domingo, 15 de fevereiro de 2009

A Casa do "Americano"




05/03/08





Fotografia de Alexandra Carvalho (2008)




Era a casa do "americano", como diziam os meus avós.
E ainda hoje me lembro de um senhor de idade, olhos azuis translúcidos e uma pele muito alva, que, normalmente, se vestia sempre de cores muito claras.

A casa ficava encastrada entre os logradouros das traseiras da Rua Cláudio Nunes e uma quinta imensa a perder de vista, cujos portões de ferro se abriam na rua principal com "campaínhas"-flores roxas a adornarem-no.

Em criança passava horas a fio, à janela dos meus avós, a contemplar a "casa do americano", o seu jardim e o tanque repleto de água.

Até que durante um desses momentos de contemplação, deparo-me com a triste cena de um gato a tombar dentro do tanque, enquanto tentava saltar em voo rasante para apanhar um pardalito...
Já nessa altura, aos 5 anos, se fazia sentir a minha paixão por animais (em particular por gatos), pelo que o meu avô se viu obrigado a acompanhar-me para ir bater à porta da Dª. Ana (a esposa do "americano"), para que retirasse o pobre animal de dentro de água.
Em contrapartida, a paixão da Dª. Ana não eram propriamente os animais, mas viu-se constrangida a ir buscar uma pá com uma rede na ponta para aceder ao pedido da miúda que, zelosamente, a continuava a observar da janela do 1º andar em frente.

Alguns anos mais tarde, a Dª. Ana viria a falecer.
Os seus descendentes apenas se interessaram em dar continuidade à loja de pratas que o "americano" abrira na Rua Cláudio Nunes.
E a sua casa ali foi ficando, votada ao abandono e esquecimento.

Com o passar dos anos, a quinta dos portões de ferro desapareceu e, em substituição, nos seus terrenos foi construída uma longa fileira de prédios altos e modernos, criando uma rua a que viriam a dar o nome de Jorge Barradas.
E a "casa do americano", o jardim e o tanque ficaram ainda mais entrincheirados no esquecimento pelas grossas paredes das garagens daqueles prédios modernos.

Hoje em dia, quando vou a casa dos meus avós, não consigo resistir a abrir a janela da varanda da cozinha... para, mais uma vez, contemplar aquela que foi a casa do "americano"

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