido nas glândulas mamárias dos animaizinhos, saí de jacto, a uma temperatura de “pronto a beber”! Esgotadas as duas primeiras, o artista agarra-se às duas tetas restantes até o delicado trabalhinho findar…
Pessoalmente, nunca tive habilidade no desempenho da artesanal função, mesmo com a boa vontade de ensinamento de dois exímios executantes da vacaria na quinta onde nasci e vivi: o ti’Conde e o Francisco… Em compensação e p’ra “abrir a pestana”, volta e meia, era contemplado com um profuso esguicho de suco leitoso em plena fuça… Que coisa deliciosa!
Ademais, a Freguesia de Benfica, terra essencialmente rural, no tocante a quintas, vacas e vacarias, levava a palma às freguesias limítrofes: uma farturaça… A ordenha mecânica, modernice dos novos tempos, deu cabo do pitoresco cenário que, hoje por hoje, raramente se consegue observar, a não ser em algum lugar recôndito do Portugal profundo onde se mantêm hábitos de outrora…



O Externato Álvares Cabral na Estrada de Benfica, nº 628. Aqui, era o “Vale do Rio” da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca com as suas três magníficas entradas. Hoje, apenas a porta central funciona como tal. (Foto de Fausto Castelhano - Setembro de 2010)



Encravada entre as “Ferragens de Benfica” e a “Drogaria Jardim”, propriedade do Sr. Jardim, o “Coxelas”, como à chucha calada o designávamos por mancar d’uma perna, e correspondendo aos números de polícia 624, 626 e 628, um aprimorado estabelecimento de categoria ímpar: o “Vale do Rio” da acreditada Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca (3) e onde, em determinada época da nossa sociedade, marcou pontos no país como a maior rede de venda ao público de géneros alimentícios.



O gaveto da Estrada de Benfica com a Travessa do Vintém das Escolas. No gaveto, a antiga “Drogaria Jardim” (hoje, uma loja de electrodomésticos) e, logo a seguir, na Estrada de Benfica, o “Vale do Rio” da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca onde, hoje, funciona o Externato Álvares Cabral.
(Foto de Fausto Castelhano -Setembro de 2010)




A arquitectura e a decoração obedeciam a critérios muito particulares e onde o mármore tinha lugar de primazia. Apesar de não se encaixar no tipo de lojas que, pouco a pouco, temos vindo a redescobrir, o “Vale do Rio” merece uma citação especial: local bem afreguesado e onde o vinhão de excelentes e variadas castas pedia meças ao mais pintado… É célebre a frase do Sr. Abel Pereira da Fonseca ao dizer para quem o queria ouvir: "Da uva também se faz vinho!"
Estas lojas comercializavam vinho a granel e engarrafado (ao tempo, uma novidade! Quem não se recorda do famoso Vinho Sanguinhal em garrafa ou garrafão?), bebidas brancas, finas e espirituosas. Ao balcão, aviava vinhaça a copo agregando, facilmente, uma fiel e constante clientela apreciadora do néctar divino…
Presentemente, o local está ocupado pelo “Externato Álvares Cabral” que utiliza, também, os andares superiores do prédio… Apenas uma única entrada permite o acesso à instituição: nº 628. As duas antigas entradas laterais, foram alteradas e apresentam-se em forma de janelões. Não obstante, a fachada do prédio afigura-se muito bela e merece o nosso inteiro aplauso… Em frente, a capelista do Sr. Capelo e da D. Nazaré: a “Papelaria Popular” que, ainda hoje, consegue preservar a sua loja com a mesma fisionomia, tal como a conhecíamos, cinquenta anos atrás…



A taberna do Sr. João na Estrada de Benfica, nº 648C e no gaveto da Travessa dos Arneiros (hoje, Rua dos Arneiros). A entrada principal fazia-se pela Travessa dos Arneiros, nº 2.
(Foto de João H. Goulart - 1961 - Arquivo Municipal de Lisboa)




Passada que foi a Travessa do Vintém das Escolas e a “Farmácia Marques”, uns metros mais adiante, frente ao Chafariz Grande das Águas Livres e no gaveto da Rua dos Arneiros, 2 (antiga Travessa dos Arneiros), damos de chapa, na Estrada de Benfica, nº 648C, com a taberna do Sr. João que, cumulativamente, se dedicava à distribuição de pão, porta a porta alancando, nos costados, com o enorme e tão familiar cabaz de verga… O filho do Sr. João, o Cruzeiro, era um rapazola sossegado da nossa total confiança e que, esporadicamente, acompanhava o nosso grupo de amigalhaços…



O prédio da taverna do Sr. João (hoje, o Restaurante “O Chafariz”) na esquina da Estrada de Benfica com a Rua dos Arneiros (Antiga Travessa dos Arneiros) e frente ao Chafariz Grande das Águas Livres. A janela ao lado da porta da taberna do Sr. João, na Estrada de Benfica, nº 648C, dava para a sala dos matraquilhos. Daqui, da coluna do lado direito que enquadra o Chafariz distavam, em tempos que já lá vão, 8 Km até aos antigos limites da cidade de Lisboa, isto é, S. Sebastião da Pedreira.
(Foto cedida pelo Sr. João Paulo Fontan - 7 de Maio de 1950)



Óptimo local de convívio, salientavam-se os bons vinhos, os petiscos requintados, a gentileza do Sr. João e onde os jogos de matraquilhos nos seduziam, sobremaneira, e desafiavam para umas partidinhas animadas. A pequenina sala, cuja janela comunicava com a Estrada de Benfica e fora especialmente reservada ao popular e desafiador divertimento oferecia-nos, como insuperável pano de fundo, o Chafariz Grande das Águas Livres e o marco quilométrico, indicativo da distância precisa, entre aquele local e os antigos limites da Cidade de Lisboa em S. Sebastião da Pedreira…
Actualmente, o prédio foi restaurado e apresenta-se com um óptimo visual não obstante, a antiga taberna do Sr. João, transmudou-se no Restaurante “O Chafariz”.



O restaurante “O Chafariz” no prédio no gaveto da Estrada de Benfica, 648C, com a Rua dos Arneiros, nº 2. (antiga Travessa dos Arneiros) e frente ao Chafariz Grande das Águas Livres. Aqui, era a Taberna do Sr. João.
(Foto de Fausto Castelhano – Setembro de 2010)



Atravessamos a Rua dos Arneiros (antiga Travessa dos Arneiros). No lado contrário da Estrada de Benfica, o edifício do antigo “Patronato Paroquial da Freguesia de Benfica” (onde o Padre Álvaro Proença instalou o “Teleclube” no início das emissões televisivas), a que se seguia o muro de protecção deste meritório complexo assistencial até ao gaveto no qual, existia a entrada para o recinto de jogos do Clube Futebol Benfica: o “Campo Francisco Lázaro(4) onde, no seu interior e integrando as instalações desportivas do clube, lá estava o “Ringue Fernando Adrião”, palco de tantas e gloriosas jornadas das esplêndidas equipas de Hóquei em Patins do Clube Futebol Benfica no confronto com as melhores do país…



O café “O Girassol de Benfica”do Sr. Gaspar, o “Seboso”, no prédio de gaveto da Rua Cláudio Nunes com a Estrada de Benfica, nº 654A. Ao fundo e encostado ao adro nascente da Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, o “Mariju, o café esquecido” e a sua esplanada.
(Foto de Artur Inácio Bastos - 1961 - Arquivo Municipal de Lisboa)



Passamos junto à cervejaria “Estrela Brilhante” e, andados meia dúzia de passos, chegamos à embocadura da Rua Cláudio Nunes…
No gaveto do lado esquerdo, nº 654A, o pequeno Café “Girassol de Benfica” do Sr. Gaspar… Este conhecido comerciante, já está a “fazer tijolo” há largos anos e, a exígua loja, também mudou de ramo: frutas, vinhos e bebidas finas, queijos e produtos de charcutaria, etc.
No espaço que medeia entre o Café “Girassol de Benfica” e o adro nascente da Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica, lá está o celebérrimo “Marijú”, o tal “Café Esquecido” que nos deixou inúmeras e gratas recordações… O “salão dos bilhares”, os solícitos empregados de trato amigável, a convivência alegre e descontraída com a roda de amigos e conhecidos, o Sr. Manuel Madureira, o proprietário do Café “Marijú” e do Café/pastelaria “Paraíso de Benfica”, um cidadão de classe invulgar…



O Centro Policlínico de Benfica no prédio de gaveto da Rua Cláudio Nunes com a Estrada de Benfica, nº 652. No 1º andar, o Centro Policlínico de Benfica (já não existe e o seu espaço destina-se, agora, à habitação). Em segundo plano, os toldos da Cervejaria “Estrela Brilhante”. À esquerda, o pequeno café “O Girassol de Benfica” e a respectiva esplanada.
(Foto de Artur Inácio Bastos - 1961 - Arquivo Municipal de Lisboa)



Local estratégico por excelência e formidável posto de observação, centrado no núcleo histórico da Freguesia de Benfica, aglutinava a nossa ilimitada afeição! Enquanto se saboreava a “bica” ou a “imperial”, actualizava-se as últimas novidades, ou à pala de alguma laracha se desopilava o fígado, à frente do nariz e sob o nosso ângulo de visão que abrangia um raio de 180º, abarcava-se o incessante movimento da população na azáfama do dia-a-dia…



Lá está o “Café Marijú”, o Café esquecido” e a sua estratégica esplanada na Estrada de Benfica, 662.
(Foto de Artur Inácio Bastos - 1961- Arquivo Municipal de Lisboa)




Entre o “Marijú” com o nº 662 e “O Girassol de Benfica”, a paragem dos carros eléctricos (Carris) da Carreira nº1 vindos dos Restauradores e onde, ao longo do percurso de uma dezena de quilómetros, arrebanhava todos quantos de dirigiam a Benfica. Pacientes, mas de olho vivo, aguentávamos pelas namoradas e apreciávamos as moças que, por ali, circulavam lançando, sempre que a oportunidade se nos deparava, os piropos adequados a cada situação… De resto, bonitas ou menos belas, todas eram contempladas dentro do maior respeito e civismo… Afinal, éramos gente de bem!
Era como se estivéssemos sentados na plateia de uma qualquer sala de cinema assistindo, ao vivo, ao desenrolar de uma espantosa fita cinematográfica e onde os incontáveis actores iam desfilando constantemente…
Olhava-se e era um inolvidável espectáculo! Sentia-se o pulsar intenso da comunidade: o próspero e diversificado comércio local; o “Campo Francisco Lázaro” e as grandes jogatanas das magníficas equipas de Futebol e de Hóquei em Campo do clube da Freguesia de Benfica; à noite, o “Ringue Fernando Adrião” iluminava-se e os disputadíssimos jogos de Hóquei em Patins com as melhores equipas da modalidade empolgavam os espectadores e entusiastas da modalidade…



O antigo edifício do “Marijú, o Café esquecido” na Estrada de Benfica, 662. À esquerda do prédio, está localizado o adro nascente da Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica.
(Foto de Arnaldo Madureira - 1962 - Arquivo Municipal de Lisboa)




À beirinha do Verão e logo que terminavam os Campeonatos Oficiais de Futebol e se entrava no “defeso”, os intermináveis e bem disputados torneios dos “Clubes Populares de Futebol” onde pontificavam, entre outras, o Sport Lisboa e Águias (do Bairro da Boa Vista) e a sua entusiástica claque feminina, os Corvos (da Cruz da Pedra) e o Real Atlético de Benfica… Como atractivo suplementar de jovens e graúdos, a pista dos “carrinhos de choque” montada no interior e após a entrada nas instalações do Clube Futebol Benfica…
A Igreja de Nossa Senhora do Amparo de Benfica e a enorme afluência de crentes ao Santo Ofício da Missa; as novenas, à tardinha, no “Mês de Maria” (Maio) e a espera pelas “conversadas” e, nas datas estabelecidas no calendário litúrgico, as procissões na rua e o aparato inerente ao evento: andores, as várias Irmandades e a inocente criançada enfarpelada de anjinhos; o pároco sob o pálio, os dedicados acólitos e… povo aos magotes! Imprescindível e sempre afinadinha, a banda de música contratada com a necessária antecedência…



“Campo Francisco Lázaro”. A cabeceira poente do campo de jogos de Futebol e Hóquei em Campo, após a entrada no complexo desportivo do Clube Futebol Benfica. À direita, o ringue de Hóquei em Patins “Fernando Adrião”. Ao fundo, as cabinas (Jogadores e Árbitos), roupeiros, posto médico de primeiros socorros. Nas traseiras das cabinas, corria o Rio (Ribeira de Alcântara). Na margem direita do Rio, as instalações da “Metalúrgica do Bemfica”.
(Foto de Artur Goulart - 1960 - Arquivo Municipal de Lisboa)




A Escola Primária, o Infantário e, mais tarde, o Teleclube aglutinados no edifício do Patronato Paroquial da Freguesia de Benfica (notável iniciativa do Padre Álvaro Proença e de alguns paroquianos amigos); os espaços de convívio nos cafés “Paraíso de Benfica”, “Adega dos Ossos” e nos “tascos” e “casas de pasto” das redondezas; o concorrido “Mercado de levante” na Avenida Grão Vasco abastecido pelas saborosas frutas e os melhores produtos hortícolas das quintas e quintarolas da região não olvidando, está claro, o peixe fresquíssimo e a saltar do “nosso mar”…



O simpático e bem frequentado “Bar da Mata de Benfica” junto ao lago.
(Foto de Vasco Gouveia de Figueiredo - Arquivo Municipal de Lisboa)




No pino do Estio, a “Piscina dos pobres” no Chafariz Grande das Águas Livres e a alegria desbragada da pequenada que atingia o ponto alto na apetecida banhoca, em cuecas ou em pelota; os operários da “Metalúrgica de Bemfica”, na Estrada das Garridas, à beira do Rio, na margem direita; as centenas de empregados da “Fábrica Simões", na Avenida Gomes Pereira e as senhoras e meninas dos “Laboratórios ATRAL”, um pouco lá mais acima na mesma avenida; o expedidor da Carris onde os carros eléctricos da Carreira nº1 retornavam pela Rua Emília das Neves e Avenida Grão Vasco, tomando o caminho da Baixa lisboeta…



A Paula Maria e a Maria Helena no agradável Parque Silva Porto.
(Foto de Fausto Castelhano - Setembro de 1969)




O cinema na sede do Sport Lisboa e Benfica: no salão ou no ringue de patinagem (apenas no Verão) e onde, nos dias de hoje, funciona a Junta de Freguesia de Benfica, isto é, na Avenida Gomes Pereira; o admirável “Parque Silva Porto(5), a “Mata de Benfica”, à época, um óptimo e seguro lugar de namoricos e de estudo e que, ao mesmo tempo que apreciávamos o chilreio da passarada, nos convidava a desfrutar da exuberante vegetação e do frondoso arvoredo; o Parque Infantil apetrechado de escorregas e baloiços; o Parque de Merendas onde muitos dos nossos conterrâneos, aproveitando folganças ou os merecidos fins-de-semana, munindo-se de fartos e apetitosos farnéis previamente confeccionados, almoçavam ao ar livre sob a copa das árvores…
O simpático e bem frequentado “Bar da Mata” junto ao lago e onde os peixes vermelhos vinham à tona d’água e abocavam as migalhas de pão que, os muitos visitantes do Parque Silva Porto, lhes atiravam porém, o que mais sobressaía no sedutor ambiente era, efectivamente, o garboso casal de cisnes que, vogando suavemente no espelho de água fazia as delícias de crianças e adultos…
Nos últimos anos da década de 50 do século XX, tem início o desmantelamento das “Quinta da Casquilha” e da “Quinta das Garridas”: arrancava a construção do Bairro de Santa Cruz (6) e do novo complexo desportivo do Clube Futebol Benfica… A Escola Primária junto ao “portão de cima da Mata”, não demorou muito e a inauguração teria lugar em 1962 com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa de então, França Borges e d’outras individualidades do Regime de então…



Inauguração da Escola do Bairro de Santa Cruz (“Escola da Mata”) pelo Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, França Borges e outras individualidades do Regime de então.
(Foto de Armando Serôdio – 1962 - Arquivo Municipal de Lisboa)




O Colégio “Instituto Lusitano” estava em pleno funcionamento, seja na Avenida Grão Vasco, nº56 (masculino), junto ao portão de entrada do “Parque Silva Porto”, seja na Estrada de Benfica, nº765 (feminino)… Frequentado pelos meninos e meninas das famílias mais abastadas da freguesia evitavam, tanto quanto possível (isto era assim mesmo, nem vale a pena doirar a pílula), qualquer misturada com as crianças pobres da urbe: “O maravilhoso Instituto Lusitano. Colégio para ambos os sexos, mas em sedes separadas. Uma bela descrição das instalações. Tudo no Palácio Feiteira e Palacete Peyssoneau. Frescas hortaliças e leite puro das vacas do estábulo”) - tal como era propagandeado no anúncio do Almanaque Alentejano!



A Maria Helena e a Paula Maria junto à Escola Primária do Bairro de Santa Cruz (que frequentaram) encaixada entre o Parque Silva Porto (e junto ao portão de cima) e as moradias do Bairro de Santa Cruz.
(Foto de Fausto Castelhano - Fevereiro de 1973)




A Escola Primária “António Maria dos Santos”, paredes-meias com o expedidor da Carris; a Escola Primária nº47 (já desaparecida), frequentada só por meninos e onde leccionavam quatro competentes professoras mas… bravíssimas: D. Tomásia, D. Isaura, D. Maria Mateus e D. Maria do Céu… A disciplina rígida era ponto assente e fazia mossa, à base de ponteiradas e reguadas de ferver… A escola estava situada na Estrada de Benfica, vizinha do “Quartel dos Bombeiros Sapadores de Lisboa” e nas traseiras da “Cozinha dos Pobres” (vulgarmente apodada de “Sopa do Barroso” ou “Sopa do Sidónio”) da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; a “Escola do Magistério Primário”, onde se formavam os futuros professores do Ensino Primário e, na mesma área geográfica, as Escolas de Instrução Primária de meninos e meninas: a “Escola Normal” como era mais conhecida…
Melhor que a esplanada do “Marijú”, como se fora altaneira torre de vigia, só a esplanada do café “Girassol de Benfica” pela sua soberba localização… Raramente nos sentámos ali porém, o Sr. Gaspar, a quem alcunhámos de “O Seboso”(assim permaneceu até aos dias de hoje), armou-nos uma encrenca das antigas na última vez que assentámos as nádegas nas cadeiras da sua esplanada… Enfim, outros contos…
Tempos inolvidáveis d’um fascinante mundo já antigo, mas que nos deixaram imperecíveis saudades…
Enquanto durou a nossa permanência naquele local tão apetecido do “Marijú” foi, sem dúvida, bestial… O capital de mútua confiança e cordialidade que fomos angariando junto do Sr. Madureira e do pessoal de serviço ao balcão, às mesas no interior do Café ou da esplanada, desmoronou-se, num ápice, no dia fatídico em que subiu à cena a tragédia do “Calminhas e do Joaozinho”! Aí, deitámos tudo a perder!
Depois, embezerrámos face ao imprudente sarilho desencadeado na “salão dos bilhares” do “Café Marijú” e fomos farejando outros rumos… A década de 50 do Século XX encerrava-se… O “Marijú” não aguentou a pedalada devido à concorrência do “Café Nilo” (com bilhares na cave) e tantos outros que abriram aqui e ali… Pouco tempo depois, trancava as portas de modo definitivo… O prédio foi demolido e, exactamente na mesma superfície, ergueram mais um mamarracho de traça incaracterística… O “Fica-Bem”, loja de roupas, está lá!
Por ora, ficaremos na esquina da Rua Cláudio Nunes a observar o movimento das pessoas que por aqui se vão movimentando, ora apressadas ou mais vagarosas contudo, absolutamente anónimas! Já não conheço ninguém!


(Continua…)



NOTAS:


(3)


Abel Pereira da Fonseca

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



A concretização de instituir uma linha quase directa entre a maior adega do país e a boca do bebedor, em Lisboa teve, como protagonista, um único intermediário: certo beirão da raia de Espanha que veio dos lados de Vilar Formoso para o Poço do Bispo e Bombarral, Abel Pereira da Fonseca, nome também legendário da vitivinicultura portuguesa de primeira metade deste século e que dispersou, por toda a capital, uma rede de 47 estabelecimentos de venda, por miúdo, de determinados géneros alimentícios entre os quais, e parece que em plano especial, vinho, inclusive a copo.


“Da uva também se faz vinho”: Abel Pereira da Fonseca
(Foto Wikipédia)



Estabelecimentos “Vale do Rio” - Praça Leandro da Silva, 1 a 7
com a Rua do Amorim 2 a 6 – Poço do Bispo – Freguesia de Marvila
(Foto Wikipédia)



Símbolo da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca
(Foto Wikipédia)



Abafado! Uma das especialidades da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca
(Foto Wikipédia)



Os Vinhos de Missa! Consumo garantido em alta escala.
(Foto Wikipédia)




Instalações da Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca junto à doca do Poço do Bispo.
(Foto Wikipédia)




Designados inicialmente pelo nome do fundador, depois adoptou a sigla Sociedade Comercial Abel Pereira da Fonseca e, finalmente, ficou registado pela denominação de "Vale do Rio".
Conquanto vendessem vinho a copo, estas lojas revestiam-se, no que concerne a arrumação da casa e todo o "cenário" interior, de ambiente inadequado a legítima taberna. Já que veio à baila o aspecto interno dos estabelecimentos, anote-se o facto da não alteração do respectivo símbolo ou marca iconográfica, aposta no exterior, ao longo das três sucessivas administrações: um barco à vela, uma alusão, segundo se consta, às fragatas ou bateiras transportadoras dos cascos de vinho provenientes de Rio Frio, através do rio das Enguias e estuário do Tejo.



Fernando Pessoa, freguês habitual dos estabelecimentos “Vale do Rio”.
(Foto Wikipédia)




(4)


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Uma homenagem ao grande atleta e maratonista Francisco Lázaro.
Francisco Lázaro nasceu em Benfica a 21 de Janeiro de 1891 e faleceu em Estocolmo, 15 de Julho de 1912. Foi um atleta que fez parte da primeira equipa olímpica portuguesa nos Jogos Olímpicos de 1912, em Estocolmo, Suécia, onde participou na prova da maratona. Lázaro desfaleceu durante a prova e veio a falecer poucas horas depois.



(5)


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Em 1880, João Carlos Ulrich mandou plantar um pequeno bosque para envolver o Palácio da Feiteira. Alguns anos depois, vendeu a propriedade a César Augusto de Figueiredo que se tinha disposto, em 1911, para oferecer o parque ao Município de Lisboa para que este fosse acessível a todos os cidadãos.
Foi baptizado em homenagem ao explorador António Francisco Ferreira da Silva que, mais tarde, adoptou o nome da sua cidade natal, a cidade do Porto.
O Quiosque do Parque Silva Porto foi construído em 1916, segundo um projecto (de 1913) do Arquitecto José Alexandre Soares; os painéis de azulejos que o ornamentam são Arte Nova e foram realizados por José António Jorge Pinto, pintor e um dos principais criadores do estilo Arte Nova. Os temas representados pelos painéis são: «Mal me quer», «Bem me quer», «Muito», «Pouco», «Nada», «O Bosque» e «A Caça».
Há em Lisboa mais três quiosques iguais: o Quiosque Municipal do Cais do Sodré, o Quiosque do Poço do Bispo e o Quiosque do Jardim Constantino.

Flora
O parque está coberto por 22 tipos diferentes de arbustos e árvores, proporcionando uma riqueza inesperada de espécies. As plantas predominantes são o cedro-do-buçaco, o eucalipto, o cipreste, o pinheiro-de-halepo, o pinheiro manso, o carvalho e o sobreiro.

Fauna
A fauna do parque é dominada pelas aves, sobretudo chamarizes, pintassilgos, melros. De realçar a presença de rolas, pouco comuns em zonas urbanas e, também, de esquilos.



(6)

Bairro de Santa Cruz

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O bairro começou por ser um bairro social, nos finais dos anos 1950. É constituído por moradias geminadas e em banda, todas de primeiro andar e com quintal à frente e atrás.
É composto por duas partes distintas: a Oeste, o chamado "Bairro de Baixo" e a Leste, o "Bairro de Cima", separados pelo Parque Silva Porto.









12 comentários:

domingos estanislau disse...

Aprecio imenso este trabalho. É um documento de uma valia histórica com um valor tamanho do Mundo, lamentavelmente, tenho de dizer isto, este bairro está descaracterizado. Poderá ser esta uma situação análoga a outros locais da cidade, mas Benfica ... foi um sitio de uma cultura bairristica formidável. A vivência era outra e isso deixa-me uma imensa saudade desses tempos. Havia valores neste Bairro, foi-se cultivando outra cultura e hoje este Bairro que me habituei a amar´é de facto uma caricatura do antigamente.
Parabéns a quem descreveu este documento de BENFICA antiga.

Anónimo disse...

Caro Fausto,

Os meus sinceros parabéns por mais este magnifico trabalho.

Como o curiosidade a Exmª Sra. D. Maria do Céu, foi minha prof. na Escola Normal, 3ª e 4ª classe.

Um abraço,

Vitor Filipe

Anónimo disse...

Mais uma vez excelente Sr. Fausto. Pelos vistos vai continuar e espero que fale sobre algumas "tascas" que se situavam acima da Igreja até às portas de Benfica. Eu, ainda conheci algumas.
Um abraço
Luís

Anónimo disse...

Parabéns!
Já agora, e como tem muito boas lembranças de outros tempos, podia comentar o outro comércio tradicional, ex. (barbearia do Sr. Virgílio), etc...
Cumprimentos

Fausto disse...

E a Barbearia do Sr. Neto onde, um dos barbeiros que ali fazia um biscate (era funcionário do Laboratório de Patologia Veterinária), era o Sr. Américo Estrelado, tio da minha primeira esposa, isto é, irmão do meu sogro que prestava serviço de electricista no mesmo Laboratório.
Mas, por ora, vamos terminar com as tascas e, depois, vamos ver...No entanto, há mais amigos com memórias espantosas sobre a nossa freguesia. Que venham a terreiro!
Um abraço
Fausto Castelhano

Fausto disse...

Ao amigo Victor Filipe

Se a memória não me falha, a sala de aula da Professora D. Maria do Céu era a 3ª a contar do páteo interior. Na prmeira sala era a D. Maria Mateus, depois a D. Tomásia, D. Maria do Céu e, por último, a D. Isaura.
A contínua, era a D. Ângela.
Bate certo ou não?

Um abraço de amizade

Fausto Castelhano

Anónimo disse...

Boa noite a todos

Eu frequentei a Escola do Magistério Primário (mais conhecida por Escola Normal), entre os anos lectivos de 1962/1963 e 1967/1968 já que fui um dos pioneiros da 5ª e 6ª classe.

A minha Professora desde a 2ª classe até à 6ª classe, foi a Dª Maria Augusta Pimenta que morava na Estrada de Benfica (creio que 630), no prédio que faz gaveto com a Travessa do Vintém das Escolas onde por baixo havia a merceria do "careca". Não sei se a Srª ainda é viva pois já não a vejo há muitos anos.

O conceituado Professor Siegfried Sugg, dava aulas de música às "alunas-mestras" que frequentavam o curso para professoras primárias e o Director da escola (não me recordo do nome), tinha um "cavalo-marinho" que era o terror dos alunos que se comportassem mal e que fossem chamados ao Director.

A Escola Normal tinha uma imensidão de terrenos à sua volta onde podíamos dar azo ás nossas brincadeiras.

Lembro-me das ruínas de uma antiga casa de pedra junto à lateral direita do edifício principal da escola a que chamávamos o "Poço das bruxas" pois na "cave" dessa casa havia um buraco cuja largura permitiria a passagem de uma pessoa na vertical e por onde atirávamos pedras que, ao cairem, levavam alguns segundos até baterem em água o que pressupunha que ali por baixo haveria um poço ou um lençol de água.

Enquanto lá andei, ninguem caiu ao poço mas que aquilo era um perigo público,lá isso era.

Por falar em poços, em 1968 uma criança que vivia numa casa muito pobre, existente ao cimo da Avenida Gomes Pereira, morreu afogada quando brincava com os irmãos numa casa desabitada que havia ao lado da sua casa e o chão de madeira cedeu caindo num poço que existia por debaixo da casa. Hoje esse local é a passagem da Rua Carolina Michaelis de vasconcelos para a Avenida Gomes Pereira.

Por falar em Avenida Gomes Pereira, mesmo ao cimo dessa Avenida, existia um retiro muito sui generis, de seu nome "Sozinhito" com uma esplanada cuja sombra era proporcionada por frondosas árvores que davam umas bagas roxas. Era lá que alguns colegas meus iam comprar os maços de tabaco "Kentuky", mais conhecidos por "mata-ratos".

Por hoje, fico por aqui.

Cumprimentos,
Vasco Morgado

Anónimo disse...

Boa noite a todos

Eu frequentei a Escola do Magistério Primário (mais conhecida por Escola Normal), entre os anos lectivos de 1962/1963 e 1967/1968 já que fui um dos pioneiros da 5ª e 6ª classe.

A minha Professora desde a 2ª classe até à 6ª classe, foi a Dª Maria Augusta Pimenta que morava na Estrada de Benfica (creio que 630), no prédio que faz gaveto com a Travessa do Vintém das Escolas onde por baixo havia a merceria do "careca". Não sei se a Srª ainda é viva pois já não a vejo há muitos anos.

O conceituado Professor Siegfried Sugg, dava aulas de música às "alunas-mestras" que frequentavam o curso para professoras primárias e o Director da escola (não me recordo do nome), tinha um "cavalo-marinho" que era o terror dos alunos que se comportassem mal e que fossem chamados ao Director.

A Escola Normal tinha uma imensidão de terrenos à sua volta onde podíamos dar azo ás nossas brincadeiras.

Lembro-me das ruínas de uma antiga casa de pedra junto à lateral direita do edifício principal da escola a que chamávamos o "Poço das bruxas" pois na "cave" dessa casa havia um buraco cuja largura permitiria a passagem de uma pessoa na vertical e por onde atirávamos pedras que, ao cairem, levavam alguns segundos até baterem em água o que pressupunha que ali por baixo haveria um poço ou um lençol de água.

Enquanto lá andei, ninguem caiu ao poço mas que aquilo era um perigo público,lá isso era.

Por falar em poços, em 1968 uma criança que vivia numa casa muito pobre, existente ao cimo da Avenida Gomes Pereira, morreu afogada quando brincava com os irmãos numa casa desabitada que havia ao lado da sua casa e o chão de madeira cedeu caindo num poço que existia por debaixo da casa. Hoje esse local é a passagem da Rua Carolina Michaelis de vasconcelos para a Avenida Gomes Pereira.

Por falar em Avenida Gomes Pereira, mesmo ao cimo dessa Avenida, existia um retiro muito sui generis, de seu nome "Sozinhito" com uma esplanada cuja sombra era proporcionada por frondosas árvores que davam umas bagas roxas. Era lá que alguns colegas meus iam comprar os maços de tabaco "Kentuky", mais conhecidos por "mata-ratos".

Por hoje, fico por aqui.

Cumprimentos,
Vasco Morgado

parakportugal disse...
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parakportugal disse...

O sr. Vitor Filipe, escreveu que foi aluno da profª Maria do Céu. Eu também fui aluno duma profª Maria do Céu Guerra, que morava no bairro de Santa Cruz, na Comandante Augusto Cardoso. Será a mesma? Ainda será viva, e morará na mesma vivenda?

Em relação às tascas, ainda não vi, referência a uma que havia na Rua Cláudio Nunes, do lado direito de quem sobe a rua, depois das "Escadinhas", e que era conhecida pela "taberna das portas verdes" entre outros nomes, onde hoje está um moderno restaurante, e que na porta a seguir, tinha a funcionar um mini-salão de jogos (hoje sala de refeições do restaurante atrás mencionado). Haverá fotos dessa taberna? Gostava de ver alguma, se a houver. Obrigado. J. Paulo Lucas

Anónimo disse...

A referência à famosa casa de pasto junto às escadinhas da Rua Cláudio Nunes encontra-se explanada no Capítulo IV sobre o mesmo tema. (Fausto Castelhano)

Anónimo disse...

A referência à famosa casa de pasto junto às escadinhas da Rua Cláudio Nunes encontra-se explanada no Capítulo IV sobre o mesmo tema. (Fausto Castelhano)